ENTREVISTA DEJOURS: Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Luisa Almeida Gomes

Resenha Crítica

GERSCHENFELD, Ana. Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal. Entrevista com Cristophe Dejours. Lisboa, Portugal: Portal Saúde, 2010. Disponívelemhttp://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/clipping_sat_100
Acesso em 11/05/2021

REFERÊNCIA COMPLEMENTAR

FÁBRICAS DA PEUGEOT registram sexto suicídio em seis meses. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1807200724.htm . Acesso em 11/05/2021

 Segundo o médico psiquiatra e psicanalista Dejours, as organizações vêm apresentando cada vez mais casos de doenças mentais e até mesmo o suicídio devido as profundas transformações que ocorreram no cenário do mundo do trabalho.

Além de todas as exigências que já fazem parte das organizações passou a serem feitas avaliações individuais de desempenho, a qualidade total e o outsourcing, tais questões podem acarretar na competitividade entre os funcionários, o seu esgotamento e afastamento de sua vida social e afetiva e também serem sujeitados a trabalharem em regime desumano com uma remuneração muito abaixo do que a esperada pela sua função.

Embora Dejours defenda que o sofrimento é a base para a realização pessoal e é a partir dele que pode atuar a inteligência e se utilizar da intuição para um bom desenvolvimento no trabalho, quando este se prolonga e chega em seu extremo a pessoa se isola, entra em desespero levando a depressão. (GERSCHENFELD, 2010).

Os suicídios ocorrem nas mais diversas categorias e setores, sendo eles mais comuns entre as classes operárias, como nas linhas de montagens, nas telecomunicações, entre os bancários e agricultores. ‘’ O que é importante perceber é que a destruição dos elos sociais no trabalho pelos gestores nos fragiliza a todos perante a doença mental. E é por isso que as pessoas se suicidam. Não quer dizer que o sofrimento seja maior do que no passado; são as nossas defesas que deixaram de funcionar. Portanto, as ferramentas de gestão são na realidade ferramentas de repressão, de dominação pelo medo. Sim, o termo exacto é dominação; são técnicas de dominação.’’ (Dejours apud GERSCHENFELD, 2010, p.6).

Em 2007, na empresa Pegeout um homem de 55 anos se suicidou, ele era pai de dois filhos e estava na empresa a cerca de 29 anos não deixando nenhuma carta com explicações sobre o seu ato. Dessa forma foi aberta a investigação, pois os sindicatos questionavam a respeito das condições de trabalho, uma vez que este foi o quinto funcionário que se suicida na fábrica de Mulhouse (França).

Embora os casos de suicídios ao serem analisados demonstram que estão ligados a determinados aspectos do trabalho, as empresas ainda insistem em defender que os funcionários que cometeram o suicido em local de trabalho o fizeram devido a causas pessoais. Não se deve descartar totalmente a vida pessoal do indivíduo em questão, entretanto, quando já está instalado um quadro de depressão a pessoa realmente acredita que merece morrer. (GERSCHENFELD, 2010).