TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Análise Psicanalítica do Filme "Gênio Indomável"

Por:   •  10/4/2021  •  Trabalho acadêmico  •  2.060 Palavras (9 Páginas)  •  1.925 Visualizações

Página 1 de 9

Faculdade Frassinetti do Recife - FAFIRE[pic 1]

Departamento de Psicologia

Técnicas Psicoterápicas de psicanálise

José Davison

Renato Montarroyos

Thamiris Ferreira

Gênio indomável: Uma análise psicanalítica

Recife

2021

O filme “Gênio Indomável” se mostra um interessante exemplo de relação terapêutica psicanalítica. Curiosamente, o filme dá pistas do terapeuta ter um viés freudiano ao dar aula e mencionar jargões próprios da literatura psicanalítica como “fixação oral” e de traumas não elaborados na infância, por exemplo.

        Resistências- Quando o protagonista do filme, “Will” é encaminhado para análise, primeiramente, devemos observar que a vontade de estar no tratamento terapêutico não partiu dele. Ele foi condicionado a fazê-lo para não ir à prisão. Não havia desejo de mudança do protagonista, o desejo era do professor que queria se aproveitar de seu natural talento matemático. Esta falta de desejo inicial pode ser claramente observada nos variados tratamentos anteriores, os quais Will menosprezava e ridicularizava chegando a humilhar os profissionais, ou seja, a relação terapêutica não chegava a se estabelecer.

É importante ressaltar que a resistência do paciente é tida como um dado desde o princípio. Presume-se que ele não queira mudar. Na perspectiva freudiana/lacaniana, o terapeuta não pode confiar no desejo de mudança do paciente. A força motora da terapia é o desejo do analista e não do paciente (FINK, 2018).

Fink (2018, p.13) afirma  que “nem toda a terapia do mundo pode ter serventia se  o paciente não quiser sinceramente mudar. Zimerman (1999) como que, Freud deixou o postulado que uma das regras da psicanálise é que tudo o que interrompe o progresso do trabalho psicanalítico é uma resistência.

Contrato inicial- Segundo Zimerman (1999), o contrato exige uma definição de papéis e funções, respectivamente por parte do analista e do analisando e da vinculação entre ambos. O que se deve esperar é que, no contrato analítico, haja uma suficiente clareza nas combinações feitas para evitar futuros mal-entendidos.

No primeiro momento, o contrato inicial foi estabelecido com o professor Gerry, que estava responsável pela condicional de Will, com a definição do dia e horário dos atendimentos. Percebemos que quando o terapeuta interpretado por Robin Williams (Sean) aceita e inicia o tratamento ficando a sós com o jovem na sessão, Will ainda apresenta a mesma resistência como mecanismo de defesa que tinha com os outros terapeutas. No decorrer do filme, descobrimos que essa grande resistência deriva de uma grande angústia que o jovem não quer entrar em contato. Will aceita firmar contrato com o terapeuta no decorrer do tratamento.

Primeiras Entrevistas- De acordo com Zimerman (1999), a expressão ‘entrevista inicial’ não se refere a uma única entrevista antes da efetivação do contrato analítico, ainda que muitas vezes possa ser assim, porém, em muitas outras situações, a entrevista inicial pode demandar um período mais longo com um maior número de contatos preliminares. É importante diferenciar a ‘entrevista inicial’ e ‘primeira sessão’. A primeira antecede o ‘contrato’, enquanto o termo ‘primeira sessão’ refere-se ao fato que a análise começou formalmente.

Os objetivos da entrevista inicial são: avaliar as condições mentais, emocionais, materiais e circunstanciais da vida do paciente que lhe buscou. Deve acontecer de forma mais livre e espontânea possível.

Segundo Fink (2018), as entrevistas preliminares servem a um objetivo específico para o analista, que deve situar o paciente, com bastante rapidez, no que concerne aos critérios de diagnóstico. Elas permitem que o analista forme uma visão geral da vida e da estrutura clínica do paciente. Se o terapeuta não obtiver logo uma visão bastante global da história do paciente, de sua vida familiar e sexual, poderá cometer graves erros inadvertidamente.

Em determinado momento, Will comentou sobre o quadro pintado pelo terapeuta: “podia estar no meio de uma tempestade. Uma enorme tempestade. O céu desabando, ondas quebrando no seu barco, os remos partindo, você mija nas calças, procura o porco, faz tudo para escapar. Sabe, como se tornar psicólogo”. Will fez julgamentos do terapeuta a partir do suas observações sobre o quadro. Além disso, ao falar da mulher de Sean, este o pega pelo pescoço violentamente, o que claramente contraria a ética clínica, mas desperta a curiosidade de Will de certa forma.

        Durante as entrevistas preliminares, o analista pode agir através da pontuação e da escansão (FINK, 2018). A pontuação do analista menos aponta ou amarra uma significação particular do que sugere um nível de significados a que o paciente não tem prestado atenção. A escansão é o momento em que o analista interrompe a sessão num ponto que lhe parece de particular importância.

 O enquadramento clínico- O setting ou enquadre, pode ser conceituado como a soma de todos os procedimentos que organizam, normatizam e possibilitam o processo psicanalítico. A criação do setting constitui-se na principal tarefa do analista para assegurar o estabelecimento e a manutenção do processo analítico. É o setting que garante a indispensável colocação de limites e de hierarquia, a abertura de um novo espaço onde podem ser reproduzidas antigas experiências emocionais mal resolvidas, com um indispensável clima de verdade e neutralidade (ZIMERMAN, 1999).

O terapeuta Sean fez o enquadramento ao longo do processo terapêutico, quando estabeleceu o local de atendimento, horário, duração. Fixou a regra de não poder fumar. Podemos compreender então que o setting terapêutico é estabelecido, o espaço analítico está definido.

O método utilizado pelo analista é curioso, pois este fala abertamente de seus afetos, suas decepções, amarguras e arrependimentos, onde muitas das intervenções do analista são feitas quando este fala de suas próprias experiências como exemplo. Ao contrário do que a clínica psicanalítica diz, neste filme, o analista não silencia suas paixões, e sim as demonstra tornando-se semelhante ao analisando. Ainda sim, é perceptível que Will deposita o lugar do sujeito suposto saber em Sean, justamente por este não se manter nos padrões da clínica aos quais estamos acostumados a ver.

...

Baixar como (para membros premium)  txt (13 Kb)   pdf (105.2 Kb)   docx (22.8 Kb)  
Continuar por mais 8 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com