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A Psicose e Laço Social

Por:   •  4/1/2017  •  Trabalho acadêmico  •  1.521 Palavras (7 Páginas)  •  233 Visualizações

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Para introduzirmos uma discussão sobre psicose e laço social primeiro é fundamental analisarmos o contexto em que vivemos, nossa sociedade e a forma de lidar com a “loucura”. Sendo assim, falaremos aqui brevemente sobre a psicose pela visão da Reforma Psiquiátrica, da psiquiatria e por fim pela visão da psicanalítica. É importante frisar que não há oposição entre esses três viés, mas eles também não se igualam, a ideia aqui seria que eles se completassem.

O processo da Reforma Psiquiatrica foi fundado nos anos 70, devido à crise do modelo hospitalocêntrico e pelas lutas dos movimentos sociais que reivindicavam os direitos dos pacientes psiquiátricos, buscando ajudar o doente mental a ampliar suas relações sociais e a ter mais autonomia e tem como desafio tornar mais eficaz o trabalho como ferramenta de inclusão social de pessoas com transtornos mentais (BRASIL, 2005).

Após aproximadamente 40 anos da Reforma no Brasil, os conceitos de loucura hoje ainda carregam resquícios daquela época. Percebemos ainda, claramente, grande descaso e descuido com o “louco”, que é visto como alguém que transmite medo e perigo à sociedade, sendo então encaminhados para hospitais psiquiátricos, mesmo contra a sua vontade. A finalidade da sociedade, salvo uma pequena minoria que luta pela reforma psiquiátrica, é isolá-los, pois acreditam que são impotentes e trazem ameaça.

Mesmo com esses movimentos sociais e a criação dos CAPS, não vemos ainda a inserção desses sujeitos na sociedade. Geralmente estão encarcerados em hospitais psiquiátricos, e/ou banidos do seu “próprio eu” pelos efeitos das altas doses de medicação. Esses sujeitos são excluídos, rotulados e percebidos como ser coletivo. O sujeito não é visto, sua subjetividade é invisível, pois a sociedade continua corroborando com o poder da ciência médica, inclusive com internação involuntária.

Para a consolidação da Reforma Psiquiátrica é fundamental a construção de uma rede comunitária de cuidados. A articulação em rede dos variados serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico é crucial para a constituição de um conjunto vivo e concreto de referências capazes de acolher a pessoa em sofrimento mental. A rede de atenção à saúde mental do SUS define-se assim como de base comunitária, é um fundamento para construção desta rede a presença de um movimento permanente, direcionado para os outros espaços das cidades, em busca da emancipação das pessoas com transtornos mentais (BRASIL, 2005).

Os movimentos sociais que surgem a favor da Reforma Psiquiátrica vêm acrescentando à psicanálise a ideia de cuidar e não de curar. A ideia fundamental é que somente uma organização em rede, e não apenas um serviço ou equipamento, é capaz de fazer face à complexidade das demandas de inclusão de pessoas. É a articulação em rede de diversos equipamentos da cidade, e não apenas de equipamentos de saúde, que pode garantir resolutividade, promoção da autonomia e da cidadania das pessoas com transtornos mentais.

Analisando pelo viés da psiquiatria, percebemos que surgem cada vez mais diferentes diagnósticos, com sintomas estipulados, além de uma grande variedade de remédios. A “evolução acompanha o desenvolvimento da ciência: a novos males, novos remédios. Ou será que é o avesso – a novos remédios, pseudo novos males?” (Quinet, p.10, 1951) . Já a psicanálise continua apropriando-se das estruturas clínicas: neurose, psicose e perversão. É a partir da subjetividade de cada caso clínico que a psicanálise constrói um diagnóstico.

Atualmente não encontramos nos manuais de diagnósticos alguns tipos clássicos de neurose e psicose. Os manuais parecem mais preocupados em estipular uma linguagem médica do que em dar conta da clínica do sujeito. Segundo Quinet (1951), é possível que o distanciamento entre a psiquiatria e a psicanálise, durante a evolução desses saberes, tenha dificultado hoje em dia essa interconexão que Freud ansiava.

A psicanálise, diferentemente da psiquiatria, não se ocupa de suspender o sintoma, pois é através do sintoma que o sujeito torna-se visível, o que possibilita trabalhar questões do sujeito. O diagnóstico estrutural se dá pela dissolução do complexo de Édipo a partir do simbólico, havendo três modos de negação do Outro: recalque (neurótico), desmentido (perverso) e foraclusão (psicótico).

Os dois modos de negação que conservam o elemento implicam a admissão do Édipo no simbólico, o que não acontece na psicose A essas formas de negação correspondem as modalidades de retorno da operação de negação da castração: o retorno do recalcado no sintoma neurótico, o retorno do desmentido no fetichismo do perverso e o retorno do foracluído nas alucinações e delírios do psicótico (QUINET, p. 14, 1951).

Lacan acrescenta a clinica dos discursos à clinica das estruturas, onde passa a investigar - além das estratégias do sujeito com o desejo e o gozo do Outro - a relação do sujeito com laço social, com o saber, com os discursos sociais e culturais, como ele se insere nos discursos (QUINET, 1951).

O sujeito não é simplesmente alguém da ordem do individual, é um ser falante, que fala do Outro. É através da fala e da sua relação com o Outro – que não foi barrado - que podemos investigar o sujeito na psicose. O espaço de escuta é fundamental para que ele possa organizar melhor esse conteúdo, possibilitando lugar de existência e não somente de sujeito do Outro. “A proposta da clínica da psicose, neste sentido, ‘consiste não em fazer apelo a um sujeito que não pode responder, mas sim em criar as condições para que ali, numa existência aniquilada pela psicose, se produza essa possibilidade’” (TENÓRIO, 2001, p.124) (MEYER, p.303, 2008).

Para a psicanalise lacaniana onde há linguagem há sujeito e desejo, portanto, como o psicótico é dotado de linguagem consideramos a psicose uma estrutura clínica de um sujeito desejante. Independente do “discurso social” é através da linguagem que o psicótico tenta barrar o Outro, seja ela falada, escrita, corporal, artística ou em seu delírio. Dessa forma, não há porque reduzirmos o psicótico a um ser assujeitado

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