A TEORIA SOCIONOMICA DE JACOB LEVY MORENO
Por: sarasilvaa • 28/5/2022 • Trabalho acadêmico • 3.090 Palavras (13 Páginas) • 408 Visualizações
A TEORIA SOCIONOMICA DE JACOB LEVY MORENO
Moreno (1978, 1992) é o criador da Teoria Socionômica e de seus três grandes ramos, a sociodinâmica, a sociometria e a sociatria. A socionomia é definida como
[...] ciência das leis sociais [...] A antiga dicotomia qualitativo versus quantitativo é resolvida na socionomia de nova maneira. O ‘qualitativo’ está contido no ‘quantitativo’, não é destruído ou esquecido, mas sempre que possível tratado como uma unidade. (MORENO, 1993, p. 33).
A sociodinâmica é caracterizada por ele como “a ciência da dinâmica dos grupos sociais, isolados ou unidos” (MORENO, 1993, p. 33) e a sociometria é compreendida como “o estudo da estrutura psicológica real da sociedade humana [...] a estrutura raramente é visível na superfície dos processos sociais; consiste em complexos padrões interpessoais que são estudados por métodos quantitativos e qualitativos” (MORENO, 1978, p. 298-299 – rodapé). A sociatria, por sua vez, envolve três metodologias de investigação e tratamento: o psicodrama, o sociodrama e a psicoterapia de grupo. Usualmente, utiliza-se o termo psicodrama para designar o corpo teórico total da obra de Moreno.
Para introduzir algumas categorias teóricas da socionomia, particularmente da sociometria, vou começar pela forma como compreendemos o ser humano. Com base nas concepções de Moreno (1978, 1983, 1984, 1992, 1993), articulo a visão de homem do psicodrama como estando centrada em três grandes eixos: o ser espontâneo-criador, o ser de ação e o ser de relação.
O ser espontâneo-criador abre espaço para a compreensão do ser humano como um gênio em potencial, dotado de uma espécie de prontidão para responder tal qual é requerido, à medida que se envolve com e no momento da experiência. No
início de toda ação humana está, ou deveria estar, o aquecimento, o envolvimento com a cena que se desenrola, com o momento que se apresenta cheio de possibilidades. É por isso que, para Moreno (1978), o aquecimento é a primeira manifestação operacional da espontaneidade. O aquecimento se subdivide em arranques físicos e mentais, o que equivale dizer que quando nos envolvemos com uma situação, nosso corpo vivencia os primeiros impactos, as emoções se desencadeiam e nossa mente começa a inquietar-se, a produzir imagens, a entrar em ação. A espontaneidade entra em cena, tal qual um catalisador, e provoca a criatividade (substância) apreendida na resposta nova e adequada a uma situação velha ou inusitada. Passado o momento da criação, o produto final transforma-se em conserva cultural (matriz em que uma idéia criadora é guardada para sua preservação e repetição) e poderá ser novamente revitalizado mediante novos aquecimentos. Assim é que a espontaneidade está sempre articulada a três outras categorias: à criatividade, ao aquecimento e também à conserva cultural.
A conserva cultural é apresentada por Moreno (1978) como uma categoria tranqüilizadora que tem duas finalidades: orientar o sujeito em situações ameaçadoras e assegurar a continuidade da herança cultural. Quanto mais se desenvolveram as conservas culturais, mais força ganhou sua influência e mais raramente as pessoas utilizavam os recursos espontâneo-criadores. Aos poucos, os sujeitos humanos passaram a depender cada vez mais da sociedade da conserva.
Há outro aspecto fundamental nesta análise que estou construindo. Moreno (1992) fala em forças sociais que podem tanto oferecer apoio a esse ator espontâneo como também inibir sua ação. Ele afirma que:
O homem não é apenas condicionado pelo ambiente natural, mas também pela sociedade humana, por sua estrutura social. O lado econômico é somente uma fase desta estrutura, escondendo a estrutura psicológica da
sociedade que se encontra abaixo da superfície, mais difícil de ser verificada. Para seu progresso, foi necessária metodologia modificada. Em vez de desenvolver pesquisa da organização geográfica em sua relação com os homens e suas ocupações, desenvolvemos pesquisa de dentro para fora da sociedade. Os canais e estruturas como construídas pelo homem – famílias, escolas, fábricas, etc. – tinham de ser apresentados em seus desdobramentos interiores. Era assim obtida ilustração geográfica e psicológica ao mesmo tempo, a “geografia psicológica” de uma comunidade. (MORENO, 1992, p. 123).
Ora, é exatamente no contexto dos desdobramentos interiores, da estrutura psicológica da sociedade que estão inseridos os estudos de Moreno.
A organização dos cursos de pós-graduação propõe algumas parcerias sociométricas que precisam ser investigadas: a dupla orientador-orientando; os subgrupos de cada orientador; os subgrupos entre os colegas mestrandos; os subgrupos entre os colegas professores; os subgrupos das linhas de pesquisa; as afinidades e incompatibilidades, mútuas ou não; enfim, uma sorte de idas e vindas emocionais, já que todas essas configurações citadas anteriormente são dinâmicas, mutáveis e se articulam às possibilidades de ações espontâneo-criadoras que estão na base de um sujeito capaz de produzir pensamentos reflexivos reveladores de autonomia crítica. Esse é o terreno da investigação sociométrica e sociodinâmica.
O ser de ação, por sua vez, inaugura espaço para o entendimento da ação como jogo de papéis (papel e contrapapel), que envolve uma cadeia de espontaneidade-contraespontaneidade, a qual se alimenta de fenômenos no campo da sociometria (das relações) e que significa sempre algo mais do que organismo em movimento físico. Como já afirmei em trabalhos anteriores sobre psicodrama (BARROZO, 1999, 2004), um organismo pode estar em movimento por meio de comportamentos e não estar em ação; também pode estar parado, no sentido de movimento físico, e estar em ação. Um não exclui o outro. É exatamente quando o
indivíduo se envolve com a situação e com os outros que dela participam, ou seja, quando se aquece, que ele deixa de ser organismo em movimento físico e passa a ser ator em ação. É por isso que o ator para o psicodrama é o contrário do ator do teatro clássico, que representa papéis escritos por outros autores que não ele mesmo. O ator psicodramático é todo aquele que se envolve com a própria vida acontecendo, com as pessoas, com as situações, enfim, alguém que se experimenta em desenvolvimento contínuo. Moreno (1992) refere-se ao psicodrama como ciência da ação, enfatizando que uma experiência social começa com “você” e “eu”, com encontros e conflitos. Começa com dois verbos, ser e criar, e com três substantivos, atores, espontaneidade e criatividade.
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