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O Senso Crítico

Por:   •  24/2/2016  •  Artigo  •  4.170 Palavras (17 Páginas)  •  467 Visualizações

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O SENSO CRÍTICO

Por vivermos no mundo e fazermos parte dele inevitavelmente interferimos nele, somos capazes de dominar o mundo em que vivemos, de aperfeiçoá-lo e consertar as coisas erradas, para que todos possam viver num mundo mais humano e acolhedor.

Como homens dominamos o mundo, a natureza e os animais. Mas quanto aos outros homens é diferente. Nosso relacionamento com eles é de comunicação.

O modo pelo qual nós nos relacionamos com o mundo e com os outros homens que estão à nossa volta está sempre mudando. Os jovens pensam e agem diferente dos jovens de 50 anos atrás.

Os adultos também mudam. Não paramos no tempo. As experiências que tivemos no passado, não são esquecidas. São usadas para aprender a fazer melhor as coisas e criar coisas novas para nossas necessidades no momento e no futuro. Por isso, o mundo que Deus nos deu é inacabado.

Somos co-criadores com Ele, na medida em que participamos para construir um mundo cada vez mais perfeito, material e espiritualmente. Foi esse o sentido do seu mandamento ao criar o mundo:  "Crescei e multiplicai-o. Enchei a terra e dominai-a". (Gn 1,28).   Temos o compromisso de aperfeiçoar este mundo, não só para nossa geração, mas também para as pessoas que vierem depois de nós.

Como homens usamos soluções diferentes para o mesmo problema ou desafio. Descobrindo soluções diferentes (para um problema que enfrentamos no momento), nós as testamos para ver se funcionam e depois escolhemos a melhor solução. Neste sentido somos diferentes dos animais que seguindo seus instintos, continuarão até o fim do mundo dando as mesmas respostas aos mesmos problemas. O pássaro "João de Barro", por exemplo, nunca vai inventar um ninho que satisfaça melhor as suas necessidades, do que o ninho que vem construindo durante milhares de anos.

Como homens somos diferentes, buscamos soluções mais adaptadas ao lugar, ambiente, época, em que vivemos.  Somos capazes de criticar, e por isso, somos diferentes do "João de Barro". Recusamos fazer coisas, somente porque foram sempre feitas assim, no passado. Procuramos novas soluções e novas maneiras de fazer as coisas, para depois escolher a melhor.

A porção de tempo que vamos viver é pequena em comparação com a história de todas as pessoas que vivem nesta terra.   Todos os homens estão ligados através da história. Durante o tempo curto em que vivemos, usamos as experiências das pessoas que viveram antes de nós, modificamos as coisas no presente e planejamos para o futuro.

Não é só o mundo exterior que está inacabado e precisa ser aperfeiçoado. Existe também o mundo interior de cada um de nós, onde sentimos a necessidade de crescer e ser mais perfeitos.  A consciência que cada um de nós tem de ser um ente inacabado, é o que faz com que se vá alem das nossas atividades, superemos os obstáculos que apareçam e saiamos de nós, de uma atitude egoísta, para colocar nosso tijolo na construção de um mundo melhor e mais irmão. A mesma consciência faz com que procuremos também construir nosso mundo interior para que nos tornemos cada vez mais ricos como pessoas e menos egoístas.

O trabalho que fazemos não é uma mercadoria que se vende para receber um salário. É através do trabalho que somos criadores, que transformamos o mundo e participamos do mundo. É ainda pelo trabalho que entramos em contato com os outros homens, e nos realizamos como pessoas.  Por isso cada um de nós é um ser único que constrói o mundo junto com os outros homens, e desta maneira contribui para que eles também se realizem.

Cada um de nós é um ser de comunicação. Na medida em que aprendemos a nos comunicar com os outros, num nível cada vez mais profundo, nós nos tornamos mais homens.  Comunicamos não só através do nosso trabalho, mas também através de uma expressão artística. A música, a pintura, a poesia, a leitura, a recreação são também formas pelas quais nós nos comunicamos uns com os outros e com o mundo.

O homem, como nós vimos, interfere no mundo, transforma-o e humaniza-o. Mas para fazer isso precisa estar em contato com o mundo como ele é, e não um mundo imaginário. Estando em contato com o mundo real, o homem pensa e reflete sobre ele, para depois transforma-lo.  É impossível impedir o homem de pensar.

Para manter as coisas como são, para impedir que o homem queira mudar e melhorar as coisas, é necessário colocar uma máscara sobre a realidade.

Falsificando a realidade e apresentando um mundo irreal, um mundo onde tudo está bonito, através da propaganda, as pessoas conseguem também falsificar e alienar a capacidade do homem de pensar sobre como as coisas realmente são. Dá-se um colorido bonito à realidade que desumaniza as pessoas. Passamos então a viver através dos mitos e não da verdade, isso se chama alienação.

A partir destas premissas, podemos pela observação do comportamento humano estabelecer a influência do tipo de educação na formação do SENSO CRÍTICO.

Tanto a educação como a comunicação se apresentam como campos problemáticos e como objetos complexos, o que implica uma análise muito peculiar, principalmente se considerarmos que as duas se fundamentam em relação a conhecimentos em contínua interação social.1

Nesta tipologia, destacam-se dois sistemas distintos de educação:

1 - Educação para domesticação.

2 - Educação para a liberdade.

1 -  UMA EDUCAÇAO PARA DOMESTICAÇAO

Neste as pessoas que ensinam aos outros são aquelas que têm conhecimento, e os que aprendem são como "recipientes vazios" que devem ser preenchidos com aquilo que as que estão ensinando têm. Este método de educar os outros se chama "concepção bancária", porque é semelhante ao que acontece num banco, quando se transfere dinheiro de uma pessoa para outra. A pessoa que está ensinando a outra, simplesmente transfere as informações que estão na sua cabeça para a cabeça da outra, sem que a pessoa que está sendo o "recipiente" possa questionar ou refletir sobre elas.

Este sistema evita despertar o senso crítico por parte do aluno. O aluno não sabe nada. A função dele é anotar e aceitar tudo para depois dar para os outros. Ele aceita as coisas como lhe são apresentadas e nunca desconfia que certas afirmações ou explicações possam não ser verdadeiras.  Ele nunca vai procurar as verdadeiras causas das coisas erradas ao seu redor. Ele engole tudo.

A solução para todos os seus problemas é adaptar-se a uma realidade tal qual lhe é apresentada pela classe dominante que tem o poder e o dinheiro nas mãos.  Para uma tal ideologia de dominação, tudo o que é verdadeiro e bom para as elites (as pessoas que têm o poder e o dinheiro) é bom para o povo.  Não se deve questionar ou pensar. Deve-se aprender de memória, a fim de repetir textos que falam de um mundo imaginário. Assim, a pessoa fica alienada porque, enquanto fica num mundo de imaginação nunca vai descobrir as verdadeiras causas para resolver os problemas.

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