TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Ajuda E Dialogo

Pesquisas Acadêmicas: Ajuda E Dialogo. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  14/9/2013  •  3.093 Palavras (13 Páginas)  •  391 Visualizações

Página 1 de 13

AJUDA E DIÁLOGO

A experiência é comum, tão comum que quase nos passa desapercebida: alguém pede ajuda a um outro que tenta corresponder. Um cristão procura seu diretor espiritual ou seu pároco, uma mãe de família expõe a sua situação a uma assistente social, um delinqüente se entretém com uma reeducadora, ou simplesmente um homem ou uma mulher se dirigem a um de seus semelhantes, em quem confiam, a fim de falar-lhe de problemas mais ou menos complicados com que estão às voltas.

Não é fácil conseguí-lo! Quantos de nós não tivemos já ocasião de sentir a nossa incapacidade para corresponder ao pedido do próximo. Quanta gente em dificuldade não ficou, dum encontro do qual muito se esperava, com o sentimento de não ter sido compreendida. O fracasso da ajuda é um fenômeno bastante comum para que alguns creiam poder concluir: ninguém nunca ajuda a ninguém. Cada um deve resolver por si mesmo. E se acontece que, não poucas vezes, o que pede sai do encontro momentaneamente aliviado, fato é que ele recai depressa nas suas dificuldades e tudo tem que começar de novo. O assistido social pede novos auxílios, o dirigido novos encorajamentos e novos conselhos. Desse modo, alguns se instalam numa situação de assistidos perpétuos, sem que a ajuda que se lhes oferece tenha por resultado colocá-los em melhores condições de agir por si mesmos frente aos seus problemas.

Também não é raro que a resposta ao pedido pareça depender de fatores a respeito dos quais nada se pode fazer. Uma esposa quereria que você a ajudasse a restaurar a união no seu lar, mas o marido não se preocupa absolutamente nem pede nada a você; a situação dessa família é tão miserável, a sua reputação é tal que é praticamente impossível reunir as condições que parecem necessárias para fazê-la emergir de sua angústia. Um homem maduro acha-se de repente desprovido de recursos e lhe telefona, pedindo-lhe trabalho: você não tem um para indicar-lhe, nem vê ninguém a quem possa enviá-lo, etc. ...

Assim como o pedido de ajuda é cotidiano, assim também a resposta a esse pedido se revela muitas vezes difícil, inadequada, decepcionante para o seu interlocutor. É sobre esta situação que queríamos refletir. Se nem sempre podemos ajudar as pessoas como elas o desejariam e como nós o desejaríamos, não será possível, contudo, dar-lhes uma resposta que as ponha em condições de se movimentarem, de tomarem sobre si a carga de seus problemas, numa palavra, de se ajudarem a si mesmas? No próprio diálogo que se estabelece entre nós, não haverá possibilidade de ajuda, que deixamos de aproveitar? Ainda mais, se dispuséssemos de todos os poderes e soubéssemos perfeitamente o que convém ao nosso interlocutor, poderíamos ajudá-lo realmente, sem pô-lo em condições de utilizar-se dos meios postos à sua disposição e de reconhecer pessoalmente onde está o seu bem? O que um sujeito humano pede não é afinal, ser ajudado a tornar-se um sujeito? O diálogo é o lugar próprio desse “tornar-se”, se soubermos conduzi-lo com inteligência e com amor. Concebendo a nossa ajuda como prioritária na linha da satisfação dos desejos e necessidades do nosso interlocutor, ou na da afirmação do que se deve pensar e fazer, esbarramos necessariamente em impasses que é necessário por em evidência.

Não é fácil resistir à tendência que nos induz a responder ao nosso interlocutor no mesmo plano em que parece situar-se o seu perdido. É preciso socorrê-lo imediatamente, mesmo que tivéssemos de gastar com isso as nossas forças e a nossa saúde. É preciso manifestar aquela afeição que o outro diz ter-lhe faltado. É necessário responder à objeção que põe em dúvida a bondade de Deus, é necessário lamentar esse pobre coitado que se lamenta, é preciso manifestar a nossa idéia ao que nos pergunta o que pensamos. Satisfazer aos imediatos desejos e às necessidades na medida compatível com os valores que professamos, gastar-nos sem calcular, parece-nos, à primeira vista, a melhor forma de ajudar. Contudo, quantos fracassos neste modo de agir.

Aceitando o papel daquele que pode satisfazer aos desejos e às necessidades, estabelecemos entre o nosso interlocutor e nós uma relação de dependência, relativamente a um poder-providência. Ora, tal relação, longe de ajudar o sujeito a resolver seus problemas, outra coisa não faz senão perpetuá-los, quando não acrescenta outros novos. É comum ouvir-se dizer que não se deve esperar gratidão da parte daqueles a quem se ajuda dessa maneira, muitas vezes às próprias custas. Fica-se admirado dessa “ingratidão”. Nada, porém, é mais compreensível quando se olha mais de perto.

Dar imediatamente o que o outro pede, é fazer como a boa mãe ou o bom pai que o nosso interlocutor, em geral, não teve, é dar corpo à imagem dum poder – na verdade, perdido – capaz de satisfazer passivamente aos pedidos. Daí a repetição indefinida dos mesmos pedidos ou de pedidos semelhantes. O dirigido virá regularmente mendigar encorajamentos, sem nunca sair de seus problemas, ou perguntar que é que deve fazer, sem jamais tomar em suas mãos o seu próprio destino. O assistido social não poderá mais prescindir da assistência que lhe presta socorro sobre socorro. A ajuda, sempre precária, é continuamente solicitada de novo, como se nunca se fizesse bastante.

Realmente, nunca se faz bastante dessa maneira. Os desejos cuja satisfação fica dependente da providência de outro e do seu poder imaginário, têm um aspecto reivindicativo; e a não ser que nos tornemos escravos deles, não poderemos deixar de decepcioná-los. Aquele que dá poderia dar mais, e se lhe quer mais mal pelo que ele não dá do que se lhe é grato pelo que dá. Daí essa mistura de amor e agressão, essa ambivalência de sentimentos que se tem para com aquele que ajuda a você dessa forma. Não é necessário buscar longe o motivo dessa ingratidão, da qual falávamos, dessas rupturas inesperadas que deixam muitas vezes desamparado o que ajuda.

Para dizer a verdade, ele tem sua responsabilidade nessa situação. Pois, numa relação de ajuda dessa espécie, o pedido não tem sentido único. O sacerdote, a assistente social, a reeducadora, o conselheiro, pedem também alguma coisa ao que se dirige a eles. Esperam que este último se deixe ajudar que lhes testemunhe sua satisfação, que os reconheça e os encare como a sua providência. Daí o cuidado inconsciente que têm de manter o interlocutor em sua dependência para com eles; daí também a decepção que sentem quando não lhes é demonstrado reconhecimento. É então que eles respondem, quer por uma rejeição mais ou menos dissimulada, quer por um desânimo que os deixa abatidos, quer ainda por uma atitude de “menosprezados”, na qual encontram

...

Baixar como (para membros premium)  txt (18.6 Kb)  
Continuar por mais 12 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com