AS TEORIAS E SISTEMAS EM PSICOLOGIA
Por: Emile Almeida • 29/8/2019 • Trabalho acadêmico • 1.381 Palavras (6 Páginas) • 241 Visualizações
PSIC0067 - TEORIAS E SISTEMAS EM PSICOLOGIA I [pic 1][pic 2]
Aluna: Emile Santos de Almeida
QUESTÕES
- O que é resistência para a clínica psicanalítica?
- Como se articula com a política?
- Qual atitude devemos ter com ela (resistência)?
Uma palavra pode se apresentar de forma desuniforme semanticamente, isto é, denotar múltiplos significados. Desse modo, o termo “resistência” alinha-se com esse panorama de multiplicidade, comportando acepções, ou seja, a significação pode mudar de acordo com o contexto em que ela está submersa. Assim, genericamente, de forma despreocupada, no senso comum abarca o uso corriqueiro simplório vulgarizado ou, em contrapartida, nos campos específicos do conhecimento, como a mecânica e a eletricidade, o seu uso mostrar-se encaixada em uma configuração meticulosa particular cientificamente. Do mesmo modo, na psicanálise o termo apresenta uma especificidade conceitual perante o contexto.
Na psicanálise, a “resistência” adota um sentido, notoriamente, sui generis e, por sua vez, é extremamente propagado, conquistando, por conseguinte, uma elevação proeminente no quadro dos principais conceitos psicanalíticos. Dessa forma, em resumo, dois dicionários psicanalíticos de alto destaque definem, de forma não excludente, a resistência. Em primeiro plano, como "o conjunto das reações de um analisando cujas manifestações, no contexto do tratamento, criam obstáculos ao desenrolar da análise" (ROUDINESCO & PLON, 1998, p. 659), ou, em segundo plano, "tudo o que, nos actos e palavras do analisando, se opõe ao acesso deste ao seu inconsciente" (LAPLANCHE & PONTALIS, 1988, p. 595-6). A ênfase no que se refere a significação do termo, conforme os dois autores, dar-se por conta da importância do fenômeno da resistência no surgimento da psicanálise.
O conceito de resistência, nas obras de Freud, não se apresentou de forma estática na linha do tempo, isto é, modelou-se aos avanços explicativos contextuais, adjunto das significações díspares. Diante desse panorama, nota-se, em síntese, em conformidade com Mattos (2010), um conjunto de cinco categorias: (1) a resistência da doença, (2) a resistência do organismo, (3) a resistência à hipnose e à sugestão, (4) a resistência na lógica neurológica e, por fim, (5) a construção do conceito no que se refere ao quadro psicanalítico. Conclui-se, a partir disso, a importância dada por Freud a resistência, visto que, o autor, despendeu-se em investigar e teorizar a respeito da resistência em diferentes ocasiões de sua obra (CANAVÊZ, 2015), no entanto, cabe salientar que
O conceito de resistência faz sua aparição mais relevante ao ser apresentado por Freud como a marca de um obstáculo ao tratamento psicanalítico. O tratamento em psicanálise possui como única regra a associação livre de ideias. Portanto, quando essa associação torna-se impedida de alguma forma, seria resultado da resistência (CESÁRIO, 2012, p.1).
Na clínica, a resistência abrolha como força antagônica a qualquer investida de rompimento do isolamento posto pelo recalque a um conjunto de representações. Dessa maneira, a todo momento que a atividade de análise se aproxima de uma representação recalcada, a resistência aparece, tentando atalhar essa atividade, como empecilho à rememoração. Ante esse acontecimento clínico da resistência, Freud abandona paulatinamente a sugestão resoluta prevalente nas técnicas da hipnose e da pressão e, em compensação, começou a galgar uma estrada singular, passando a apostar no fluxo de associações livres do paciente, sem compulsão, sem censura (VENTURA, 2009).
Cabe ressaltar que, a princípio, idealmente, a hipnose apresentava-se como um mecanismo intermediador em prol da eliminação dos sintomas histéricos. A resistência é tida como obstáculo que deve ser superado para o prosseguimento de um tratamento eficaz. Para isso, o médico precisava extinguir a insubordinação do paciente. A forma incisiva obrigatória de eliminar a resistência, na hipnose, dá margem a uma discussão relevante no que tange a relação de poder entre médico-paciente. O médico invadia o poder que o analisando tinha de resistir. Diante desse cenário de dominação por parte do médico, Freud, posteriormente, tece críticas ao método hipnótico, uma vez que é negado ao paciente a preservação dos seus poderes. A relação hipnótica, de certo modo, assemelhava-se a uma interação entre oprimido-opressor.
Em contraste, para Freud, na clínica psicanalítica, a relação entre analista-analisando não deveria ser pautado na sonegação da possibilidade do analisando resistir. Assim, em vias de execução, o caminho a ser trilhado pautar-se-ia na preservação dos poderes do paciente e, em complemento, até certo ponto, conter os poderes dos analistas. Em suma, em termos políticos, deveria prevalecer uma ética regulatória entre ambas as partes. Ao invés de rechaçar incisivamente a resistência, o analista precisava entender a importância desse fenômeno na dinâmica psíquica.
Ora, se as histéricas resistiam à revelação daquilo que as fazia caírem doentes, era preciso apostar na importância destas resistências e, além disso, questionar se os sintomas não funcionariam como algo a ser preservado, a despeito do sofrimento que acarretavam. Desse modo, embora o analista precisasse tomar a superação das resistências como o fio norteador de sua prática, era necessário recuar para compreender porque eram tão necessárias para as pacientes (CANAVÊZ; HERZOG, 2011, p. 112).
Idealmente, cabe frisar que a única influência que se permitiria fazer ao analisando é o convite ao falar. Enfatizar o “falar” e o “fale mais” é a linha mestra da condução psicanalítica. A priori, visa-se a fala do paciente e somente, a posteriori, a fala do psicanalista. Em conformidade com o texto Recomendações ao Médico que Pratica a Psicanálise, foram postuladas um conjunto de indicações para a conduta clínica dos psicanalistas. Na clínica, em especial, a ambição terapêutica devia ser suprimida, haja vista que, segundo Freud, “nas circunstâncias de hoje, um afeto perigoso para o analista é a ambição terapêutica de realizar, com seu novo e discutido método, algo que tenha efeito convincente em outras pessoas” (FREUD, 1912, p. 115). Assim sendo, a ambição ao invés de ser um paliativo positivo, em contrapeso, tornar-se-ia uma problemática no entrave do analista perante a resistência do paciente, pois, “isso não apenas o coloca numa disposição pouco favorável para o trabalho, como também o deixa inerme ante determinadas resistências do paciente, cujo restabelecimento depende em primeiro lugar, como se sabe, do jogo de forças dentro dele” (FREUD, 1912, p. 115). Infere-se, portanto, que ao abrir mão da ambição fica mais fácil lidar com a resistência, isto é, com o direito a resistência do paciente.
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