A PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL, CONTINGÊNCIAS E META CONTINGÊNCIAS: FERRAMENTAS CONCEITUAIS E POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO
Por: bloq.2 • 22/2/2018 • Dissertação • 3.054 Palavras (13 Páginas) • 336 Visualizações
PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL, CONTINGÊNCIAS E METACONTINGÊNCIAS: FERRAMENTAS CONCEITUAIS E POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO.
Natália Santos Marques
A Psicologia Organizacional é o campo de atuação do psicólogo nas organizações. Como revisado por Tomazella, Roncon e Munhê (2014), até a década de 1990, como reflexo dos modelos taylorista/fordista, o trabalho do psicólogo nas organizações centrava-se, preponderantemente, em manter a força de trabalho a partir do ajuste do trabalhador às demandas da empresa. O advento da informatização e da globalização, segundo esses autores, gerou mudanças no cenário econômico e social, as quais refletiram nas estruturas empresariais. Flexibilidade, criatividade e inovação passaram a ser características desejáveis para a empresa e seus funcionários.
As organizações passaram então a ser compreendidas como entidades que se transformam constantemente, visto que são compostas pela interação dinâmica entre o comportamento dos indivíduos que a compõem e seus produtos (Glenn & Malott, 2004). O psicólogo organizacional, por sua vez, passou a atentar para a realidade organizacional, a qual é influenciada por fatores externos e internos. O funcionário, por sua vez, deixou de ser visto como um sujeito passivo que deve se ajustar ao ambiente de trabalho e passou a ser considerado em sua interação com a organização, como sujeito que é modificado e ao mesmo tempo modifica o ambiente organizacional, sendo portanto um recurso importante no sucesso da organização. Como apontou Dutra (2008), as empresas fornecem condições aos seus trabalhadores para o enfrentamento de situações profissionais e pessoais, ao passo que os trabalhadores transferem seus aprendizados para as organizações, de modo que a organização coevolui com seus integrantes.
Diante dessa nova perspectiva sobre o papel do sujeito nas organizações, aponta-se que o principal desafio do psicólogo organizacional passou a ser garantir o bom funcionamento da organização (tendo em vista as exigências do ambiente na qual ela está inserida) e, ao mesmo tempo, manter o bem estar dos seus trabalhadores. Para o alcance desse objetivo, como apontou Fransceschini (2009), a análise do comportamento pode oferecer auxílios teóricos e tecnológicos extremamente úteis.
Ao tentar atuar frente a um problema pontual na organização, frequentemente o psicólogo organizacional observa que suas intervenções não tem efeito a longo prazo, pois muitas das variáveis que geram o problema sobre o qual desejam intervir permanecem inalteradas. Diversas variáveis dinâmicas afetam as organizações e, consequentemente, as intervenções do psicólogo. Por essa razão, para realizar mudanças significativas em uma organização, é preciso ir além do comportamento individual e compreender os sistemas organizacionais.
Assim, o objeto de interesse do psicólogo organizacional inclui tanto o comportamento dos indivíduos que compõem a organização quanto o comportamento da organização como uma unidade funcional. Sua função, portanto, é gerenciar as relações entre comportamento individual e comportamento organizacional (Glenn & Malott, 2004). Por exemplo, em uma fábrica de confecção de roupas, faz-se necessário compreender as contingências que controlam a produtividade dos funcionários, bem como compreender o conjunto de variáveis (ambientais e comportamentais) que se inter-relacionam no funcionamento da fábrica, gerando seus produtos. Essas variáveis estão relacionadas às coordenações entre os comportamentos dos sujeitos que integram a organização, tanto nos processos de produção, distribuição, relações com outras organizações e com o mercado externo.
CONTINGÊNCIAS E METACONTINGÊNCIAS ENVOLVIDAS EM CONTEXTOS ORGANIZACIONAIS
O comportamento dos indivíduos que compõem a organização é resultado de contingências operantes de seleção. Uma contingência operante (contingência R-S) é uma relação funcional entre uma classe de respostas (ex. montar uma peça em uma linha de produção), juntamente com um dado conjunto de efeitos dessas respostas (ex. a peça montada), e consequências contingentes à resposta (ex. bonificação por peça montada). Todavia, em contextos organizacionais, é frequente que o comportamento de um sujeito, ou os produtos de seu comportamento, estabeleça a ocasião para a ocorrência do comportamento de outros membros da organização, compondo o que vem sendo chamado de contingências entrelaçadas (Skinner, 1953/1981, 1957/1992) ou contingências comportamentais entrelaçadas - CCEs (e.g., Glenn, 1988, 1991, 2004). Por exemplo, o comportamento do funcionário responsável pela confecção dos moldes das roupas (bem como o molde por ele produzido) é parte das condições ambientais que controlam o comportamento do costureiro, que cortará o tecido de acordo com o molde, que, por sua vez, controla o comportamento do funcionário responsável por costurar as unidades, compondo uma peça. O entrelaçamento do comportamento desses diferentes sujeitos é responsável pela produção de um produto agregado ao entrelaçamento: a peça pronta, a qual será consumida pelo mercado externo. O mercado externo, portanto, funciona como o ambiente selecionador das contingências comportamentais entrelaçadas responsáveis pelo produto. A repetição dessas contingências entrelaçadas levará à produção de novas peças, enquanto variações em instâncias do entrelaçamento poderão levar a variações na quantidade ou qualidade dos produtos. A unidade funcional formada pelos comportamentos entrelaçados de diferentes sujeitos, juntamente com os produtos desse entrelaçamento, tem sido chamada de metacontingência.
O termo metacontingência (e.g., Glenn, 1986, 1988, 2004; Vichi, Andery & Glenn, 2009) foi proposto para se referir a relações de contingência/dependência entre consequências externas e a unidade formada pelo comportamento de mais de um organismo, um em relação ao outro, juntamente com os produtos desse entrelaçamento. Em organizações, metacontingências consistem em relações funcionais entre uma classe de comportamentos entrelaçados de diferentes sujeitos que compõem a organização, juntamente com uma dada classe de produtos gerados por esse entrelaçamento (os produtos finais da organização) e as consequências fornecidas pelo ambiente externo à organização (aceitação do mercado consumidor). Analogamente ao efeito do reforço operante no comportamento individual, as consequências providas pelo ambiente externo às organizações têm função selecionadora das contingências entrelaçadas que geraram o produto final da organização, ao qual as consequências externas são contingentes.
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