Entrevista Lúdica
Por: Ricardo Marques • 3/12/2015 • Relatório de pesquisa • 1.566 Palavras (7 Páginas) • 350 Visualizações
Entrevista Lúdica
O ser humano, em todas as fases da vida está sempre experenciando coisas novas pelo contato com o seu semelhante. Na fase da infância não acontece de modo diferente. Ela é considerada a fase das brincadeiras, e, por meio dela, a criança satisfaz em grande parte, seus interesses, suas necessidades e desejos particulares, sendo dessa forma o brincar um modo considerado privilegiado de inserção na realidade e no convívio social. Isto é, a criança passa a se expressar, a refletir, a organizar e desorganizar, a construir, destruir e reconstruir o seu mundo.
Com a modernidade, tem-se a responsabilidade em marcar cada vez mais a especificidade da infância, oferecendo legitimidade à visão de uma “natureza infantil”, mas dando-lhe um novo significado. Ou seja, não se trata mais de modelar a criança como ocorria em tempos passados, mas sim de considerar a sua forma espontânea e particular de ser, existindo uma preponderância do sentimento sobre a razão, vendo isso não como uma imaturidade biológica, mas apenas como sua natureza sendo diferente da de um adulto (FERREIRA, 2000).
A partir das mudanças no modo de ver a criança ocorridas na modernidade e com as observações do brincar influenciando diretamente o desenvolvimento infantil, este método – o brincar – passou a ser utilizado na clínica para o trabalho com crianças. Isso porque, segundo Ferreira, Melanie Klein, em 1923, considerou o modelo clássico da psicanálise com adultos inadequado para ser utilizado em crianças, e então, ao utilizar atividades lúdicas, pode constatar que a brincadeira é o melhor método para abrir o campo da análise nessa fase. Ferreira (2000) nos diz que muito embora Klein não despreze os elementos verbais, mas a sua atenção maior se dá para as brincadeiras em que esses elementos aparecem.
Seguindo esse método considerado eficaz na análise de crianças, utilizou-se dele para a Entrevista Lúdica ocorrida com a S. B. M., que tem 08 anos de idade, e cursa o 3° ano do ensino fundamental na escola Portal do Saber.
S. B. M. não foi à criança na qual iríamos realizar a Entrevista Lúdica. Isso, porque a criança que realizaríamos esse encontro teve um imprevisto de horários e não pode chegar dentro do prazo proposto. E para que não houvesse atraso nas atividades – isso, pois a dupla só teria 30 minutos de entrevista e o seu horário, de 9:30h as 10h, havia chegado e a criança aguardada para a atividade ainda não se encontrava no local marcado – conversou-se com a dupla que realizaria a entrevista com a S. B. M. e foi realizado a troca nos indivíduos entrevistados.
A criança entrevistada e seu pai aceitaram tranquilamente a troca realizada pelos estudantes e assim S. B. M. foi direcionada até a sala de brinquedos para iniciar a atividade.
S. B. M. é uma criança que aparenta não ter dificuldades em se comunicar com pessoas até então desconhecidas. Conosco que a entrevistamos, ela não aparentou ter problema em ir até a sala de brinquedos e conversar um pouco. Quando chegamos à sala, a mesma sentou-se em uma poltrona próximo a mesa da leitura e nós os entrevistadores sentamos junto a ela. S. B. M. interessou-se imediatamente por alguns livros que estavam sob a mesa e começou a folheá-los. Então foi questionada se gostava de ler. E ela respondeu afirmativamente que sim e que gostava muito da escola na qual freqüenta. Que lá, eles lêem bastante. Nesse momento, S. B. M. falou
resumidamente sobre sua professora e que gosta muito das disciplinas de ciências e matemática. Então, S. B. M. foi questionada o porquê do gosto por tais disciplinas e ela respondeu que gosta de estudar sobre os micróbios, sobre os animais e que quer ser médica quando crescer, Oftalmologista de preferência. Aproveitando a conversa, S. B. M. respondeu sobre o que gosta de fazer, do que gosta de brincar e etc. Ela relatou jogar muito xadrez, de brincar de boneca, e brincar bastante na escola de “galinha ou monstro” com seus colegas. A questionei como era essa brincadeira da escola, e ela nos explicou que funciona como o cola-cola, mas que, quem for capturado, pela galinha, vira monstro.
Com essa conversa sobre o brincar, S. B. M. foi questionada se havia na sala de brinquedos algum jogo ou brinquedo que gostasse de utilizar com os estudantes. Ela de imediato apontou um jogo de xadrez que estava no topo da prateleira, na qual a mesma estava de costas. Os estudantes de inicio se perguntaram onde estava esse jogo, pois ainda não tinham o avistado e nem nome havia na caixa de modo a ser visto. Ela logo se levantou e mostrou a eles apontando onde estava. Então, a menina começou a jogar com a estudante e dizer que gostava muito do xadrez, pois jogava com seu pai e suas irmãs que eram “maiores que ela”. Com esse comentário, garota foi questionada sobre suas irmãs; ela respondeu dizendo que tinha três, mas que eram todas mais velhas – estas, filhas só do seu pai. Disse que suas irmãs tinham 23, 26 e 30 anos. E que a visitavam muito, mas não moravam com ela. Então foi lançada a pergunta de quantas pessoas moravam em sua casa. Ela antes de responder perguntou: “o meu cachorro conta como da família?”. A estudante que estava diretamente interagindo com ela a questionou: “você acha que ele é da sua família?” ela disse: “sim. Todos nós gostamos muito dele.” A estudante assim falou, “então ele é da sua família e conta sim com ele.” Com essa resposta da estudante, S. B. M. disse, “quatro pessoas, contando com o meu cachorro.” Questionou-se assim, quem seriam as pessoas fora ela e o cachorro que moravam em sua casa. Ela disse que era sua mãe, ela e seu pai.
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