O ensino e desenvolvimento das crianças de zero a três anos
Por: Luciane Brochi • 2/11/2015 • Resenha • 3.678 Palavras (15 Páginas) • 632 Visualizações
O Ensino e desenvolvimento de crianças de 0 a 3 anos
O trabalho pedagógico dirigido às crianças de zero a três anos indiscutivelmente encerra grandes desafios. Nenhum outro segmento educacional parece-nos tão representativo da Pedagogia da Espera, em que se achava que nada deveria ser feito com as crianças até que elas crescessem. No entanto, com os avanços nos estudos sobre o desenvolvimento infantil e a aprendizagem das crianças pequenas, esse conceito foi revogado trazendo a premissa de que podem ser estimuladas desde muito pequenas, favorecendo seu desenvolvimento integral.
Apesar de já extinta na de educação infantil, essa ideia ainda permeia algumas escolas, principalmente nas creches, que se atém apenas aos cuidados básicos como alimentação, higiene, segurança, descanso, etc.
Baseando-se na concepção de que a criança é um ser único que possui algumas capacidades e que devem ser estimuladas pelo adulto, buscou-se maneiras de como superar práticas cotidianas espontaneístas, na direção de ações educativas mediadoras das formas pelas quais a criança se relaciona com o seu entorno físico e social.
Pensando dessa forma, deve-se ter a consciência de que os conteúdos ensinados as crianças devem ser selecionados e organizados considerando a dinâmica própria da faixa etária de 0 a 3 anos e que não são mera ocupação para elas, mas representam mediações histórico-sociais pelas quais os indivíduos ampliam suas possibilidades de controle de si mesmos e sobre o mundo.
Concebe-se como conteúdo de ensino os conhecimentos mais elaborados e representativos das máximas conquistas dos homens, ou seja, componentes do acervo científico, tecnológico, ético, estético, etc. convertidos em saberes escolares. Advoga-se o princípio segundo o qual à escola, independentemente da faixa etária que atenda, cumpre a função de transmitir esses conhecimentos, isto é, de ensinar e, por isso, torna-se espaço privilegiado de socialização e transmissão de conhecimentos, para além das esferas cotidianas e dos limites inerentes à cultura do senso comum (escolas recreativas).
Com esta afirmativa, não se pretende emitir um juízo de valor depreciativo nem da cotidianidade nem da cultura popular, mas, procurando delimitar fronteiras entre as inúmeras instituições socializatórias e a escola.
Diante disso, como conceber e organizar um plano orientador de atividades na rotina das creches?
Para a proposição e condução de ações que superem a prática espontaneísta, o professor precisa dispor de conhecimentos que interfiram de modo indireto e direto no desenvolvimento da criança.
Por conhecimento indireto compreendem-se os saberes interdisciplinares que devem estar sob domínio do professor e subjacentes às atividades disponibilizadas aos alunos. Inclui o conhecimento que não é transmitido em seu conteúdo conceitual e que, ao ser disponibilizado, incide na propulsão do desenvolvimento de novos domínios psicofísicos e sociais expressos em habilidades específicas constitutivas da criança como ser histórico social, como os autocuidados, hábitos alimentares saudáveis, destreza psicomotora, percepção sensorial, habilidade de comunicação significativa, vivência grupal dentre outras, e promovem o que se classifica como aprendizagem indireta. Este conhecimento também é chamado de conteúdo de formação operacional.
Por conhecimento direto entende-se o domínio das áreas do saber científico, transposto sob a forma de saber escolar, para que se efetive como objeto de apropriação que precisa ser ensinado, sendo chamado também de conteúdo de formação teórica.
Os conteúdos de formação operacional interferem diretamente na constituição das novas habilidades na criança, mobilizando as funções inatas, ligadas ao funcionamento corporal (processos psicológicos elementares) a serem expressos sob a forma de funções culturais, ligadas ao aprendizado (processos psicológicos superiores). Ao atuarem dessa forma, tais funções instrumentalizam a criança para dominar e conhecer os objetos e fenômenos a sua volta, além de exercer uma influência indireta na construção de seus conceitos sobre si e sobre o mundo.
Os conteúdos de formação teórica, por sua vez, operam indiretamente no desenvolvimento das funções psicológicas acima citadas, à medida que promovem a apropriação do conhecimento, como por exemplo, no ensino de formas geométricas em que incide não apenas sobre a aprendizagem de conceitos matemáticos, mas também a percepção, atenção, memória, etc.
Perante tais informações, as ações educativas devem contemplar tanto os conteúdos de formação operacional quanto os conteúdos de formação teórica, considerando os períodos de desenvolvimento de cada faixa etária e havendo uma proporcionalidade inversa na apresentação de tais conteúdos, conforme apresentado abaixo:
1ª Infância Idade Pré-escola[pic 1][pic 2]
[pic 3]
[pic 4]
Nascimento 3 anos 6 anos
Assim quanto menor a criança, maior o planejamento de atividades que priorizem a formação operacional e o seu desenvolvimento. Enquanto que, a medida que a criança vai crescendo, o nível de atividades para formação teórica vai aumentando.
A criança em seu primeiro ano de vida
Conforme assinalado por Vygotsky e seguidores, o desenvolvimento dos seres humanos demanda inter-relações, por meio das quais cada homem aprende a sê-lo apropriando-se das conquistas produzidas pelas gerações precedentes. Aos seres humanos não basta os atributos que dispõe no ato de seu nascimento, como os demais animais. As características biológicas presentes neste ato são meramente preparatórias para a sua interação com o mundo social, da qual tudo o mais dependerá, quer no próprio plano biológico, quer no plano psicológico e social.
Sabidamente, se for lançado ao mundo qualquer filhote animal, por exemplo um gato, as alternativas existentes serão: ou ele morre ou ele vira gato, ou seja, permanece representante de sua espécie. Diferentemente, a história mostra que crianças desprovidas de condições histórico-sociais de desenvolvimento que sobreviveram não se tornaram seres representativos da espécie humana, ou seja, não se humanizaram.
Para esse autor é graças à interiorização que os processos interpessoais, mediadores da relação da criança com seu entorno social, transmutam-se em processos intrapessoais. Sendo assim, as características, os conteúdos simbólicos, os domínios e habilidades próprios a alguém não se estruturam nele a partir de si mesmo.
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