Os dois sentimentos da infância de Phillippe Ariès
Por: Katialu • 7/6/2017 • Abstract • 755 Palavras (4 Páginas) • 3.263 Visualizações
Resumo:
Na idade Média o sentimento de infância não existia, as crianças logo que tinham suas necessidades básicas supridas eram inseridas no mundo adulto, logo era uma sociedade de adultos composta por crianças e jovens. Já as crianças pequenas nem mesmo eram contadas, pois eram muito frágeis; e não podiam serem utilizadas para o trabalho doméstico, tarefa que aprendiam logo cedo; caso superassem a fase de grande mortalidade, em que sua sobrevivência era improvável, eram confundidas com adultos. Com isso a arte passava mostrar a criança semelhante ao adulto, sem diferenciação.
O primeiro sentimento da infância surgiu na família, admitindo à criança a sua personalidade, neste momento começam certas diferenciações nos trajes e entendimento da fragilidade e inocência infantil. Com a ingenuidade, tornava-se diversão para os adultos; sentimento esse chamado de “paparicação”. O que antes era um sentimento escondido pela mãe e pelas amas, era demonstrado para que todos vissem e posteriormente explicitado principalmente através das pessoas que não hesitavam em admitir o prazer em ”paparicá-las”.
Este sentimento causava em alguns, principalmente nos moralistas e educadores do fim século XVI e no século XVII, uma irritação, pois era insuportável a atenção que era dada às crianças. Essa maneira de tratamento às crianças acabou provocando um novo sentimento, o de exasperação, não desejavam mais que as crianças se misturassem aos adultos, especialmente na mesa, pois se tornariam mal educadas e mimadas. No fim do século XVII essa “paparicação” era denunciada também entre o povo.
A partir do século XVII cresce entre os moralistas e educadores, o interesse psicológico, e da preocupação moral, com as crianças, o segundo sentimento da infância.
Havia apego com a infância por um interesse psicológico, uma forma de entendê-las para criar melhores métodos para a educação. Desta forma, propõe-se conciliar a doçura e a razão com os filhos, preocupando-se sempre em fazer dessas crianças pessoas honradas, justas e racionais.
Este sentimento foi difundido pelos eclesiásticos ou dos homens da lei e de um maior número de moralistas no século XVII, que se preocupavam com a disciplina e a racionalidade dos costumes. A preocupação com a disciplina refletiu posteriormente na família associada à preocupação com a higiene e a saúde física.
Tudo o que se referia às crianças e à família tornara-se um assunto sério e digno de atenção. Não apenas o futuro da criança, mas também sua simples presença e existência eram dignas de preocupação - a criança havia assumido um lugar central dentro da família.
Citações:
[...] "De onde tirastes a ideia, meu irmão, vós que possuís tantos bens e tendes apenas uma filha - pois não conto a pequena - de mandar a menina para um convento?" A pequena não contava porque podia desaparecer. "Perdi dois ou três filhos pequenos, não sem tristeza, mas sem desespero", reconhece Montaigne. Assim que a criança superava esse período de alto nível de mortalidade, em que sua sobrevivência era improvável ela se confundia com os adultos. (Ariès, p.98-99)
[...] "Estou lendo a história da descoberta das Índias por Cristóvão Colombo, que me diverte imensamente; mas vossa filha me distrai ainda mais. Eu a amo muito... Ela acaricia vosso retrato e o paparica de um jeito tão engraçado que tenho de correr a beijá-la.". "Há uma hora que me distraio com vossa filha, ela é encantadora." "Mandei cortar seus cabelos. Ela agora usa um penteado solto. Esse penteado foi feito para ela. Sua tez, seu colo e seu corpinho são admiráveis. Ela faz cem gracinhas, fala, faz carinho, faz o sinal da cruz, pede desculpas, faz reverência, beija a mão, sacode os ombros, dança, agrada, segura o queixo: enfim, ela é linda em tudo que faz. Divirto-me com ela horas a fio". E, como se temesse alguma infecção, acrescenta com uma leviandade que nos surpreende, pois para nós a morte de uma criança é um assunto grave com o qual não se brinca: "Não quero que essa coisinha morra". (Ariès, p.101)
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