O TRABALHO E EDUCAÇÃO: UMA RELAÇÃO IMBRICADA
Por: Franciana Pegoraro • 14/12/2017 • Artigo • 3.284 Palavras (14 Páginas) • 330 Visualizações
TRABALHO E EDUCAÇÃO: UMA RELAÇÃO IMBRICADA
Franciana Dayana Pereira[1]*.
RESUMO: O presente artigo objetiva apresentar o estreito vínculo entre trabalho e educação, apontando fatos que evidenciam que o homem é um ser que se fez humano pelo trabalho e que o trabalho é aprendido, além de apontar a importância da Revolução Industrial para a instituição escolar e para o próprio trabalho, apresentando também as demandas educacionais que surgiram com os diferentes modelos de produção após a Revolução. No final apresenta-se reflexões acerca das propostas de educação para o ensino médio, defendendo uma educação de formação geral.
Palavras-chave: Trabalho e educação. Sociedade. Capitalismo. Aprendizagem.
WORK AND EDUCATION: AN IMBRICATED RELATIONSHIP
ABSTRACT: This paper aims to present the close link between work and education , pointing out facts that show that man is a being who became human for the work and that the work is learned , while pointing out the importance of the Industrial Revolution to the school institution and the work itself, also presenting the educational demands that have arisen with the different models of production after the Revolution . At the end presents reflections on the education proposals for high school , advocating a general training education.
Keywords: Work and education . Society. Capitalism. Learning.
1 INTRODUÇÃO
A relação entre trabalho e educação possui um estreito vínculo ontológico-histórico, pois sabemos que o homem é um ser que se fez humano pelo trabalho e este é aprendido. Nas comunidades primitivas a aprendizagem acontecia naturalmente conforme as necessidades que o homem encontrava para sobreviver. Entretanto com o advento da Revolução Industrial (século XVIII) surgem os sistemas educativos fortemente ligados ao modelo de produção capitalista, os quais acabam assumindo, no século XX, um caráter operacional e instrumental, culminando com a implementação do ensino técnico e profissionalizante. Como consequência dessa implementação, há uma preocupação com a formação que o ensino médio deva oferecer: uma formação geral ou profissionalizante.
O presente estudo apresenta num primeiro momento os fundamentos histórico-ontológicos da relação trabalho e educação, e a sua ruptura, com a divisão em classes sociais e a origem da escola. Num segundo momento, o estudo analisa as implicações da Revolução Industrial para o trabalho e para a educação, destacando sobretudo o papel da escola. Por fim, apontaremos as interferências do mundo do trabalho nos sistemas educacionais, a partir de uma questão chave: escola de formação geral ou escola profissionalizante?
2. TRABALHO E EDUCAÇÃO
O discurso recorrente é que a educação existe para o trabalho, mas é preciso analisar com cuidado esta afirmativa, visto que é necessário o entendimento dos fundamentos histórico-ontológicos da relação trabalho e educação. Pois, “diferentemente dos animais, que se adaptam à natureza, os homens têm de adaptar a natureza a si. Agindo sobre ela e transformando-a, os homens ajustam a natureza às suas necessidades” (SAVIANI, 2007, p.154), este agir é o que chamamos de trabalho. Assim, a existência humana é produzida pelos próprios homens ao aprender a produzir sua própria existência. Desta maneira, nas sociedades primitivas
Eles aprendiam a trabalhar trabalhando. Lidando com a natureza, relacionando-se uns com os outros, os homens educavam-se e educavam as novas gerações. A produção da existência implica o desenvolvimento de formas e conteúdos cuja validade é estabelecida pela experiência, o que configura um verdadeiro processo de aprendizagem. Assim, enquanto os elementos não validados pela experiência são afastados, aqueles cuja eficácia corrobora necessitam ser preservados e transmitidos às novas gerações no interesse da continuidade da espécie. (SAVIANI, 2007, p.154).
As sociedades primitivas realizavam esta forma de educação, uma educação que se identifica com a vida. E aí estão os seus fundamentos histórico-ontológicos, ser um processo produzido e desenvolvido ao longo do tempo pela ação humana que produz o próprio ser humano. Entretanto,
Esse caráter de formação espontânea e de assimilação do conjunto das experiências do grupo social, tomam outros contornos com o desenvolvimento das forças produtivas e o estabelecimento de novas relações de produção. O desenvolvimento das forças produtivas possibilita a criação de excedente na produção, a apropriação privada dos meios de produção favorece o aparecimento das classes sociais e as relações de dominação e de exploração das classes proprietárias dos meios de produção sobre as classes não proprietárias dos meios de produção, sendo estes últimos propriedade (escravos) dos primeiros. (CASSIN, 2008, p. 7).
Dessa maneira, o desenvolvimento da produção levou à divisão do trabalho, e com isso, a apropriação privada da terra e a divisão da sociedade em classes, ocorrendo uma divisão na educação, a qual passou a ter duas modalidades bem distintas: uma para a classe proprietária, e outra para a classe não proprietária. “A primeira, centrada nas atividades intelectuais, na arte da palavra e nos exercícios físicos de caráter lúdico ou militar. E a segunda, assimilada ao próprio processo de trabalho.” (SAVIANI, 2007, p.155).
Da primeira modalidade de educação originou-se a escola - derivada do grego e que significa o lugar do ócio, do tempo livre, assim lugar que iam aqueles que não precisam trabalhar, – desenvolvendo uma forma específica de educação que “passou a ser identificada com a educação propriamente dita, perpetrando-se a separação entre educação e trabalho” (SAVIANI, 2007, p.155). O referido autor aponta que, após o modelo de sociedade escravista, onde o Estado desempenha papel importante na educação, no modelo feudal de sociedade, da Idade Média, a Igreja Católica possui marca forte nas escolas, e já o modelo de produção capitalista coloca novamente o Estado como protagonista central, forjando assim a ideia de escola pública, universal, gratuita, leiga e obrigatória. “Conclui-se, portanto, que o desenvolvimento da sociedade de classes, especificamente nas suas formas escravista e feudal consumou a separação entre escola e trabalho” (SAVIANI, 2007, p.157).
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