A Loucura do Trabalho
Por: Gimello • 19/9/2015 • Trabalho acadêmico • 2.369 Palavras (10 Páginas) • 210 Visualizações
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A loucura do Trabalho
Christophe Dejours
Podemos observar que alguns sentimentos negativos, como o medo, a insatisfação, a frustração, ansiedade e nervosismo podem ser favoráveis às organizações, dependendo do tipo de trabalho que esta desenvolve. O desgaste mental dos trabalhadores muitas vezes é útil para a produtividade da empresa. Este fato foi comprovado através de exemplos simples, compreensíveis, porém esclarecedores. Como foi o caso das telefonistas da França. O fato de não poderem conversar com as pessoas de maneira normal, de terem tempo rigorosamente estipulado para tudo, de poderem ser avaliadas a qualquer momento e de terem que estar sempre seguindo as regras as deixavam irritadas e frustradas. Porém, já que não podiam liberar sua irritação com os clientes, nem podiam sair de seus postos de trabalho para relaxar, a única maneira de aliviarem esta frustração era sendo mais rápidas em cada ligação. Isto fazia com que elas trabalhassem mais e aumentassem a produtividade o que era notoriamente positivo para a organização. Acreditamos que no Brasil este fato não seja muito diferente, pois conversamos com algumas pessoas que trabalham na mesma área (call centers) e as insatisfações são basicamente as mesmas: tudo é cronometrado, desde o mínimo tempo entre uma ligação e outra, intervalos de segundos para tomar água e poucos minutos para ir ao banheiro, fora a possibilidade iminente da ligação estar sendo controlada. Fica claro que é uma estratégia amplamente utilizada pelas empresas, talvez até de todo o mundo, para se beneficiar da frustração de seus
colaboradores.
Outro exemplo dado pelo livro é o de trabalhadores de indústrias químicas, onde há uma profunda ignorância dos processos por parte de operários e chefia. A chefia, neste caso, muitas vezes desconhece a parte prática dos processo, sua organização e seus riscos. Os operários, por sua vez, conhecem apenas aquilo que precisam para realizar suas funções, muitas vezes sem saber o porquê. Esta ignorância causa ansiedade, medo nos funcionários do que pode acontecer caso o processo não seja respeitado e por isto têm maior obediência às normas. Este medo constante também os obriga a ficar sempre mais atentos, conhecendo profundamente os aparelhos que operam e ficando especialistas em detectar possíveis falhas e estarem sempre mais prontos para resolvê-las. É o que o autor chama de “criar macetes”.
Interessante é a parte onde o autor diz que “o que é explorado pela organização do trabalho não é o sofrimento, em si mesmo, mas principalmente os mecanismos de defesa utilizados contra este sofrimento.” No caso das telefonistas o sofrimento seria o fato de não terem desejo próprio. A reação a este sofrimento seria a agressividade, usada pela organização para aumentar o ritmo de trabalho. No caso dos operários constatamos que o sofrimento seria o medo e a angústia do perigo que estavam correndo em suas funções e a reação a isto seria o estado constante de alerta, que aumentaria a atenção no trabalho e os faria criar macetes próprios, indispensáveis ao funcionamento da empresa.
Podemos recorrer também até a um
exemplo citado em sala de pessoas com alto grau de zelo (tendência a T.O.C.) contratadas para cargos, por exemplo, de controladores de caixa, onde a atenção com o dinheiro deveria ser alta. Neste caso o sofrimento seria a insegurança e a reação seria o transtorno de conferir tudo várias vezes (botijão ligado, luz acesa,etc), que seria muito útil no caso de a pessoa contar o dinheiro várias vezes.
Estas insatistfações e frustações geradas pelo trabalho, ou como vimos, pelos mecanismos de defesa criado para superar reações ao trabalho, muitas vezes levam o trabalhador a descompensações, psicoses, neuroses e depressões. Ainda que o indivíduo esteja presdistposto à tal situação, o trabalho pode ser o fator desencadeador. E muitas vezes é praticamente impossível definir que há com o indivíduo problemas psicossomáticos, pois este causa problemas nas defesas do indivíduo e acaba causando problemas na saúde física
E mesmo quando a doença é definida psicológica o problema é que quase sempre sofrimentos emocionais não são reconhecidos pela organização do trabalho. Daí após muitas dificuldades e até preconceitos o trabalhador parte para o tratamento solitário e de uso de medicamentos, até por que neste estágio já está com problemas físicos, causados pelos psicológicos. Estes problemas, geralmente dores de cabeça, tonturas, problemas visuais dentre outros, são sim problemas aceitos pela organização e até mesmo pela sociedade e servem como apoio e apelo para o uso dos medicamentos e justificativas para atestados e licenças médicas.
Resenha Crítica do Livro ” A Loucura do Trabalho” Christopher Djours
26/05/2009
A constituição do trabalho taylorista-fordista de produção torna o trabalhador parte do maquinário da produção, neste momento histórico o modelo de Recursos Humanos e a concepção de administração estavam ligados à visão advinda da engenharia.
No séc. XIX a luta pela saúde, identifica-se com a luta pela sobrevivência: viver, para o operário, é não morrer. Os literários vão definir essa época como miséria operária.
Segundo Dejours a psicopatologia tradicional está baseada na fisiopatologia das doenças que afetam o corpo. O corpo é a primeira vitima do sistema rígido de produção, e em segundo lugar o aparelho psíquico. Dejours orientou suas investigações através das estratégias que os trabalhadores utilizam para enfrentar a situação de trabalho e não direcionadas especificamente as doenças metais.
Dejours categorizou o sofrimento como uma vivência subjetiva mediadora entre doença mental e o conforto psíquico. Assim, o sofrimento deixa de ser representado como algo negativo e passa a significar também criatividade, uma maneira que o trabalhador encontra de criar formas defensivas para lidar com as opressões da organização do trabalho.
Os trabalhadores passam a utilizar estas estratégias defensivas contra o sofrimento para propiciar a manutenção do aparelho psíquico , sendo na sua maioria consideradas, segundo Dejours, Abdoucheli e Jayet (1994 apud ,HELOANI e CAPITAO, 2003) na sua maioria, de ordem coletiva. Esses autores definem as estratégias como mecanismos pelos quais o trabalhador busca modificar, transformar e minimizar a percepção da realidade que o faz sofrer. Os autores apontam também, que a diferença entre um mecanismo de defesa individual e um coletivo está, no fato de que o primeiro permanece sem a presença física do objeto, que se encontra interiorizado. Ao passo que o segundo depende da presença de condições externas e se sustenta no consenso de um grupo específico de trabalhadores.
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