O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)
Por: franco1970 • 12/11/2017 • Ensaio • 12.945 Palavras (52 Páginas) • 721 Visualizações
CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL: TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)
MÓDULO 1: O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)
PREMISSA: quando nos referimos a saúde mental falamos de doença mental.
Breve histórico do autismo; de sua primeira descrição em 1943, até os dias atuais.
Tudo iniciou com Donald nascido em 1933. Esta criança apesentava muitos comportamentos que, para os padrões e conhecimentos da época, eram considerados loucos. De acordo com as práticas comuns naquele momento, ele foi Institucionalizado (internado) dos 03 até os 05 anos, sendo submetido a tratamentos terrível (eletrochoque, camisa de força, etc.). A única terapia menos agressiva que o mesmo participou foi a psicanálise. Em 1938, os pais do Donald procuraram um médico chamado Leo Kanner que tratava os pacientes de uma forma diferente, mais humanizada. Serão as observações de Kanner que irão definir Donald como o primeiro caso diagnosticado com autismo.
Em carta dirigida aos pais de Donald em 1942 Leo Kanner informou que o mesmo possui uma grande dificuldade de interação social aliado aos comportamentos estranhos. Em 1943, Kanner publica artigo em uma revista médica falando sobre o disturbo autista do contato afetivo diferenciando a criança autista da esquizofrênica, teremos ai o primeiro uso da palavra autismo. Em entrevista posterior Kanner afirmou “eu não descobri o autismo, ele já existia”. Kanner então muda o nome de Autismo de contato Afetivo para Autismo Infantil. A palavra autismo já era usada na psicologia e representavam uma das características da esquizofrenia. Esse termo era usado para descrever o pensamento autístico do esquizofrênico que tem a ver com alucinação, perda do contato com a realidade. Ou seja, até essa época muitos autistas eram considerados esquizofrênicos. O autismo hoje ainda é considerado por muitos como uma das doenças mentais porque durante muitos anos era considerada doença infantil, tratava-se de uma esquizofrenia infantil. O que difere o autismo para a esquizofrenia é que a no autismo não há surtos.
O autismo pode vir assossiado com qualquer outra doença, inclusive mental. Ou seja, o autismo não é uma doença mental. Em 1943, apesar de ter publicado sobre autismo, não foi nada tão impactante, pois ainda se acreditava que o autismo era uma variedade da esquizofrenia.
Na década de 60, por influencia do trabalho de Bruno Bettelheim surge o termo “mães geladeiras” se referindo as mães de autistas que eram intelectuais, individualizadas e de pouco afeto. Logo, se concluiu que os filhos eram autistas por culpa dessas mães. Essa hipótese logo caiu em descrédito, com pesquisas mais aprimoradas, muito embora ainda se encontrem quem a tenham como referencia. Bruno criou uma escola chamada Escola Ortogênica aonde as crianças eram internadas para se descobrir quando foi que as mesmas foram renegadas e por isso “adquiriram” o autismo. Muitas foram criadas com o pensamento que a culpa de seu autismo foi de suas mães.
Anos depois surgiu Bernard Rimland, psicólogo da Universidade de San Diego e pai de um menino autista. A contribuição dele é um exemplo para força que tem os pais. Ele foi o pioneiro na contagem de crianças autistas nos EUA e o fundador das primeiras associações de país. Ele foi, também, o primeiro a questionar a teoria de Bruno sobre a culpa das mães.
Ivar Louvaas, psicólogo norueguês da UCLA. Em 1965 ele e um grupo de médicos começaram a tratar as crianças com a droga LSD para ver se o comportamento melhorava além do tratamento com eletrochoques nas crianças com comportamentos graves. Como o tratamento com LSD não deu certo, Louvaas começou a lidar eletrochoques nas crianças com comportamentos graves a partir dos 03 anos de idade. O objetivo era diminuir o comportamento agitado. As primeiras pesquisas deram certo, pois as crianças começaram a entender o comando pela dor. Depois de anos tomando choques se viu que não estava dando certo. Existia conduta aversivas (entortar braço, puxar a perna) além de gritos, tapas, etc.
Ivarr desenvolve então o ABA (Análise Aplicada do Comportamento) e começa a ensinar os pais a fazerem em casa um tratamento para lidar com as crianças. Muitas pessoas são contras às análises comportamentais porque vem de um passado que é muito ruim, relacionado a essas condutas aversivas (gritos, puxões, etc.).
Cerca de 10 anos depois, um psicólogo americano chamado Eric Schopler conheceu o Bruno Bettehein e a sua escola para alunos que acreditava serem consequência das mães geladeiras. Ele conheceu a escola de Bruno e resolveu fazer diferente de Bruno. Schopler defendia a ideia de que o autismo era orgânico. Além disso, defendia que as mães precisavam ser aliadas no tratamento dos filhos. Isso ocorreu na década de 60. Foi realizado o experimento de um garoto autista com um médico que ficava em uma sala sendo observados pelo Schopler. O garoto mordeu, correu, bateu no médico e fez tudo que um autista geralmente faz. Depois de 20 semanas de acompanhamento observou-se que era possível gerar um comportamento no adulto que resulte em um melhor comportamento do autista. Com o tempo, o autista começou a gerar afetividade com o médico. A mãe começou a observar o que o médico fazia e repetia em casa. Assim nasceu o projeto que foi bancado pela Universidade da Carolina do Norte aonde começaram a desenvolver uma abordagem diferenciada com autistas. Dessa maneira se chegou a conclusão de que o tratamento da família precisava ser igual ao do médico para melhores resultados.
Em 1965, os pais de autistas conseguiram que o Estado da Carolina do Norte bancasse esse projeto chamado TEACCH. De todos que estudaram autismo, Schopler abriu as portas para a ideia de que é possível gerar evolução nos alunos. Vários Estados dos Estados Unidos usam essa metodologia.
Lorna Wing é psiquiatra inglesa, responsável por inúmeras pesquisas sobre autismo. Foi responsável pelo termo “Espectro Autista”. Lorna defende a ideia de que o comportamento do autismo surge no decorrer continuo da vida da criança. A palavra Espectro dá oportunidade de não se fechar um único diagnóstico para que a criança seja considerada autista. É como se fosse um grande guarda-chuva que permite que a criança acesse o tratamento mesmo sem ter todos os comportamentos “geralmente” apresentados pelo Autista.
Durante muitos anos a Sindrome de Asperg não entrava como uma doença que estava dentro do DSM (Classificação de doenças da psiquiatria dos Estados Unidos). Com o tempo, a criança com Sindrome de Asperg passa a ser considerado dentro do Autismo.
Para quem trabalha com autismo não faz muita diferença se a titulação do autismo é alto, médio ou baixo, porque é comportamental, logo é mutável. Alguém que é gravíssimo pode alterar para baixo em pouco tempo.
Existe uma corrente nos Estados Unidos que acredita que autismo é epidemia, outra acredita que é uma doença e que precisa ser tratada. A dificuldade etiológica é outra dificuldade que se tem. Sabe-se que a criança nasce autista e não fica autista, mas não se sabe o que ocasiona. A comunidade psiquiatra acredita que é trauma, mas não se tem uma definição exata disso. A comunidade médica defende como biológico e não neurológico.
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