A Política Social No Período FHC E O Sistema De Proteção Social
Artigo: A Política Social No Período FHC E O Sistema De Proteção Social. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Feliipeerocha • 10/10/2014 • 1.367 Palavras (6 Páginas) • 477 Visualizações
A política social no período FHC
e o sistema de proteção social
Sônia Draibe
Uma homenagem a Vilmar Faria
Introdução
A política social do governo Fernando Henrique Cardoso é examinada
neste artigo tendo em vista principalmente seus efeitos sobre o sistema
brasileiro de proteção social
1
. Nesse sentido, abordarei de maneira geral o
sistemade políticas sociais e suas principais mudanças, inovações e refor-mas ocorridas nos dois mandatos presidenciais, concentrando-me nas ins-tituições da política social – orientações, princípios, regras de inclusão e
exclusão. Para isso, tomarei como exemplo alguns programas particulares.
Os estudos comparados sobre as reformas do Estado de Bem-Estar
Social (Welfare State) constituem uma profícua linha de trabalho, de pre-sença cada vez maior na literatura internacional. E não por acaso. Acom-panhando as recentes transformações do capitalismo, fortes e crescentes
pressões incidiram sobre os sistemas de proteção social, desafiados pelo
desemprego estrutural de longa duração, pela piora na distribuição de
renda, pelo aumento e diversificação da pobreza, pela redução dos recur-sos fiscais. Acrescente-se a isso a hegemonia do novo sistema de valores,
diferente e, em boa medida, hostil aos princípios de solidariedade e justiça
social que presidiram, na etapa anterior, a expansão do sistema.
1. Uso o conceito de
sistema de proteção so-cial em sentido abran-gente, com conotação
similar ao de Estado (ou
regime) de Bem-Estar
Socialou do conceito
mais recentemente
disseminado, o de So-cial Policy System.O
termo proteção reme-te à idéia de proteção
contra riscos sociais,
tanto os velhos e clás-sicos – perda previsí-vel da renda do traba-lho – como os con-temporâneos – ter em-
A política social no período FHC e o sistema de proteção social
Tempo Social – USP 64
A primeira geração de estudos examinou as mudanças pelo viés de
suas relações com os fenômenos da globalização e da hegemonia do neo-liberalismo, declarando-as destrutivas dos Estados de Bem-Estar Social,
uma vez que passaram a ser orientadas pelos dois mais caros princípios do
revivido liberalismo radical: a responsabilidade pública reduzida a políti-cas para grupos pobres, por intermédio de redes de proteção e programas
focalizados, e a responsabilidade estritamente individual, em que as pes-soas são estimuladas a assumir os seguros contra os riscos sociais, conde-nando-se assim à extinção as formas solidárias prevalecentes (cf. Sojo,
2003, p. 1). A tese do provável retorno ao Estado Mínimo circulou com
intensidade, na América Latina, especialmente após a radical reforma chi-lena de Pinochet.
Versões mais matizadas insistiram no argumento de que, com certa
independência das orientações político-ideológicas, os governos contem-porâneos tornaram-se todos eles prisioneiros do difícil dilema entre a
nova política econômicae a política de proteção social, produzindo o des-mantelamento ou, no mínimo, um recuo, um retrenchment, como quer
Pierson (1994), da proteção social. No caso dos países latino-americanos,
sob forte pressão financeira internacional, esses teriam optado radical-mente por um lado da balança – o do ajustamento fiscal e as reformas
comerciais e patrimoniais pró-mercado. Ao fazê-lo, teriam dado passos
mais significativos naquela mesma direção. Privatizações de serviços so-ciais públicos, quedas significativas do gasto social, reduções importantes
dos graus de proteção social anteriormente oferecidos teriam sido os
resultados mais palpáveis desses processos.
Ao não se confirmarem os prognósticos pessimistas do desapareci-mento do Welfare State, e ao se acumularem evidências sobre a grande
variação das experiências nacionais – nem todas elas cabendo naqueles
figurinos –, uma segunda geração de estudos deslocou o foco, passando a
indagar em que medida as alterações observaram algum padrão e, se po-sitivo, como se comportam os padrões reformistas em relação ao tipo ou,
como quer Esping-Anderson (1990), ao regimede Welfare Stateantes pre-sente: o liberal, o conservador ou o social-democrata. Entre os inúmeros
achados dessa leva de estudos, está a quase monótona constatação de que,
afinal, no plano das instituições e de organização, é significativa a perma-nência não apenas das mesmas instituições de proteção social, mas tam-bém dos mesmos regimes, sendo raríssimos os casos em que as evidências
confirmam uma efetiva mudança de modelo.
prego decente, educar
os filhos, viver nas me-galópoles, habitar e ali-mentar-se condigna-mente etc. Tais concei-tos são de maior am-plitude, portanto, que
o de seguridade social,
usualmente referido à
previdência, saúde e as-sistência social.
65 novembro 2003
Sônia Draibe
Mas
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