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A Saudade é o revés de um parto

Por:   •  24/10/2018  •  Trabalho acadêmico  •  2.863 Palavras (12 Páginas)  •  234 Visualizações

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A saudade é o revés de um parto: um estudo acerca da resignificação do luto materno a partir do documentário “Luto como Mãe”.

Autora: Nacilda Feitoza Moreira.

Graduada pela Universidade de Fortaleza-UNIFOR.

Resumo

O trabalho tem como objetivo, a partir dos conhecimentos da Tanatologia, proceder a uma reflexão acerca da ressignificação da vida materna mediante o luto vivenciado em decorrência da morte de filhos vitimados pela violência a partir do documentário Luto como Mãe. Para tal estudo se fez necessário contextualizar o luto a partir da visão da morte nas diferentes culturas e religiões, uma vez que toda religião se funda na morte e sempre dá um significado transcendente à vida, conseqüentemente influenciando as pessoas. Em termos metodológicos, a pesquisa é de cunho qualitativo, de caráter exploratório, proporcionando uma familiaridade maior com o assunto em estudo, objetivando torná-lo mais explícito; para tal utilizar-se-a o referido documentário dirigido por Luís Carlos Nascimento, do ano de 2009. Os resultados parciais apontam para um olhar retrospectivo de como a morte veio ao longo do tempo (ÁRIES, 1990), como o homem lida com ela e se processa o luto, bem como quais suas transformações. A partir do exposto, a título de conclusão, o estudo sugere que a morte de um filho por ser um evento extremamente traumático para a mãe, busca-se compreender o sentido da maternidade ou o significado que tal perda representa dento do processo do luto.

Palavras-chave: Tanatologia. Violência. Documentário.

Introdução

Este trabalho refere-se ao luto materno em decorrência da violência, cuja questão central é a maneira como se lida com esta morte, uma vez que o medo da morte é cultural e de conotação religiosa, visto que não existe nenhuma sociedade sem religião. Assim sendo, Ariés (1990) mostra como a morte veio ao longo do tempo.

A morte é um acontecimento carregado de dor e saudade e uma morte repentina desencadeada através de uma violência generalizada que se vivencia; consiste em uma perda traumática. Logo, uma mãe que perde um filho vítima de assassinato como é relatado no documentário “Luto como Mãe”, é considerada vítima indireta da violência. Essa dor pela ausência de seu filho considerado pedaço de si não pode ficar na invisibilidade. Em virtude disso, o documentário se propõe a narrar não à morte, mas sim as lutas dessas mulheres para sobreviver através da passagem do luto à luta por justiça como forma de humanizar seu ente querido e também como um consolo para o seu coração na busca de sentido para seguir em frente. A violência não pode ser encarada como uma fatalidade. Quem vivencia a perda do seu ente querido nunca esquece, uma vez que esquecer seria o mesmo que permitir.

A morte é tida como um tema-tabu intransponível, camuflada, caracterizada pelo silêncio. Este, por sua vez, fora imposto pela sociedade, tornando a expressão da morte - os sentimentos, gestos, palavras e atitudes quase inaudíveis.

 A seguir serão apresentados a metodologia e os resultados parciais da pesquisa.

Metodologia

        O presente trabalho tem como metodologia de pesquisa a abordagem qualitativa, de caráter exploratório, proporcionando uma familiaridade maior com o assunto em estudo, objetivando torná-lo mais explícito por meio de uma investigação acerca da resignificação materna mediante a perda dos filhos a partir do documentário “Luto como Mãe”.

        Para realizar esta pesquisa, num primeiro momento, procedeu-se a uma revisão da literatura sobre a maternidade, a morte, o luto. Num segundo momento analisar-se-à, o referido documentário dirigido por Luís Carlos Nascimento, no ano de 2009. O diretor fez de “Luto como mãe” um desabafo, a partir da retratação do rosto feminino da violência armada do Rio de Janeiro, palco de execuções sumárias e arbitrárias. Cada morte arrasta consigo a dor de quem fica, afetando todo o seu círculo social, especialmente a família. O documentário centra-se nas histórias destes sobreviventes, maioritariamente mulheres, e no seu ritmo de passagem do luto à luta por justiça.    

        Diante dessa realidade uma pergunta se faz presente, o que vem depois da violência? A morte dos filhos paralelo à luta das mães. O documentário visa mostrar o que a mídia não diz ou distorce; o silêncio depois das manchetes dos jornais no dia seguinte; uma banalização da vida em paralelo a dor que não se mede, não se finda. E, nesse sentido o cinema tem uma função social, a partir da consciência de que cada vez mais os jovens estão morrendo, as mães estão chorando e isso não para é que o documentário foi produzido para dar conta dessa realidade que assola tantas famílias, mudando o rumo de suas histórias para sempre.

        Um ilustrativo de tal dor pode ser observado na letra da música da abertura do documentário, no qual diz “[ ...] Ao ver você alvejado por vários tiros, daria a vida para ver de novo o seu sorriso; a saudade deixada ao sua mãe ver sua foto. Refém do vício, da morte não tinha medo, não ouviu meus conselhos, nem todo amor que sinto pode fazê-lo viver. Como vai ser quando o caixão descer?”

        Essas mulheres são vítimas indiretas da violência armada, tendo perdido os filhos brutalmente assassinados em espaços populares. O documentário consta de oito relatos de mulheres de diferentes regiões do Rio de Janeiro, cada uma falando de sua dor e da realidade vivenciada, onde buscam a transformação da dor em luta. Luta esta pela vida, uma vez que esquecer seria o mesmo que permitir.

        A produção deste documentário intenta também narrar não a morte dos filhos, mas sim as lutas das mães, através do desabafo das experiências de perda, do luto, dos obstáculos, além das conquistas e do companheirismo que caracterizam todo esse percurso que parece não ter fim.

        Ressalta-se, ainda, que o ato de informação parece ser por demais ausente na sociedade brasileira, visto que grande parte das pessoas desconhece a realidade vivenciada por essas mulheres, o sofrimento advindo disso e muitas vezes à realidade dos homicídios, mesmo estando tão próximo destes. Em virtude disso, o documentário veio proporcionando um efeito multiplicador positivo a partir do momento que a invisibilidade da lugar a visibilidade.

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