Os Desafios
Por: Suélen Dias • 7/11/2017 • Trabalho acadêmico • 1.544 Palavras (7 Páginas) • 432 Visualizações
MORIN, Edgar. A Cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento; trad. Eloá Jacoline. 3º ed. Rio de Janeiro: Berthand Brasil, 2001.
Capítulo I
Os Desafios
Há inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre os saberes separados [...] e por outro lado problemas cada vez mais polidisciplinares, tornando-se invisíveis: os conjuntos complexos; as interações e retroações entre partes e todo; as entidades multidimensionais e os problemas essenciais.
De fato, hiperespecialização, impede de ver o global (que ela fragmenta em parcelas), bem como, o essencial (que ela dilui).
Portanto, o desafio da globalidade é também um desafio de complexidade. Existe complexidade, de fato, quando os componentes que constituem um todo são inseparáveis [...].
Efetivamente, a inteligência que só sabe separar fragmenta. Atrofia as possibilidades de compreensão e de reflexão, eliminando assim as oportunidades de um julgamento corretivo ou de uma visão a longo prazo.
Assim, os desenvolvimentos disciplinares das ciências não só trouxeram as vantagens da divisão do trabalho, mas também os inconvenientes da superespecialização, do confinamento e do despedaçamento do saber. E, em vez de corrigir esses desenvolvimentos, nosso sistema obedece a eles.
Em tais condições, as mentes jovens perdem suas aptidões naturais para contextualizar os saberes e integrá-los em seus conjuntos.
Ora, o conhecimento pertinente é o que é capaz de situar qualquer informação em seu contexto. Podemos dizer até que o conhecimento progride [...] pela capacidade de contextualizar e englobar. Considerando que a aptidão para contextualizar e integrar é uma qualidade fundamental da mente humana, que precisa ser desenvolvida, e não atrofiada.
Por detrás do desafio global e do complexo, esconde-se um outro desafio: o da expansão descontrolada do saber. T.S. Eliot dizia: “Onde está o conhecimento que perdemos na informação?” O conhecimento só é conhecimento enquanto organização, relacionado com as informações e inserido no contexto destas, pois as informações constituem parcelas de saber.
O desafio cultural assinala que a cultura está subdivida em dois blocos: a cultura da humanidade e a cultura científica, onde o mundo técnico e científico vê na cultura das humanidades apenas uma espécie de ornamento ou luxo estético, isto é, a inteligência geral que a mente humana aplica aos casos particulares e o mundo das humanidades vê na ciência apenas um amontoado de saberes abstratos ou ameaçadores. O desafio sociológico estende-se com o crescimento das características cognitivas das diversas atividades humanas. O desafio cívico traduzido pelo enfraquecimento de uma percepção global leva ao enfraquecimento do senso de responsabilidade, bem como ao enfraquecimento da solidariedade.
Diante disto, o desafio dos desafios seria a reforma do pensamento que é permitir o pleno emprego da inteligência para responder a esses desafios e permitiria a ligação de duas culturas dissociadas.
A reforma do ensino deve levar à reforma do pensamento, e a reforma do pensamento, deve levar à reforma do ensino.
Capítulo II
A Cabeça bem-feita
“Mais vale uma cabeça bem-feita do que uma cabeça bem-cheia” foi a primeira finalidade do ensino, formulada por Montaigne. Ou seja, “uma cabeça bem cheia” é onde o saber é acumulado, empilhado, onde não dispõe de um princípio de seleção e organização que lhe dê sentido. Já uma “cabeça bem-feita” tem significado que em vez de acumular o saber é mais importante dispor aptidão geral para colocar e tratar os problemas e princípios organizadores que permitam ligar os saberes e lhes dar sentido.
A educação deve favorecer a aptidão natural da mente para colocar e resolver os problemas e, correlativamente, estimular o pleno emprego da inteligência.
O desenvolvimento da inteligência geral requer que seu exercício esteja ligado à dúvida, fermento de toda atividade crítica, que, como assinala Juan de Mairena, permite “repensar o pensamento” [...].
A organização dos conhecimentos é resultado de uma cabeça bem-feita, que evita acumulação estéril.
Nossa civilização e, por conseguinte, nosso ensino privilegiaram a separação em detrimento da ligação e a análise em detrimento da síntese, gerando dificuldade para o progresso da educação pelo subdesenvolvimento da ligação e da síntese, e a solução para tal empecilho encontra-se na contextualização e globalização dos saberes.
O desenvolvimento da aptidão para contextualizar produz um pensamento “ecologizante”, no sentido que situa todo acontecimento, informação ou conhecimento em relação de inseparabilidade com seu meio ambiente [...]. Pascal já formulara a necessidade de ligação, que hoje é o caso de introduzir em nosso ensino, a começar pelo primário: “[...] considero impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, assim como conhecer o todo sem conhecer, particularmente, as partes...”.
A segunda revolução científica do século XX pode contribuir, atualmente para formar uma cabeça bem-feita. O desenvolvimento anterior das disciplinas científicas, tendo fragmentado e compartimentado mais e mais o campo do saber, demoliu as entidades naturais sobre as quais sempre incidiram as grandes interrogações humanas: o cosmo, a natureza, a vida e, o ser humano.
Já existiam ciências multidimensionais [...]. Agora surgiram novas ciências “sistêmica”: Ecologia, ciências da Terra, Cosmologia. Onde a Ecologia tem o ecossistema como objeto de estudo, associando disciplinas distintas para analisar interações entre o mundo humano e a biosfera. O desenvolvimento das ciências da Terra e da Ecologia revitalizam a Geografia. A cosmologia buscando conhecer o cosmo e conceber a formação dos nódulos, dos átomos [...], isto é, a disciplina do infinitamente grande ao infinitamente pequeno.
Infelizmente, a revolução das recomposições multidisciplinares está longe de ser generalizada e, em muitos setores, sequer teve início [...]. As ciências biológicas progridem em múltiplas frentes, mas essas frentes não estão coordenadas umas às outras e levam a ideias divergentes. Além disso, mesmo
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