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A Síndrome do Pânico

Por:   •  31/10/2018  •  Trabalho acadêmico  •  3.828 Palavras (16 Páginas)  •  159 Visualizações

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APRESENTAÇÃO DO PACIENTE

Ruben, sexo masculino, 45 anos. Vive em Montevidéu com a esposa de 40 anos (dona de casa) e 2 filhos varões de 13 e 9 anos.

Trabalha em uma empresa multinacional na área comercial fazendo o trabalho de três pessoas. Foi encaminhado por seu psiquiatra para tratamento psicoterápico de transtorno de pânico. Apresenta-se na entrevista vestindo terno e gravata, usando cabelo curto, com bigode, com o tremor fino distal. Fuma durante a entrevista, falando pausadamente, com tom grave e monótono, custando-lhe as emoções.

Ruben lembra-se do primeiro ataque de pânico que foi em 18/09/97. Nesta época encontrava-se muito estressado porque havia 16 anos que não tirava férias, com muitas viagens de trabalho e com muito pessoalmente a seu encargo. Aproximadamente um mês antes um chefe gritou com ele e o destratou-o em público. Nesse momento teve um “branco” e logo sentiu uma grande angústia, vergonha e raiva de seu chefe e de si mesmo por não ter sabido reagir.

O Primeiro ataque de pânico aconteceu no hall de um hotel em Caracas, quando dava uma entrevista a um jornalista sobre assuntos comerciais. Começou a sentir enjôo, falta de ar, suor frio, seu coração batia mais forte, sentiu a boca seca e sua voz começou a tremer. Suspendeu a entrevista sentindo-se envergonhado e foi a um médico de urgência. O médico constatou que não havia nenhuma patologia orgânica e o medicou com tranqüilizante e descanso de 2 dias, pois o que lhe ocorrera não era grave. Dez dias depois, viajando de metrô, sentiu os mesmos sintomas, achando que ia morrer.  Desta vez, outro médico de urgência, ao constatar que não tinha nada orgânico em termos cardiovasculares, o encaminhou a um psiquiatra, que o diagnosticou com transtorno de pânico e medicou-o com alprazolam 1mg, dois comprimidos diários. Desde então apresentou evitação ao trabalho, dificuldades para viajar de automóvel, táxi e ônibus, sensação de menos valia e de profunda rejeição por seu chefe, que o define como um “caipira”.

Ao pedir para ser transferido e lhe é proposto ir para o Uruguai, fica incerto porque só conhecia de passagem, mas por outro lado sente um grande alívio por se ver livre do chefe responsável de quase todos os seus problemas. Hoje, além de apresentar o temor de sofrer outros ataques de pânico, sente medo de Caracas e da sua violência, medo de seu chefe que está lá, medo de ficar em fila, de dirigir, de falar em público, medo de fracassar em uma conferência e ficar estigmatizado. Apesar do medo não deixa de trabalhar e de dar conferência. Isso tudo com um desgaste emocional muito grande, pois dias antes, sente ansiedade, por estar antecipando permanentemente seu fracasso.

A preparação de suas conferências sempre lhe geram muita tensão. É leitor assíduo e guarda um fragmento de uma reportagem: “... à medida que fui me tornando mais lido, mais famoso, a dificuldade foi sendo maior. Sempre tem sido igual desde primeira vez. A única diferença é que, quando comecei a escrever meus primeiros contos, a minha insegurança era terrível porque não sabia se iria terminá-los. Agora sei que, se insisto, se trabalho, se quebro a cabeça, no final sai. Mas o trabalho é o mesmo, sempre a mesma insegurança, a mesma sensação de que é uma espécie de tortura de Sísifo, de insistir e insistir. Isto me custa muito trabalho. E, ao mesmo tempo que me agrada, tampouco tem que ser a vítima. É um trabalho que é laborioso, difícil e muito exaltante, que sinto como enormemente enriquecedor.” Isto reflete exatamente o que lhe acontece ao preparar suas conferências.

Rubens gostaria de saber: O que é pânico? Por que o pânico ocorre? Se a medicação irá me curar? Em quanto tempo?

Faz um ano e meio que Rubens vem tomando 3 a4 mg de alprazolam 1 mg e há alguns meses, cloripramina 25mg, dois comprimidos por dia. Apresenta também insônia de conciliação, pesadelos, tremor fino distal pela manhã, que às vezes o impede de escrever ou assinar, às vezes a voz falha, evita tomar café como se fosse a causa do tremor porque notarão o tremor, admitindo que está preocupado com o que dirão:”do café posso prescindir”. Fumante de dois maços diários, atualmente diz:”não acredito que possa eliminar isto totalmente”. Ejaculador precoce desde muito jovem, problema para o qual nunca se consultou. Ingere 250ml de whisky para atrasá-la. Alguns de seus pensamentos são: “Para mim as crises de pânico são iguais à covardia” e “Creio que meus medos continuarão aumentando”.

Rubens fala que seu problema com o pânico não tem relação com o uso de álcool. Reconhece que talvez esteja tomando um pouquinho de mais. “O álcool está integrado em mim: meu pai tomava, meu sogro toma, é uma questão cultural; minha família me pede que eu não beba mais, que não querem assistir ao ‘desmoramento’ de alguém que pode ser valioso, as em dúvida exageram”. Sua ingestão média diária é de 300ml de whisky de segunda à sexta e 500ml diários aos sábados e domingos. “Ele define como um autismo etílico”: ”quero evadir-me de tudo e de todos”. Em 95% das vezes bebe só para reduzir a ansiedade, para preparar material e escrever conferências. Embora atribua tal digestão à sua relação ruim com sua esposa, que na escala de 0 à 10, recebe 2. Rubens diz que sua esposa o recrimina-o por se dedicar mais a si mesmo do que a família. Ela diz que tudo é por causa do álcool. Seus filhos ficam do lado da mãe.

Rubens fala que gostaria de reduzir, mas não de eliminá-lo. A ingestão de álcool só seria nos fins de semana. Em seu país dizem que gerente que não toma whisky, não é gerente. Não se sente um alcoolista. Desejaria reduzir a ingestão de álcool para melhorar a relação com sua esposa e seus filhos. Percebe que quanto mais bebe se isola e tem medo de perder a sua carreira profissional. (Só tem consciência parcial do risco parcial ao qual se expõe  a perder tudo pelo álcool). Reconhece-se muito tímido desde jovem, com um sentimento de inferioridade por seu físico (tem estatura baixa e pele escura sem ser negra), por não saber dançar e por não saber dançar e por lhe custar encarar as meninas. Evitava as reuniões sociais, incluindo as familiares.

É o segundo de três irmãos varões:”Sempre me senti relegado quando criança, pois meu irmão mais velho era alto e bem apessoado, fazia muito sucesso e o irmão menor toca muito bem violão nas reuniões familiares. Não conseguia se destacar em nada, vivia pelos cantos. Frequentou um colégio de padres, lembrando como era m exigentes e severos em relação a disciplina.  Mas teve uma boa formação escolar.

Lembra-se de seu pai falecido há dois anos com carinho, de sua mãe que ainda vive como uma pessoa muito dominadora. Diz que sempre sofreu muito com os conflitos entre eles. Quanto aos traços  de personalidade, ele afirma ser introvertido, dominador, competitivo, perfeccionista, econômico, ambicioso, tenso, responsável, inteligente, trabalhador e recatado, evitando ira ao clube para não tomar banho na frente de outros homens.

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