O TRABALHO DOCENTE E A PERSPECTIVA DA GERÊNCIA CIENTÍFICA
Por: dmcaldeira • 17/9/2018 • Artigo • 884 Palavras (4 Páginas) • 232 Visualizações
O TRABALHO DOCENTE E A PERSPECTIVA DA GERÊNCIA CIENTÍFICA
Profª Dra. Suelaynne Lima da Paz1
Com base na abordagem marxista, especialmente na relação dialética entre
homem e trabalho, em um movimento de autocriação da humanidade, busca-se
esclarecer qual o papel do trabalho na constituição do ser professor. Pressupõe-se que o
trabalho docente é atividade de criação do professor, em referência à sua dimensão de
constituição do homem, que, agindo “sobre a natureza externa e modificando-a por
meio desse movimento, (...) modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza” (MARX,
2013, p. 255).
É importante esclarecer que o trabalho humano é específico, pois difere do
trabalho instintivo de outros animais por envolver a projeção, pelo pensamento e de
forma consciente, do produto do trabalho. É nesse processo que vai se constituindo a
cultura humana, permeada pela capacidade do homem de transformar a natureza por
meio de uma “atividade proposital, orientada pela inteligência, (...) produto especial da
espécie humana” (BRAVERMAN, 1987, p. 52). Nesse sentido, “isento das rígidas
trilhas ditas pelo instinto nos animais, o trabalho humano torna-se indeterminado, e seus
diversos determinantes constituem, daí por diante, produtos não da biologia, mas das
complexas interações entre ferramentas e relações sociais; tecnologia e sociedade”
(BRAVERMAN, 1987, p. 54).
O trabalho humano, portanto, repousa em formas sociais e é desenvolvido
culturalmente em processos capazes de potencializar a produção para além do consumo,
não vinculando necessariamente concepção e execução. Assim, a ideia concebida por
uma pessoa pode ser executada por outra, usurpando a relação primeira do homem com
seu trabalho e alienando-o do seu trabalho como totalidade.
Nessa perspectiva analítica, retoma-se o fundamento antropológico do trabalho
em Marx, que afirma que, ao modificar a natureza, o homem produz sua existência,
1 Esse texto faz parte da Tese de Doutorado da Profª. Dra. Suelaynne Lima da Paz, intitulada:
Políticas para educação superior e suas implicações no trabalho, profissão e
profissionalização docente em unidades acadêmicas da Universidade Federal de
Goiás (UFG), 2016.
evidenciando, assim, que a subjetividade é imanente à força de trabalho. Esse processo
realiza-se quando o homem medeia e regula sua relação com a natureza por meio do
trabalho, de modo que ele “põe em movimento as forças naturais pertencentes à sua
corporeidade: seus braços e pernas, cabeça e mãos (...). Ele desenvolve as potências que
nela [sua própria natureza] jazem latentes e submete o jogo de suas forças a seu próprio
domínio” (MARX, 2013, p. 255). A investidura do homem, em sua totalidade de corpo e
potências latentes, no processo de trabalho para transformar a natureza em produtos
possibilita o desenvolvimento do domínio desse processo, criando assim a percepção da
sua condição humana. Nesse sentido, as abstrações, as relações sociais, a mobilização
de saberes no processo de trabalho, possibilitam e permeiam a construção da
subjetividade humana.
A violação da relação ontológica do homem com o trabalho constitui a alienação
do trabalhador em face do seu trabalho, de modo que a constituição do ser trabalhador é
deteriorada. Dito de outra forma, a constituição do homem pelo trabalho alienado o
limita como ser humano e o transforma em mercadoria. Justamente na cisão entre
concepção e execução é que se instaura a alienação, o que confere outra faceta à relação
do homem com seu trabalho, retirando-lhe a autonomia.
A autonomia constitui-se pelo controle do trabalhador, dos processos de
concepção à execução do trabalho. A retirada da autonomia do trabalhador, objetiva
ampliar o capital por meio da compra da mercadoria “força de trabalho”, que possui
uma rentabilidade variável, a depender da potência e da subjetividade
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