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A Entrevista Psicológica. In: Temas De Psicologia: Entrevista E Grupos. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

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Por:   •  2/11/2014  •  1.550 Palavras (7 Páginas)  •  2.545 Visualizações

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BLEGER, J. A entrevista psicológica. In: Temas de Psicologia: entrevista e grupos. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

Neste capítulo Bleger se propõe a abordar o estudo psicológico da entrevista psicológica, bem como, os procedimentos e as regras práticas desta técnica.

A entrevista psicológica é o instrumento fundamental de trabalho não somente para o psicólogo, como também para outros profissionais (psiquiatra, assistente social, sociólogo, etc.). A entrevista pode ser de dois tipos aberta e fechada. Nesta última as perguntas já estão previstas, assim como a ordem e a maneira de formulá-las e o entrevistador não pode alterar nenhuma destas disposições. Na entrevista aberta o entrevistador tem ampla liberdade para as perguntas ou para suas intervenções, permitindo toda a flexibilidade em cada caso particular. Entretanto a entrevista aberta não se caracteriza pela liberdade de colocar perguntas, pois o fundamento da entrevista psicológica não consiste em perguntar, no propósito de recolher dados da história do entrevistado, mas de uma investigação ampla e profunda da personalidade do entrevistado.

Do ponto de vista do número de participantes a entrevista pode ser individual e grupal. Contudo, a entrevista é sempre um fenômeno grupal, já que mesmo com a participação de um só entrevistado sua relação com o entrevistador deve ser considerada em função da psicologia e da dinâmica de grupo.

A entrevista pode se diferenciar segundo o beneficiário do resultado como a consulta psicológica ou psiquiátrica (em benefício do entrevistado), a entrevista cujo objetivo é a pesquisa, na qual importam os resultados científicos e a entrevista que se realiza para um terceiro (uma instituição). Nas duas últimas entrevistas o entrevistador deve despertar interesse e participação que motive o entrevistado.

A consulta consiste na solicitação da assistência técnica ou profissional. Entretanto a consulta não é sinônimo de entrevista já que esta última é apenas um dos procedimentos de que o técnico dispõe para atender uma consulta.

A entrevista não é uma anamnese, pois neste procedimento a preocupação e a finalidade residem na reunião de dados do paciente. Diferentemente da consulta e da anamnese, a entrevista psicológica objetiva o estudo e a utilização do comportamento total do indivíduo em todo o curso da relação estabelecida com o técnico, durante o tempo em que essa relação durar.

A regra básica consiste no decorrer da entrevista em obter dados completos de seu comportamento muito mais do que obter dados completos da vida total de uma pessoa.

Bleger considera a entrevista psicológica como um instrumento fundamental do método clínico, no qual a estratégia de abordagem do objeto de estudo (conduta humana) implica que o entrevistador atue como um observador participante.

Os fenômenos psicológicos dão-se necessariamente num contexto de vínculos e de relações humanas. Na entrevista é a relação estabelecida entre o entrevistador e o entrevistado que proporcionará a emergência destes fenômenos possibilitando sua observação. O entrevistador, portanto, é parte integrante na construção deste campo (relação).

O campo configurado na entrevista refere-se à relação estruturada entre os participantes. Esta relação não é uma relação qualquer (por exemplo de amizade), mas possui características definidas, na qual um dos integrantes é um técnico da psicologia, devendo atuar neste papel, e o outro uma pessoa que necessita de sua intervenção, seu papel consiste em procurar saber o que está acontecendo e atuar de acordo com este conhecimento, visando alcançar o objetivo da entrevista.

A entrevista psicológica objetiva o estudo e a utilização do comportamento total do indivíduo em todo curso da relação estabelecida e a obtenção deste dado dá-se pela aplicação da nossa função de escutar, de vivenciar e de observar. Não se trata, portanto, da simples aplicação dos conhecimentos psicológicos, mas de sua aplicação através do comportamento do entrevistador, de forma que ele próprio/sua personalidade consiste em seu principal instrumento. Ao mesmo tempo em que participa/integra este campo (e em certa medida condiciona os fenômenos que irá observar e registrar), o entrevistador distancia-se para observar a si próprio e ao vínculo estabelecido, efetuando uma “dissociação instrumental”. Ele é um observador participante e consciente de sua participação no fenômeno a observar, e é esta sua consciência que dá objetividade à entrevista.

Na relação estabelecida com o entrevistado, o entrevistador deverá atuar com uma ampla flexibilidade, oferecendo estímulos suficientemente ambíguos para se permitir que o campo seja configurado pelas variáveis da personalidade do entrevistado, de forma que a entrevista seja dirigida por este. O entrevistador, por sua vez, controla a entrevista através do enquadramento (que abrange sua atitude técnica, os objetivos, o local e o tempo de duração), que consiste no único aspecto da entrevista que não deve haver ambiguidade.

Entrevistador e entrevistado formam um grupo, ou seja, um conjunto ou uma totalidade na qual os integrantes se inter-relacionam e cujas condutas são interdependentes. Este processo dá-se através da comunicação: verbal e pré-verbal (linguagem corporal, fisionomia, tom afetivo da voz, gestos, silêncios, etc.), cujas características revelam dados importantes a respeito da personalidade e da modalidade de relacionamento interpessoal do entrevistado. Suas verbalizações (o explícito) expressarão a organização que faz sobre sua história de vida e o esquema de seu presente. O entrevistador deverá observar as concordâncias e as divergências entre estas suas verbalizações e os emergentes de seu comportamento pré-verbal (ou não verbal), a fim de deduzir o que o entrevistado não sabe/não diz. Os conflitos trazidos podem não ser fundamentais e as motivações alegadas geralmente são racionalizações.

A transferência e a contratransferência consistem em dois fenômenos que aparecem em toda relação humana, e na entrevista psicológica devem ser utilizados pelo entrevistador como instrumentos técnicos de observação e de compreensão considerando-se

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