Adolescência - fator biológico ou social?
Por: Giovanna Ferreira • 24/11/2015 • Trabalho acadêmico • 6.320 Palavras (26 Páginas) • 411 Visualizações
[pic 1]PONTÍFICA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
GIOVANNA FERREIRA
JENNIFFER S. DOS REIS MANÇAN
ADOLESCÊNCIA
Londrina
2014
INTRODUÇÃO
Existe certa confusão entre os termos adolescência e puberdade, mesmo entre os profissionais que trabalham nessa área. Apesar de serem termos diferentes, estão estritamente relacionados, e não podemos falar de um sem citar o outro.
Puberdade (de puber, pêlos) é um processo biológico que inicia, em nosso meio entre 9 e 14 anos aproximadamente e se caracteriza pelo surgimento de uma atividade hormonal que desencadeia os chamados “caracteres sexuais secundários”. A adolescência é basicamente um fenômeno psicológico e social. Esta maneira de compreendê-la nos traz importantes elementos de reflexão, pois, sendo um processo psicossocial, a adolescência gera diferentes peculiaridades conforme o ambiente social, econômico e cultural em que o adolescente se desenvolve (Outeiral, 2008 p. 3).
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é considerado como adolescente todo o indivíduo em idade entre doze e dezoito anos. Mas será que sempre foi assim? Será que o conceito de adolescente tal qual conhecemos hoje sempre existiu? É possível que o conceito de adolescência tenha sido modificado ao longo dos anos juntamente com as transformações que ocorreram na sociedade? Quando se iniciaram as pesquisas a respeito da adolescência? E ainda, a adolescência é uma fase biológica e natural a todo indivíduo, ou é um conceito interiorizado e criado pela sociedade?
OBJETIVO
O objetivo geral é discutir se a adolescência é uma fase da vida natural a todo indivíduo ou se é um processo construído e naturalizado pela sociedade ao longo dos anos.
MÉTODO E PROCEDIMENTO
A dupla do presente trabalho utilizou como método a pesquisa exploratória em livros e revistas eletrônicas. O procedimento utilizado foi a leitura de livros, artigos acadêmicos e artigos de revistas eletrônicas.
DESENVOLVIMENTO
As primeiras pesquisas sobre a psicologia do desenvolvimento, com base científica, datam a partir do final do século XIX e início do século XX, na Europa. “Transformações ocorridas no registro epistêmico dos saberes determinaram as condições de possibilidade para o surgimento de novos campos de conhecimento, como por exemplo, a biologia e as ciências humanas, que tomam o homem como objeto de investigação” (César, 2008 p. 35). A partir do surgimento de uma nova forma de investigação, empírica, as ciências renovadas pelo positivismo, deram início a investigações sobre a evolução da vida e do homem em todos os seus aspectos. Nesse momento, ganha força a psicologia do desenvolvimento que passa a ter como objeto de investigação o reconhecimento da infância.
Somente a partir do século XX é que a adolescência se torna objeto de investigação das ciências médicas e psicopedagógicas. Junto com o surgimento do novo objeto científico, surgem também as investigações a respeito das instituições que deveriam assegurar e amparar o “adolescente”, tais como, as escolas seriadas e secundárias, as instituições jurídicas e correcionais próprias para a infância e juventude, o novo modelo de família burguesa centrado na educação dos filhos e etc. As novas instituições, criadas ou remodeladas pelo discurso médico e psicopedagógico, surgiram em virtude da necessidade de instituir dispositivos apropriados para a educação de crianças e jovens com o objetivo da produção de novos sujeitos (César, 2008 p. 36). As novas preocupações acerca da infância e adolescência tinham como objetivo principal, a produção de um adulto ideal que servisse e se encaixasse em uma Europa que estava se modernizando e transformando suas relações econômicas e sociais.
Anteriormente ao século XX não havia um interesse no estudo das mudanças advindas da adolescência. A criança passava direto para a fase adulta, não havia então uma preocupação com o período de transição entre as duas fases, uma estava diretamente sobreposta à outra, por isso, tudo o que foi construído sobre a adolescência, durante o mesmo século, se tornou o “solo comum”, como diz Maria Rita de Assis César. As pesquisas realizadas e os conceitos utilizados hoje estão pautados nesse “solo comum”. “É evidente que as caracterizações atuais se distanciaram daquelas realizadas há quase cem anos, mas suas bases fundamentais, lançadas nos primeiros estudos psicopedagógicos e repetidas à exaustão durante um século de investigação da adolescência, ainda permanecem”. (César, 2008 p. 26).
Maria Rita nos leva a refletir sobre como a ciência que estuda a adolescência tem contribuído para uma caracterização típica dessa fase da vida. A adolescência é vista como um período em que o jovem está em crise consigo mesmo e com o mundo, sem compreender as mudanças que estão acontecendo com o seu corpo e as novas regras e responsabilidades que estão sendo impostas pela sociedade e pelos pais. Ao mesmo tempo em que ele não é mais criança, ainda não é um adulto. Os adolescentes externam esse conflito de diversas maneiras, por isso a caracterização da fase como sendo de rebeldia, pois eles não aceitam as novas regras, não se sentem capazes ainda de assumir as novas responsabilidades, mas ao mesmo tempo querem alcançar o status de adulto. Mesmo antes da criação do conceito de adolescência e do início das pesquisas científicas sobre o assunto, muitos filósofos, sociólogos, já caracterizavam essa fase.
Para Maria Rita César a realização de pesquisas sobre a adolescência pressupondo a sua compreensão como uma etapa da vida marcada de maneira inerente pela ideia de crise, significa persistir na desconsideração do caráter histórico dessa concepção (César, 2008 p. 27), ou seja, o pesquisador está contribuindo para manter uma naturalização de conceitos sobre a adolescência quando concebe o adolescente como um sujeito em crise, comprometendo dessa forma a pesquisa, pois o objeto estudado já é conhecido em essência, o que impossibilita a reflexão e a chegada à novas conclusões. É necessário então, de acordo com ela, que o pesquisador desconstrua essa figura pautada no senso comum. Maria Rita não nega que existam crises durante a adolescência, porém acredita que alguns “sintomas” ganharam vida própria, e essa reprodução de concepções e metodologias de pesquisa da adolescência baseadas nos pressupostos que a fundaram como problema e obsessão, apenas contribui para a reduplicação das perplexidades e dificuldades que os próprios trabalhos pretenderam sanar desde o princípio (César, 2008 p. 28).
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