CASOS TERAPIA FAMILIAR
Por: Eduardo Nogueira • 25/3/2019 • Ensaio • 2.321 Palavras (10 Páginas) • 509 Visualizações
CASO BUD BATES
A família Bates é composta de pai, mãe e Bud, de 14 anos. As duas irmãs de Bud, de 28 e 24 anos, já casadas, não vivem no lar paterno. Bud é vadio, fuma como uma chaminé e sente-se deprimido. Foi admitido em um hospital-dia, porém, chega tarde todas as manhãs, dizendo que não consegue motivar-se. A sessão que segue teve o caráter de uma consulta.
Minuchin: O hospital me convidou para entrevistar vocês para ver se possol ser útil. Estarei então, a serviço de vocês durante a próxima hora. Podei algum de vocês começar a contar-me os problemas que têm neste momento?
O terapeuta se introduz no papel de um especialista. Convida a famíkal a utilizar seus conhecimentos: "Estarei à disposição de vocês durante a próxima! hora".
Mãe: Nosso grande problema no momento, o mesmo que nos fez vir aquJ é a relutância de Bud em levantar-se da cama pela manhã, para atende™ à sua obrigação. Hoje mesmo devia estar aqui às nove e trinta da manhil. Não é só para tirá-lo da cama para vir à clínica, é para qualquer coisal que ele tem de fazer. Quando estava freqüentando a escola regulaJ não queria levantar-se.
Minuchin: Conte-me, Bud, você é uma pessoa noturna? Fica acordado até tarde?
Bud: Meia-noite ou meia-noite e meia.
Minuchin: Muito bem, então é mais fácil para você estar acordado à noite. Você sabe, há pessoas que se sentem melhor pela manhã e há pessoas que se sentem melhor à noite. Você diria que é uma pessoa mais noturna. Sente-se mais vivo, mais desperto, mais pronto a fazer coisas à noite?
Quando a mãe se precipita na descrição do problema de Bud, o terapeuta a interrompe dirigindo-se ao paciente identificado. Como isso não segue as regras normais de cortesia, é percebido como a ação de uma autoridade.
Sua declaração para Bud normaliza o problema: "Você é mais uma pessoa noturna".
Bud: Não até muito tarde. É só pela manhã, quando não tenho vontade de fazer nada.
Minuchin: Mas isto significa que se sente mais ativo ao anoitecer.
Bud: Não, sinto-me ativo durante o dia todo, porém...
Minuchin: Se você tivesse um bom despertador, resolveria o problema?
Bud: Bem, o despertador eu comprei agora...
Minuchin: Quem é o despertador?
Bud: Bem, comprei um para mim.
Minuchin: Você tem um despertador, ou sua mãe é um despertador?
Coparticipando com Bud, rastreando o que ele está dizendo e normalizando o problema, o terapeuta muda de marcha, introduzindo uma metáfora e proximidade, que implica que proximidade está ligada ao sintoma. O terapeuta notou que Bud está sentado perto de sua mãe e que estão trocando vários sinais não verbais. Com humor, e muito gentilmente, ele desafia o holon mãe-filho.
Bud: Eu comprei um. Mãe: E eu comprei um.
\!inuchin: Você tem certeza que ela não é um despertador, Bud?
Bud: Sim.
\fmuchin: Quem te acorda?
Bud: Ela o faz quase todas as vezes.
Minuchin: Então, ela é o seu despertador.
Mae:Se você quer chamar assim.
>-':nuchin:0.K. então você tem uma função. Você é um despertador.
Em tom despreocupado e divertido, o terapeuta confirma a mãe e rastreia. Ao mesmo tempo, sua relação com o filho é questionada.
Mãe: Bem, no momento, temos dois despertadores no seu quarto...
Minuchin: E não funcionam?
A mãe se une ao terapeuta.
Minuchin: Isso significa que talvez vocês poderiam pôr um terceiro despertador, escalonados todos, por exemplo, um às sete e trinta, outro a sete e quarenta e outro às sete e cinqüenta.
Mãe: É como estou fazendo agora.
Minuchin: Meu Deus! Você deve ter um sono muito profundo, Bud.
Bud: Sim.
Minuchin: Acordei hoje às quatro horas da manhã. Não conseguia dormn Gostaria de ter o seu sintoma. Se os seus três despertadores não funcionam, você pode dormir até o meio-dia, uma hora — Qual é a hora mais tarde que você foi capaz de ficar dormindo?
(Bud olha a sua mãe.) Não pergunte a ela. Não é sua função. Ela é seu despertador. Ela é também um banco de memória?
O terapeuta, que é um contador de histórias incurável, interpreta o sintoma como uma coisa boa comentando sua própria insónia. Começa a monitorar também a proximidade entre mãe e filho. Coparticipação e reestruturação avançam bastante rápido neste segmento, porque a sensação de comodidade que o terapeuta experimenta lhe diz que está dentro das margens permitidas Até aqui a sessão havia enfocado a conduta concreta e as pequenas transações nas quais a família se sentia confortável. Agora o terapeuta faz contato com o pai silencioso.
Minuchin: Aposto que você também desejaria ter essa capacidade. A qa horas acorda?
Pai: Eu? Às quinze para as cinco, cinco horas. (Olha a sua mulher.) Mãe (assentindo): Sim. Pai: Cinco horas.
Minuchin: Cinco horas da manhã? É sua esposa o banco de dados da famíhaj Porque, não somente Bud olhou para ela para obter informação, porei você também acabou de olhar para ela.
O terapeuta, entrando em coparticipação com os três membros da família está prontamente criando um foco que organizará o resto da sessão. O conteúdo é a vida cotidiana e o tom é tão leve como uma conversa sobre o tempo.
Não obstante, para a família, o terapeuta é um bruxo: ele é um especialista que os compreende.
Pai: Sim.
Minuchin: Ela é uma pessoa muito ocupada. Ela é um despertador e banco de memória. (Ao pai.) A que horas vai trabalhar?
Pai: Saio em torno de quinze para as seis, seis horas.
Minuchin: Qual o seu turno de trabalho?
Pai: De seis ou sete até as dezesseis e trinta ou dezessete e trinta. Nãc um horário fixo.
Minuchin: Você trabalha então dez horas?
Pai: Às vezes dez, às vezes onze, às vezes oito. Na maioria das vezes são nove.
Minuchin: Isto lhe dá horas extras?
Pai: Sim.
Minuchin: Então, quando você trabalha dez horas, o faz com prazer, porque lhe pagam duas horas extras. Que tipo de trabalho você faz?
Pai: Sou chefe de seção de oficina de eletrônica. Fazemos circuitos impressos.
Minuchin: Isto significa que você deve ter trabalhado lá por muitos anos para ter-se tornado chefe de seção.
Pai: Trinta anos.
Minuchin: Trinta anos! Qual a sua idade agora?
Pai: Cinqüenta.
Minuchin: Você começou com vinte e trabalhou todo o tempo em um mesmo serviço? Pai: Um-hum.
...