Clientela
Artigo: Clientela. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: CSSS • 6/10/2014 • Artigo • 1.396 Palavras (6 Páginas) • 229 Visualizações
Clientela
A alteração na clientela é considerada determinante e inovadora na atuação do psicólogo, especificamente no caso do psicólogo clínico ao ter contato com uma clientela diferente daquela que tem acesso aos serviços psicoterápicos privados, frequentemente faz com que haja uma revisão nos módulos teórico-conceituais e até mesmo nas estratégias de como lidar com os aspectos psicológicos e psicopatológicos. Como descreve Lo Bianco, as atividades clínicas chegam a extrapolar as próprias instituições públicas de saúde levando a um trabalho com claras interfaces entre o clínico e o social.
O contato com a clientela da rede pública de educação, ou em outras palavras, “a realidade brasileira” tem exercido impacto importante na construção de uma trajetória que os conduziu a rever teorias e formas de intervenção na área escolar. Além disso, muitos trabalhos inovadores descritos são assim caracterizados por atenderem populações de baixa renda, que representam a maioria da população brasileira. Também é a área que apresenta a mais clara diversificação de clientela, por trazer para o campo de atuação de psicologia, os segmentos sociais antes excluídos. Das experiências descritas por Bomfim pode-se listar, entre outros, o trabalho com meninos de rua, favelados, negros, indígenas, etc...
O elemento significativo da crítica que se fez durante anos ao modelo de atuação dos psicólogos, consistia no uso acrítico que este fazia de conhecimentos e técnicas, desconsiderando-se a realidade em que estes eram aplicados. Reivindica-se portanto, uma postura mais ativa do psicólogo no tocante a gerar conhecimento e a ajustar o seu conhecimento e sua prática mutuamente. As teorias científicas disponíveis são insuficientes para se apropriarem adequadamente de fenômenos singulares da realidade de camadas populares de um país de terceiro mundo como o nosso. A citação do grande psicólogo social Martín Baró explica essa insuficiência nas seguintes palavras: “muitos do conceitos, teorias e modelos mais utilizados em Psicologia surgiram em condições muito diferentes, a partir de interesses sociais muito concretos e na busca de respostas muito específicas, mas costumamos aceitá-los como se tratasse de lentes universais e assépticas que nos permitissem ler qualquer realidade”.
A necessidade de produzir conhecimento apropriado a natureza dos novos problemas e contextos em que trabalha o psicólogo clínico é perceptível em algumas entrevistas de profissionais. O trabalho em psicologia hospitalar na área de cardiologia envolve o desenvolvimento sistemático de pesquisas, o que permitiu lançar as bases da produção de conhecimento sobre este domínio no Brasil. O compromisso que define a atuação tradicional do psicólogo revela-se na relação que ele estabelece com um indivíduo enquanto portador de um problema, alguém que demanda ajuda e apoio, talvez o termo “preocupação humanista” retrate os valores que embasam esse compromisso histórico da psicologia com o “ser humano”. Envolve também um compromisso ideológico e político com a mudança social, que se apóia em uma perspectiva crítica das relações sociais no interior da estrutura social.
Todas as experiências descritas como inovadoras trazem, como marca definidora, uma preocupação com a transformação social e, mais especificamente, com a alteração das estruturas geradoras da exclusão a que é remetida a maioria da população brasileira.
Na psicologia educacional/escolar ele se expressa, por exemplo, quando se utiliza o conceito de cidadania e o papel que a escola pode desempenhar neste sentido. Permeia todo o texto a relevância das práticas educativas de qualidade no sentido de resgatar valores básicos e se constituir em fator de transformação das condições de vida da população. Na área organizacional Zanelli registra que, para alguns segmentos de atuação, emerge uma maior preocupação com o compromisso político-ideológico. Tal preocupação manifesta-se na busca de compreensão dos mecanismos de controle exercidos pelas organizações e gerências. Essa nova noção de compromisso social se tornar gritante ao questionarmos a relação de trabalho, saúde mental e organização, porque consequentemente também estamos de fato questionando a sociedade, sua direção, seus valores, sua estrutura de poder e sua definição de cidadania com base no engajamento na sua prática cotidiana.
Na realidade, o movimento de saída do consultório e inserção na saúde pública já é, em larga medida, uma expressão deste compromisso com a realidade brasileira, ao buscar no contato com a comunidade, tornar acessíveis a segmentos populares os serviços da psicologia. Como afirma Guedes referindo-se atuação clínica: “um alcance maior para o trabalho do psicólogo no sentindo de atingir mais pessoas ou camada mais pobres da população já não implica necessariamente opção por outra área”. Três considerações finais se fazem indispensáveis após a descrição dos principais movimentos que conseguimos identificar.
1- Há em grande parte dos depoimentos, a informação de que os novos espaços foram abertos a partir de iniciativas do próprio psicólogo, especialmente quando este não se dispunha a oferecer, como resposta à demandas de um trabalho tradicional, o tipo de serviço também convencional. Neste particular não podem ser menosprezadas as iniciativas que surgem no interior de universidades e que possuem, como retaguarda, a revisão crítica do conhecimento e práticas psicológicas.
2- Grande parte dos movimentos de transformação decorre da inserção do psicólogo em instituições, aqui tomadas em sentido amplo. Essa inserção institucional impõe a relação com outros profissionais e, entre outros aspectos, configura um contexto específico, que deve ser considerado na própria execução do trabalho, a progressiva perda de seu caráter liberal com o crescente número
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