O papel do professor e do ensino na educação infantil: a perspectiva de Vigotski, Leontiev e Elkonin Juliana Campregher Pasqualini
Por: BRUNAHECKLERR • 9/9/2021 • Pesquisas Acadêmicas • 9.220 Palavras (37 Páginas) • 1.471 Visualizações
O PAPEL DO PROFESSOR E DO ENSINO
NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
A PERSPECTIVA DE VIGOTSKI,
LEONTIEV E ELKONIN
Juliana Campregher Pasqualini1
O presente texto resulta de nossa pesquisa de mestrado, um
estudo de natureza teórico-conceitual que teve como objetivo investigar e analisar as relações entre desenvolvimento infantil e ensino
na faixa etária de 0 a 6 anos2
em obras selecionadas de autores da
psicologia histórico-cultural. O acervo pesquisado incluiu obras de
L. S. Vigotski, A. N. Leontiev e D. B. Elkonin, nas quais buscamos
identificar a concepção geral de desenvolvimento infantil e as especificidades desse período do desenvolvimento sobre as quais possa
operar o ensino escolar.
Diante da constatação da hegemonia na literatura contemporânea
dedicada ao segmento da Educação Infantil de um ideário antiescolar,
que tem como um de seus pilares a negação do ato de ensinar, nossa
investigação pautou-se pela hipótese de que a produção teórica dos
1 Psicóloga, mestre e doutora em Educação Escolar pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Universidade Estadual Paulista (Unesp),
campus de Araraquara. É membro do Grupo de Pesquisa “Estudos marxistas
em educação”.
2 A pesquisa teórica aqui relatada foi desenvolvida em momento anterior às mudanças na legislação educacional que implementaram o Ensino Fundamental
de 9 anos, fato que nos levou a optar pela manutenção no presente texto da
referência original à faixa etária de 0 a 6 anos.
162 LÍGIA MÁRCIA MARTINS • NEWTON DUARTE
autores da psicologia histórico-cultural sustenta a defesa do ensino
como elemento fundante do trabalho do professor que atua junto à
referida faixa etária.
Apresentaremos alguns dos resultados obtidos na pesquisa e suas
principais conclusões, tendo como foco a discussão sobre o papel do
educador e do ensino na perspectiva de Vigotski, Leontiev e Elkonin. Dessa forma, buscaremos inicialmente situar essa discussão
na literatura contemporânea que versa sobre a educação da criança
pequena, apresentando, em seguida, a concepção da psicologia
histórico-cultural sobre o desenvolvimento infantil, as características
desse processo na faixa etária de 0 a 6 anos e as conclusões alcançadas
a respeito do ensino e do papel do professor que atua junto a essa
faixa etária.
O ideário antiescolar na Educação Infantil
A literatura contemporânea voltada à educação de crianças de 0 a
6 anos apresenta a partir da década de 1990 um intenso debate acerca
da especificidade do trabalho pedagógico junto a essa faixa etária.
Verifica-se a tentativa de se delinear uma identidade própria para
o segmento da Educação Infantil, que foi historicamente atrelado
a finalidades extrínsecas, ora compreendido como equipamento de
caráter assistencial-custodial (especialmente no caso das creches), ora
como estratégia de prevenção do fracasso escolar, preparação para o
Ensino Fundamental ou mesmo sua antecipação.
As respostas oferecidas pelos pesquisadores à questão da especificidade da Educação Infantil giram hoje fundamentalmente em
torno de dois eixos: o binômio cuidar-educar3
e a perspectiva antiescolar, elementos fundantes da chamada pedagogia da infância (ou
3 O binômio cuidar-educar expressaria o objetivo principal do trabalho pedagógico junto à faixa etária atendida pela educação infantil (Faria, 2005; Cerisara,
2004; Rocha, 1999) e aparece na literatura como algo que marcaria a identidade
desse segmento educacional, concepção essa que se mostra presente também
na documentação oficial.
FORMAÇÃO DE PROFESSORES 163
pedagogia da Educação Infantil). Entende-se, nessa perspectiva, que
a especificidade da educação da criança pequena implica a negação
e o rompimento dos laços com o modelo escolar de atendimento
educacional. Entende-se ainda que o ensino não deve fazer parte do
atendimento ofertado à criança até os 6 anos. Para essa perspectiva
teórica, a Educação Infantil “faz parte da educação básica, mas não
tem como objetivo o ensino e, sim, a educação das crianças pequenas”
(Cerisara, 2004, p.8). Nesse sentido, conforme Cerisara, o foco, na
Educação Infantil, não estaria nos processos de ensino-aprendizagem, mas nas chamadas relações educativo-pedagógicas. O ensino,
assim, é negado quando se trata da Educação Infantil, mas assumido
como objeto fundamental da escola:
Portanto, enquanto a escola tem como sujeito o aluno, e como o
objeto fundamental o ensino nas diferentes áreas, através da aula; a
creche e a pré-escola
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