Análise filme Minha Vida em Cor de Rosa
Por: bruna.chiocca • 17/3/2016 • Trabalho acadêmico • 2.150 Palavras (9 Páginas) • 3.868 Visualizações
Universidade do Contestado – UNC
Campus: Concórdia
Curso: Psicologia
Fase: 8º
Disciplinas: Teorias e Técnicas Psicoterápicas Gestalt-Terapia
Teorias e Técnicas Psicoterápicas Infantis
Professores: Fernanda Zardinello
Fabia Farina
Acadêmica: Bruna Chiocca
Análise do filme “Minha Vida em Cor-de-rosa”
O filme “minha vida em cor de rosa” conta a história de Ludovic, um menino de 7 anos que vivia com seus pais, e seus irmãos, e que convivia muito com sua avó. Ludovic, tinha o habito de se vestir como menina, e seus pais até então conviviam bem com isso, acreditando ser esta apenas uma fase, que passaria quando ele completasse 7 anos, o que não ocorreu. Ludovic era um menino que vivia em um mundo cor-de-rosa, ele tem um forma própria de ver a vida, de se imaginar vestido de menina. Nesse sentido, a literatura afirma que
A imaginação da criança cria e transforma ativamente seu mundo, subvertendo a ordem estabelecida e pontuando sua diferenciação com relação ao desejo do outro e aos limites situacionais. A fantasia é o canal por onde, inúmeras vezes, a criança consegue satisfazer suas necessidades, independente da permissão do adulto. Quando ela “faz de conta”, ela expande suas fronteiras para além do ponto em que poderia fazê-lo na “realidade” (AGUIAR, 2005, p. 65).
Quando Ludovic e sua família se mudaram para um bairro muito conservador, o comportamento de Ludovic tornou-se muito evidente, levando toda a comunidade a isolar sua família, fazendo ate mesmo que seu pai perdesse o emprego.
Quando a convivência familiar se torna impossível, Ludovic que vive em um mundo de fantasia, em um mundo cor-de-rosa, muda-se para a casa de sua avó, permanecendo ali até o dia em que sua família muda-se novamente. No novo bairro, em uma comunidade menos conservadora, o comportamento de Ludovic, passa a ser aceito como normal.
No decorrer do filme, observa-se como a família e a comunidade lidam com o fato de Ludovic vestir-se e sentir-se como menina, bem como o desespero da família, quando toda sua vida começa a desmoronar, com a perda de sua fonte de renda e dos amigos. Como Ludovic torna-se o deposito de todas as angustias e dificuldades da família.
Nesse sentido, a literatura aponta que assim como o indivíduo busca a sua autorregulação, seu equilíbrio através dos ajustamentos criativos, o mesmo ocorre na família. Assim, o comportamento de cada membro da família influencia o comportamento do outro. Portanto a cada nova configuração familiar, a cada mudança, busca-se o equilíbrio, através da autorregulação e dos ajustamentos criativos (AGUIAR, 2005).
Essa busca de equilíbrio pode ser ou não saudável na família. Assim em algumas família, a busca do equilíbrio familiar pode por em risco o bem estar de um dos seus membros. Desse modo, mesmo comportamentos apontados pelos pais como incômodos, podem estar ocorrendo para manter o equilíbrio da família. Assim, muitas vezes, a criança, serve como ponto de equilíbrio para toda uma família (AGUIAR, 2005).
No caso da família de Ludovic, denota-se que seu comportamento, de alguma forma é o que mantem o equilíbrio daquela família, a família funciona em torno desse comportamento, e é o que levou Ludovic, e leva a maioria das crianças para a terapia. Desesperados, seus pais levam o menino para um tratamento psicológico, com a expectativa de que a psicologa “curaria” Ludovic, os livrando de suas dificuldades. Nesse caso, Ludovic torna-se figura, e cabe ao psicoterapeuta intervir a partir da figura, para a partir disso, trazer uma nova reconfiguração para aquela família (AGUIAR, 2005).
Ao assistir o filme é possível observar o funcionamento da família, o pai é quem provê o sustento material para a família, porém não tem interesse em oferecer afeto, carinho e amor aos filhos, não passa tempo com as crianças, delegando a sua esposa todos os aspectos concernentes a educação das crianças. Isso torna aquela casa um ambiente feminino, com a influencia da mãe, da avó e da filha mais velha, apresentando a Ludovic um mundo feminino muito interessante.
Quando o comportamento de Ludovic vem à tona, o pai passa a culpar a mãe pelo comportamento do filho, acreditando e afirmando que a responsabilidade pela educação dos filhos é uma responsabilidade feminina, da mulher. É apenas a partir daí, que ele tenta passar um tempo com Ludovic realizando atividades tipicamente masculinas, como o futebol.
Assim, é importante deixar claro a família, que não a culpados, que ninguém especificamente causa o problema, mas que todos através de seus comportamentos organizam-se e desorganizam-se mutuamente, e que em vez de buscar culpados, que não serão encontrados, é necessário trabalhar em busca de um equilíbrio que traga satisfação e felicidade para a família (AGUIAR, 2005).
Além do mais, observa-se uma falha na comunicação dessa família, em alguns momentos todos os aspectos são discutidos por toda a família, em outros, alguns assuntos são proibidos, tornando-se um tabu.
Com relação as possibilidades de atuação do psicologo nesse caso, seria necessário primeiro realizar anamnese e entrevista com os pais, com o objetivo de conhecer a historia de Ludovic, para perceber quando iniciou seu comportamento de vestir-se e sentir-se como menina, em que circunstancias isso começou, como ocorreu a gestação de Ludovic, se ele foi um bebê desejado, quais as expectativas que a família depositava na vinda desse bebê, como ocorreu o desenvolvimento de Ludovic, como suas necessidades foram supridas por sua família até então. Nesse sentido, a literatura aponta que no diagnóstico e para posterior conduta terapêutica, é necessário compreender “se na historia do desenvolvimento da criança a família foi capaz de suprir suas necessidades de confirmação, diferenciação e construção de uma solida e positiva percepção de si mesma” (AGUIAR, 2005, p. 95). Como a família se relaciona entre si e com a criança, “e o que essa criança precisa realizar no sentido de obter satisfação para suas necessidades dentro desse contexto” (AGUIAR, 2005, p. 95).
Quanto ao seu desenvolvimento, deve-se observar se o comportamento de Ludovic se encaixa no “esperado dentro de uma determinada faixa etária em uma determinada cultura, sem reduzir o ser humano a tais elementos e sem perder a possibilidade de discriminação e significação de um determinado comportamento dentro de um contexto especifico.” (AGUIAR, 2005, p. 66,67)
Após essa investigação, e entrevistas lúdicas com Ludovic, será possível, realizar um plano terapêutico, que nesse caso envolveria orientação a família, de como se portar frente ao comportamento de Ludovic, como oferecer limites a ele, visto que observa-se, que além de sentir-se e vestir-se como menina, Ludovic apresenta alguns comportamentos desajustados, que exigem uma imposição de limites da parte dos pais, bem como correção, comportamento como o apresentado por ele na apresentação da peça na escola, quando ele rouba o papel de sua colega e a tranca no banheiro.
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