SER PROFESSOR NA CONTEMPORANEIDADE: UMA ANÁLISE DA VISÃO DE BERNARD CHARLOT
Por: Tiago Baciotti Moreira • 16/5/2016 • Artigo • 1.637 Palavras (7 Páginas) • 813 Visualizações
SER PROFESSOR NA CONTEMPORANEIDADE: UMA ANÁLISE DA VISÃO DE BERNARD CHARLOT
Tiago Baciotti Moreira
Profª. Drª. Vânia Maria de Oliveira Vieira
Profª. Drª. Marilene Ribeiro Resende
RESUMO
O presente texto busca relacionar assuntos de preocupação importantes para a prática docente destacando alguns pontos dicotômicos levando a análise do professor na atualidade. Além disso traz à tona também a questão da prática docente além do mero conhecimento técnico-científico do professor na sua área de atuação.
Palavras-chave: Didática. Professor. Escola.
"O professor que caminha na sombra do templo, entre os seus discípulos, não dá a sua sabedoria, mas antes a sua fé e amor.
Se for realmente sábio, não vos convida a entrar na casa da sua sabedoria, mas antes vos conduz ao limiar do vosso próprio espírito."
Khalil Gibran (O Profeta)
INTRODUÇÃO
Em 2008 Bernard Charlot escreveu o artigo “O professor na sociedade contemporânea: um trabalhador da contradição” que foi publicado na edição número 30 da revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade. O texto relata seis diferentes pontos dicotômicos e preocupantes do professor hodierno. São considerações construídas a partir da observação do autor e levando em conta a constante dialética existente no labor do docente de qualquer área. Iniciando o trabalho com indagação de herói ou vítima para o professor, levando-nos a refletir a respeito da aplicação construtivista ou tradicional em sala de aula entre outros pontos observados até culminar no questionamento sobre a especificidade da escola ou seu vínculo com a comunidade.
O presente trabalho de revisão do pensamento de Charlot descrito nesse artigo objetiva descrever pontos principais considerados pelo autor e construir uma memória permeada com os pontos principais da obra e criar também um contraponto com os múltiplos condicionantes trabalhados por Geovana Teixeira no artigo “Docência: uma construção a partir de múltiplos condicionantes”.
O professor na contemporaneidade, segundo Charlot
Ao analisarmos a escola até a década de 50 como fator de decisão das posições sociais é perceptível que a escola não é um fator preponderante nesse sentido pois ela não influenciará mudanças significativas nesse sentido. Um aluno de classe média continuará provavelmente sua jornada independente. O professor é ainda tido como mal pago, porém tem um enquadramento social bem definido e é ciente de seu trabalho e prática escolar. A partir da década de 60, mundialmente a escola passa a ser reconhecida como componente ativo no desenvolvimento econômico e social. O nível de escolaridade, a obtenção de um diploma, passam a ser fatores decisivos para geração de emprego e renda além da ascensão social.
Ao se analisar a escola atual percebemos que alguns destes fatores históricos ainda persistem, porém, o professor contemporâneo tem desafio de utilizar o ferramental tecnológico em seu trabalho. E é um ponto preocupante pois até que ponto a informação existente na rede mundial de computadores converter-se-á em saberes?
Sem dúvida, é muito fácil criar uma concepção bonita construída de um professor como herói e também daquele que é considerado uma vítima da sociedade, dos pais e dos próprios alunos. Isso cria uma série de contradições na figura/imagem do professor pois ele é sempre julgado pela forma como se comporta frente a seus alunos. Seria ele o “herói da pedagogia ou a vítima mal paga” (2008 p. 22)?
Embora seja crível que ninguém pode aprender no lugar outro (2008, p.23) a quem devemos cobrar pelo fracasso do aluno que não aprendeu? Seria culpa do primeiro que não levou a sério seu estudo e se envolveu de forma dedicada ou cabe aqui a retratação do professor que deveria utilizar melhores práticas pedagógicas para desenvolver o conteúdo? Essa contradição/tensão no processo de ensino/aprendizagem deturpa de forma gradativa a condição pedagógica e transcende a simples análise de que o aluno receberia boa nota caso o professor explicasse bem e vice-versa.
A medida que essa discussão se aprofunda vêm à tona outras perspectivas, ainda dicotômicas, sobre o papel do professor contemporâneo. Este usaria a abordagem tradicional ou construtivista em sala de aula? O professor “tradicional” é considerado como aquele que é mais rígido, formal, polido e que valoriza à disciplina. Ainda é visto como tradicional caso use métodos de professores de gerações anteriores, como a aula expositiva. Já o trabalho de forma construtivista vem operar as atividades em um primeiro momento, levando a mente do aluno a mobilizar-se e construir respostas, mas sem deixar de lado a sistematicidade e a cientificidade. Porém é importante salientar que não se pode trabalhar apenas de forma construtivista pois o professor que apropriar-se dessa prática será, por exemplo, cobrado pela sociedade pelas “notas” de seus alunos.
Ao pensarmos na escola como uma instituição universalista (visto que precisa divulgar saberes sistematizados) nos chocamos com a necessidade de evidenciar as diferenças culturais além de demonstrar as diferenças entre os alunos. Dessa forma, para a instituição existem alunos preguiçosos, fracos e dedicados e as notas precisariam ser também diferenciadas.
Chegamos ainda ao ponto da necessidade de autoridade visto que para se educar é necessário se normatizar e exigir. Mas deve-se balizar essa disciplina através de simpatia para os jovens. Além disso a relação de cidadania, respeito mútuo nas relações deve ser construída. Porém não se deve obrigar o professor a gostar de todos os alunos visto que numa escola democrática o ensino é dado àqueles de que se gosta ou não. Além disso a escola é local de direitos e deveres e não de sentimentos.
Por último nessa lista de contradições temos a existência do vínculo da escola com a comunidade onde está inserida. Salientemos que a escola fala aos alunos de objetos que não estão inseridos no mundo destes e culmina na objetivação do mundo. Temos também a questão do professor que busca sempre realçar sua figura de docente até mesmo longe das salas de aula. Charlot evidencia isso por exemplo ao comentar ser “esquisito” (2008 p. 30) para o aluno encontrar o professor no supermercado ou em atividades cotidianas.
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