Duas Vidas - análise gestaltista
Por: aleleite • 16/4/2016 • Resenha • 951 Palavras (4 Páginas) • 888 Visualizações
Análise do filme “Duas Vidas” a partir dos conceitos da Gestalt Terapia.
O filme conta a história de um executivo com notável sucesso profissional e financeiro, cujo trabalho tem por finalidade a consultoria de imagem – análise da aparência pessoal de modo a tornar pessoas de alto poder aquisitivo, bem vistas pela sociedade e assim alcançar o “sucesso total/pleno”.
Solteiro, sem família, sem filhos e com uma relação difícil com o pai, Duritz vai levando a vida com pouca preocupação em manter contato consigo mesmo e com o entorno, agindo de modo rude e até mesmo egoísta, na maioria das vezes, sem se dar conta de que carrega consigo um grande vazio existencial, além de muitas questões de infância mal resolvidas (gestalts inacabadas) até que é surpreendido pela presença de um garoto – Rusty - em sua casa. Sua rotina passa a um estágio de grande conturbação que leva Duritz a buscar ajuda de uma médica que o receita um medicamento, alegando que seu estado atual está sendo provocado por um intenso estresse físico.
A medicação, contudo, não traz respostas para a presença do menino em sua vida, que a esta altura se mostra meio perdido e sem saber o caminho de volta à sua casa.
No decorrer da história, Duritz vai se dando conta de que o garoto nada mais é do que ele mesmo. O comportamento do menino nada discreto e um tanto quanto persecutório começa a interferir no seu trabalho levando-o a buscar a ajuda de sua assistente – Amy.
A par da situação, Amy começa a atuar de modo a ajudá-lo a entender o propósito da presença do garoto em sua vida naquele momento, uma vez que para ambos está claro que o menino nada mais é do que o próprio Duritz quando pequeno. Além de assistente, Amy se mostra como alguém de extrema gentileza com Duritz relevando, na maioria das vezes, suas dificuldades. De algum modo, ela consegue vislumbrar um lado bom embora bem escondido atrás de muitas “fronteiras do eu” apresentadas por Duritz, conforme Erving e Miriam:
“A fronteira do eu de uma pessoa é a fronteira daquilo em que para ela, o contato é permissível. É composta de toda a amplitude de fronteiras de contato e define as ações, ideias, pessoas, valores, ambientes, imagens, memórias etc com os quais ela está disposta e comparativamente livre para se envolver plenamente tanto com o mundo externo a ela quanto com as reverberações internas que este envolvimento possa despertar.” (Erving e Miriam Polster, 2007, p. 120)
Ao retornarem de um casamento onde o menino fez de tudo para aproximá-lo intimamente de Amy, ele tem um insight (ideia súbita com fins a solução de uma questão, segundo os existencialistas) de que se conseguir recordar de seu passado, estas recordações possibilitarão o retorno de Rusty. Deste modo eles passam a ter uma longa conversa em busca de memórias significativas e marcantes da infância. Neste ponto é possível perceber as várias formas de fronteiras de contato e resistência que marcam a vida de Duritz impedindo-o de se conectar consigo mesmo. Retroflexão (dificuldade em expressar sentimentos) e deflexão (desvio do desejo) estão presentes em seu modo de viver impedindo-o de experimentar a homeostase, segundo a teoria da Gestalt descrita por Erving e Mirian Polter.
No dia seguinte, após passarem horas conversando em busca de significativas memórias, Duritz “acessa” uma memória de um momento marcante da infância e ambos são remetidos a este evento. Trata-se de uma data significativa: o aniversário de ambos. Eles estão na escola e Duritz revive uma briga de onde saiu perdedor após apanhar de seus colegas. Há neste momento a tomada de consciência em relação às suas dificuldades de relacionamentos atuais atribuídas a este momento de fracasso infantil. Duritz, então, passa a orientar o menino a partir da sua perspectiva de adulto e ambos saem vitoriosos deste evento, fechando assim a primeira das suas gestalts inacabadas.
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