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Drogas no Culto da Jurema

Por:   •  30/5/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.368 Palavras (6 Páginas)  •  172 Visualizações

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UTILIZAÇÃO DE DROGAS NO CULTO DA JUREMA

Introdução

O tema do presente trabalho fora escolhido por motivação dos integrantes do grupo em entender um pouco a respeito da religião de matriz africana, no caso, a Jurema que surgiu no nordeste como uma fusão sincrética de influência indígena, cristã e africana (umbanda). O contato com o terreiro da Jurema fora efetivado por uma conhecida de um dos integrantes do grupo em questão. O terreiro (também chamado de ilê) fica localizado no bairro Jeremias, na cidade de Campina Grande- PB.

Foram efetuadas 5 visitas, no mesmo terreiro, uma vez que se trata de uma iniciação etnográfica que permeada pelo trabalho do etnógrafo que consiste segundo Roberto Cardoso de Oliveira (2000), no olhar, ouvir e escrever. Um ouvir e escrever descrito pelo já mencionado autor como domesticado pelo saber antropológico.  

Outro grande objetivo do trabalho estava pautado em entender muito mais que uma religião, mas como proposto por Durkheim (1966), o estudo das religiões está para além de uma pesquisa a respeito de diferentes sistemas de crenças, estando relacionado também a uma investigação a respeito de organizações sociais, como exemplificado pelo já mencionado autor, a própria cronologia dos dias, meses, anos obedecem as cerimônias, festas de uma religião, no caso do ocidente, as religiões cristãs. E, portanto, formas de ver, sentir e viver a vida de modos distintos, assim como também as relações interpessoais e inclusivo com as drogas, este último como alvo primordial do trabalho.

Jurema Sagrada

A jurema é um arbusto típico do sertão nordestino, em que o líquido extraído das entrecascas de suas raízes genericamente recebe o mesmo nome, assim como o ritual mágico-religioso onde se faz uso da ingestão deste líquido.

Proveniente da cultura indígena, tal ritual fundamentou-se nas matas cultuando a Jurema e na sua utilização, por meio da ingestão de uma bebida sagrada confeccionada a partir do liquido extraído de suas raízes, para se obter o contato com o mundo espiritual. (SALLES, 2004). À princípio se tratava apenas na louvação aos mestres catimbozeiros, habitantes espirituais das Cidades sagradas do Reino Juremal. Entretanto, ao longo do processo colonial, sofreu influências europeias e africanas na medida em que seu culto migrou para a área urbana. Assim, a hibridização entre tais religiões se deu de maneira lenta e gradual. (JÚNIOR; SOUZA, 2013).

Apesar disso, o culto à Jurema se encontrou deslegitimizado e vítima da intolerância por grande parte do processo histórico brasileiro, tendo encontrado na associação com a Umbanda a possibilidade de se legitimizar como religião, proporcionando uma “umbandização da Jurema” na consolidação da Federação Espírita Umbandista em 1939. Desse modo, por meio da flexibilidade dessas duas religiões, foi possível um maior hibridismo e a relação indissociável entre elas, em que as práticas da Jurema coexistem harmoniosamente no mesmo espaço onde se cultua a Umbanda. (JÚNIOR; SOUZA, 2013).

Assim, entre outros fatores, passou-se a fazer parte do universo juremeiro algumas concepções umbandistas, como a noção de Direita e Esquerda, e a louvação aos Orixás. Outra consequência foi o aumento significativo de entidades que passaram a se manifestar nos terreiros, os Caboclos, Mestres e Reis da Jurema coexistem nos terreiros com Pretos-Velho, Exus e Pombagiras, entidades originalmente cultuadas na Umbanda, mas que logo foram adicionadas ao Catimbó. (JÚNIOR; SOUZA, 2013).

        Tais entidades que descem ao mundo dos vivos não é um ser humano que morreu e perdeu seu corpo físico (Egum), mas sim uma transformação em outra maneira de ser. Assim, ele encantou-se, tomando nova forma de vida “numa planta, num acidente físico-geográfico, num peixe, num animal, virou vento, fumaça. Estão presentes entre nós, mas não o vemos. Encantou-se e permaneceu com a mesma idade cronológica que tinha quando esse fato se deu”. (SHAPANAN, 2004 apud JÚNIOR; SOUZA, 2013).

        

Um Novo Sentido ao Consumo de Drogas

No ritual da Jurema, o conjunto composto pela bebida sagrada, juntamente com a fumaça, entoados e danças específicos possibilitam a descida da entidade, havendo diversos cânticos destinados a chamar específicos encantados. Além disso, o conjunto de significados que delimitam o ritual mágico-religioso da Jurema se apresentam desde a entrada no terreiro com a defumação pela fumaça da Jurema e a saudação dos fiéis, até o momento final da ritualística, perpassando os muros do ilê e se tornando presente na vida cotidiana de cada um dos fiéis. (PIRES, 2010).

        A descida da entidade é marcada pela festa ao encontro com o mundo material, sendo a embriaguez, brincadeiras, fumo e danças frequentes durante o rito. Além disso, quando em contato com os juremeiros, o encantado realiza curas como papel marcante na ritualística. Assim, ao curar, ele possibilita a evolução dos fiéis, assim como a própria dentro das cidades da Jurema. (BRANDÃO et al, 1998).

        Desse modo, com a realização de curas e trabalhos, o encantado compartilha o seu conhecimento com o grupo, formulando a ciência sobre a Jurema. Como o ditado compartilhado pelos juremeiros diz: “Cada Jurema é uma jurema”. Ou seja, a ciência da Jurema compartilhada no terreiro provém do conhecimento e ensinamentos dos encantados. Assim, cada terreiro teria uma forma de se fazer Jurema e, apesar disso, essa flexibilidade do conhecimento proveniente dos encantados foi um dos fatores que favoreceram o hibridismo religioso ao longo da história brasileira. (BRANDÃO et al, 1998).

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