ANÁLISE DOS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO DOS TEXTOS “ACORDEI DOENTE MENTAL” E OS “LOUCOS, OS NORMAIS E O ESTADO” DE ELIANE BRUM
Por: Brisana Indio • 6/12/2019 • Trabalho acadêmico • 1.060 Palavras (5 Páginas) • 511 Visualizações
ANÁLISE DOS PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO DOS TEXTOS “ACORDEI DOENTE MENTAL” E OS “LOUCOS, OS NORMAIS E O ESTADO” DE ELIANE BRUM
No texto “Acordei Doente Mental” é possível observar um poderoso dispositivo de agenciamento na contemporaneidade - a indústria psiquiátrica e a farmacêutica. Que por intermédio das publicações de edições do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders- (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mentais) vêm transformando em “anormalidade” o ser “normal”- o cotidiano da vida. O que reflete em processo de patologização e medicalização da vida há exemplo, Eliane Brum traz a patologização da infância que tem resultado em excessivos diagnósticos e uso abusivo de medicação em crianças, destaque para a Ritalina.
Eliane Brum evidencia “Está cada vez mais difícil não se encaixar em uma ou várias doenças do manual (...). A psiquiatria conseguiria a façanha de transformar a ‘normalidade’ em ‘anormalidade’. O ‘normal’ seria ser ‘anormal’”. E diante tal trecho podemos refletir sobre dois dispositivos de poder que agenciam nossa subjetividade no contemporâneo, discutidos por Guattari e Deleuze, que seriam a sujeição social e a servidão maquínica. A sujeição social seria a produção e atribuição de papéis sociais dentro e para a divisão do trabalho/da sociedade, como o sexo, profissão, identidade, nacionalidade, classe social e dentre outros. Já a servidão maquínica seria o modo de controle e de regulamentação de uma máquina social ou técnica, advinda do Estado, como uma fábrica, empresa, no caso dos textos em análise da indústria psiquiátrica e farmacêutica. De modo, que ambos estão interligados nesse processo de relação de agenciamento e forças.
Como retratado no texto “Acordei Doente Mental” as relações de poder estão bem postas no cenário capitalista frente ao processo de disputa interna pelo mercado mundial que gera rentáveis bilhões de dólares. Eliane Brum elucida que “ (...) para cada nova patologia, abre-se um novo mercado para a indústria farmacêutica”. Basta ver, o DMS é o manual mais utilizado pelos médicos em praticamente todos os países e é utilizado como base no sistema de classificação de doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Todo esse processo resulta em uma normatização da vida, do social, do eu, ou seja, reflete em um processo de sujeição social, onde as relações de poder ditam quem somos, como devermos ser, quem deveremos ser, como viver, que seriam os modos de vida produzidos no decorrer da humanidade. O Estado acaba por exerce a função de determinar quem não pode viver em sociedade, como podemos observar na leitura do texto “Os loucos, os normais e o Estado” que discorre sobre o genocídio em terras brasileiras, ocorrido ao longo do século XX, no município de Barbacena (MG), onde cerca de mais de 60 mil pessoas morreram no maior hospício do Brasil. História essa retratada no Livro “Holocausto Brasileiro” de Daniela Arbex.
Viver na Colônia, bem como nas inúmeras instituições psiquiátricas no Brasil e no Mundo, era viver em um processo de desnudação do corpo, da identidade, do eu frente a um silenciamento da existência. Era degradante as situações que as pessoas estavam inseridas, os tidos “loucos” pela sociedade, que na verdade sete em cada dez pessoas internadas no hospício não tinham diagnóstico de doença mental, e sim, eram epiléticos, alcoolistas, homossexuais, prostitutas, mendigos, militantes políticas, meninas grávidas, esposas insubmissas pelos seus maridos. Muitos morriam devido as péssimas condições de vida e de sobrevivência, morriam de frio, de fome, de doença e de choque, sendo um verdadeiro holocaustos ocorrido entre os muros do Colônia. Um verdadeiro encarceramento social, refletido pelo processo de servidão maquínica advindo do Estado e da lógica capitalista.
É possível observar uma concepção de Saúde Mental muito respaldada no modelo biomédico que atribuem ao medicamento a ideia de “formula mágica” que resolver todos os sintomas patológicos. O que interfere nas políticas governamentais de saúde pública, atravessado por uma lógica positivista sobre o tratamento da loucura. Desse modo, se
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