Estudo de Caso da Criança
Por: Lorena Souza • 17/9/2015 • Relatório de pesquisa • 701 Palavras (3 Páginas) • 356 Visualizações
No desenvolvimento do caso, fica perceptível aos estagiários que a queixa trazida pelos pais não era condizente com o que a criança apresentava nos atendimentos. A comprovação veio através da aplicação de alguns testes projetivos, entre eles o Fábula de Buffa, que sinalizou a presença de questões familiares que causavam incômodo em pc. A agitação da criança, trazida pelos responsáveis como “hiperatividade”, era uma resposta à separação dos pais, sendo a saída encontrada por pc para manter o pai por perto.
A abordagem escolhida pelos estagiários como sustentação teórica dos atendimentos foi a psicanálise. Considerando que, para essa epistemologia, o sintoma é o que da voz ao sujeito - não devendo, portanto, ser eliminado - torna-se incoerente o uso de medicação no caso apresentado. O procedimento necessário seria dar a palavra à criança, para que ela pudesse encontrar outra forma de dizer de si.
Surge, então, a necessidade de encaminhar os responsáveis e a criança para o projeto de diagnóstico das relações familiares, de forma que pc seria ouvido a partir das relações estabelecidas com seus pais, de maneira que esses também fossem implicados no processo.
A partir da leitura do caso, conclui-se que na clínica da criança e do adolescente, muitas vezes a demanda do atendimento é dos pais ou responsáveis. Sendo assim, é preciso cautela para não se deixar guiar por essa demanda, de forma a prejudicar a escuta da criança/adolescente. No caso do atendimento descrito, a necessidade de medicalizar o pc, vem como uma tentativa de solução para angústia vivida pelos responsáveis diante do sintoma apresentado pela criança, e não como uma demanda específica da mesma.
Lorena:
Uma demanda dos pais, e não da própria criança. Colocadas em lugar de objetos, são acompanhadas, muitas vezes de rótulos que os pais trazem das escolas “Esse menino e hiperativo” “tem déficit de atenção”, e, muitas vezes, com um pedido de encaminhamento a um psiquiatra que possa resolver esse “problema” da criança com medicamentos, a demanda do imediatismo e da medicalização, assuntos tão presentes na clínica hoje em dia. Recebemos a criança na clínica escutando sua demanda, escutando a subjetividade que aquele “sujeito-criança”, permitindo que ele se expresse na clínica, quando em sua casa, junto de seus familiares, ele talvez não tenha essa abertura. Atendemos a demanda dos pais, mas respeitamos a demanda da criança.
As questões que surgiram foram se realmente o paciente era hiperativo, se havia a necessidade da medicação para “melhorar” seu comportamento, ou o comportamento apresentado era apenas referente à idade da criança, característico de seu desenvolvimento. Também foi levantada a questão familiar: que relações estabelecidas pela mãe e pelo pai afetavam o psiquismo do paciente, e como a rotulação imposta a ele – seja na escola ou no ambiente familiar – de uma criança hiperativa afetava sua subjetividade e, consequentemente, seu comportamento.
A solução encontrada foi, através de testes psicológicos de inteligência e personalidade (Pré-Bender, Desenho Livre, Desenho da Família e Fábulas de Duss), e através de utilizar a brincadeira que a criança trazia ao consultório (com os brinquedos apresentados no ambiente e através de desenhos) o paciente apresentava sua demanda, relacionada muito mais a situação precária familiar (o pai usuário de drogas, a mãe que sempre estava em contenda com o pai e a recente separação de ambos) além da pouca atenção que o paciente recebia de ambos os pais, o que fazia com que a criança possuísse um comportamento inquieto, muitas vezes, de chamar a atenção das pessoas próximas (principalmente familiares).
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