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Caso clínico: Da escravidão ao trabalho doméstico

Por:   •  14/4/2018  •  Pesquisas Acadêmicas  •  1.091 Palavras (5 Páginas)  •  189 Visualizações

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Caso clínico: Da escravidão ao trabalho doméstico.

Edilaine do Carmo é uma jovem de 27 anos, desde os 14 ela iniciou o trabalho em casa de família como empregada doméstica. Por ser de família humilde, a jovem passou por muitas dificuldades e foi chamada por uma tia para trabalhar na casa dela, negociaram o valor, que apesar de não ser muito, era de grande ajuda, pois a jovem não tinha estudo suficiente para procurar outro emprego.

Desde então a vida como empregada doméstica não parou mais, devido a falta de oportunidade na pequena cidade do interior da Bahia onde ela morava, decidiu ir para Lauro de Freitas, trabalhar na casa de uma pessoa conhecida, mas não deu certo. Desse modo ela foi trabalhar em outra casa, e foi lá onde ela passou por terríveis humilhações vindas de sua patroa: “Essa mulher infernizou minha vida de tal forma, que aquilo ali foi terrível pra mim meu Deus! Assim .. foi o fundo do poço, aquela mulher me azucrinou de um jeito que eu cheguei ao ponto de querer tirar minha própria vida, assim eu num sou .. Eu nunca contei nada disso pra ninguém, mas a  mulher .. ela me torturava mesmo, fazia coisas assim terríveis a ponto de eu chegar assim no edifício, que ela morava no 8° andar e dizia, eu vou me jogar, mas eu nunca tive coragem.” Com toda dificuldade, Edilaine encontrou outro emprego e saiu da casa dessa patroa e por vingança, informou-a apenas no dia em que ela saiu.

Entretanto a sorte da jovem estava longe de mudar, apesar de sua nova patroa ser boa, o seu novo patrão era o que ela intitulava de “homem ruim”. Já na cidade de Salvador, em seu novo emprego ela morava na casa dos patrões na independência da empregada, por esse motivo o patrão não respeitava o horário de descanso da empregada e a obrigava a lavar os pratos, enxugar e guardar toda a noite, embora soubesse que aquela não era mais sua hora de trabalho.

Além das humilhações e das explorações, Edilaine teve que enfrentar os baixos salários, onde muitos patrões não pagavam um salario mínimo, não trabalhava com carteira assinada, não tinha seus direitos assegurados, como 13° salario, direito a férias, FGTS.

Mediante tudo que a jovem enfrentou, ela encontrou forças para retornar aos estudos, mesmo cansada depois do trabalho a jovem se arrumava e ia a escola, pois ela almejava que através dos estudos um dia ela poderia sair do trabalho em casa de família e passar num concurso, entrar em uma faculdade: “eu guerreei muito, muito, muito mesmo pra mim estudar. Assim era terrível, você não tem noção que o trabalho de casa de família é pesado porque você não para, é vapuvapuvapu, arruma a casa, lava o banheiro, é muito cansaço, e assim, quando chega de noite você toma seu banho, você olha pra cama e pensa duas vezes se dorme ou se vai pra escola então assim  eu lutei, eu sei que não é nada o segundo grau, mas eu lutei pra conclui e vou continuar lutando e quem sabe ate fazer uma faculdade, melhorar.”

Hoje Edilaine retornou a sua terra natal no interior da Bahia, esta trabalhando em uma casa onde além dos afazeres domésticos ela toma conta de uma bebê, ela não tem carteira assinada, nem recebe um salario mínimo, trabalha cerca de 9 horas por dia e não possui férias nem paga a previdência. Edilaine almeja deixar esse emprego, mas reconhece que é um trabalho honrado. Cristã, a jovem deposita sua fé em Deus e acredita que Ele esta no comando das coisas e reserva algo melhor para ela, quando questionada sobre o que ela faz para suportar as dificuldades enfrentadas, a jovem diz que prefere pensar que é passageiro e não passará o resto da vida sendo empregada doméstica.


A síndrome de Burnout é caracterizada pelo esgotamento profissional que representa uma resposta prolongada a estressores emocionais e interpessoais crônicos no trabalho. Segundo a epidemiologia a categoria de profissionais que mais sofre com a doença são os professores, agentes penitenciários e policiais e os profissionais da área de enfermagem, isso não quer dizer que a síndrome de burnout não possa se instalar em outras categorias de profissionais desde que atenda a alguns critérios para o fechamento do diagnostico. São eles: exaustão emocional, despersonalização,baixo envolvimento com o trabalho. Com base nos relatos trazidos no caso clínico, nossa entrevistada traz alguns fatores que poderiam desencadear o transtorno. A humilhação constante pela qual passou em determinado emprego ao ponto de desejar o suicídio como forma de alívio daqueles estressores emocionais que a atormentavam. “Essa mulher infernizou minha vida de tal forma, que aquilo ali foi terrível pra mim meu Deus! Assim .. foi o fundo do poço, aquela mulher me azucrinou de um jeito que eu cheguei ao ponto de querer tirar minha própria vida, assim eu num sou .. Eu nunca contei nada disso pra ninguém, mas a  mulher .. ela me torturava mesmo, fazia coisas assim terríveis a ponto de eu chegar assim no edifício, que ela morava no 8° andar e dizia, eu vou me jogar, mas eu nunca tive coragem.”  A exaustão emocional é caracterizada pela sensação da falta de capacitação de dar conta do trabalho. O sujeito sente-se completamente incapaz de prosseguir com vitalidade a realização de suas atividades.  Além da humilhação, em outro emprego posterior a entrevistada não tinha seus direitos garantidos e assistidos bem como tinha uma jornada extra de trabalho sem nenhuma remuneração. Essa jornada prolongada levava a moça a um cansaço extremo impossibilitando-a de exercer outras atividades fora do ambiente de trabalho como freqüentar a escola por exemplo. Assim era terrível, você não tem noção que o trabalho de casa de família é pesado porque você não para, é vapuvapuvapu, arruma a casa, lava o banheiro, é muito cansaço, e assim, quando chega de noite você toma seu banho, você olha pra cama e pensa duas vezes se dorme ou se vai pra escola então assim... A Sindrome de burnout tem a despersonalização e o baixo envolvimento com o trabalho como outros dois critérios para que o diagnostico seja concluído.  Diante dos relatos trazidos pela entrevistada não foram encontrados em sua fala nenhum aspecto que pudesse caracterizar o endurecimento afetivo na relação com os que estavam em convívio com a trabalhadora, nem o sentimento de diminuição de competência no trabalho, mas pudemos destacar os elementos necessários para que a síndrome de burnout pudesse ser diagnosticada, e que no caso clinico especifico não se aplica.

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