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Estudo de caso

Por:   •  19/10/2015  •  Dissertação  •  1.488 Palavras (6 Páginas)  •  232 Visualizações

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A intervenção escolhida pela nossa Equipe foi a Reaproximação Familiar de um adolescente em Situação de Rua, que é uma das funções do nosso serviço. O que nos motivou para realizar essa escolha foi a constatação ampla do sofrimento físico e psicológico que os adolescentes em situação de exclusão social vivenciam e em especial, da dor do adolescente e de sua mãe nesse caso específico. A nossa experiência com os adolescentes do Capsi nos mostrou que a primeira exclusão aparece no ambiente familiar, em função de diversas dificuldades, tais como gravidez não planejada, pais muito jovens, rejeição, uso de drogas, situação financeira precária, filhos de uniões conjugais diferentes, etc. Em muitos casos, os pais também passaram por um processo de exclusão familiar e social. Além disso, percebemos que, sem intervenção, os problemas aumentam consideravelmente com o passar dos anos, reduzindo as oportunidades para o adolescente se constituir como um cidadão de direitos e deveres. A necessidade de agirmos o mais cedo possível aparece como uma possibilidade de mudarmos esse panorama, minimizando os danos a que estão sujeitos essa população.

Utilizamos como recursos para trabalhar essa questão, os grupos já existentes no Capsi (Grupo de Apoio à Família, Grupo de Convivência de adolescentes, Rap, Estimulação Cognitiva), as consultas individuais, os grupos de familiares, as visitas domiciliares e a outros serviços e trabalhos externos, em parceria com outros serviços da Rede (Atividade Física, Casa de Acolhimento, Fundet), além das discussões e planejamentos realizados pela miniequipe e pela equipe do Capsi como um todo. Como ferramentas, utilizamos a conversação entre os profissionais do Capsi e de outros serviços, o diálogo com os adolescentes e familiares, a utilização de atividades lúdicas, físicas e artesanais e passeios.

De modo resumido, o processo de entrada do adolescente no Capsi passa por algumas fases. Ao tomarmos conhecimento da situação de vulnerabilidade do adolescente, pelos diversos serviços da Rede (Conselho Tutelar, Promotoria, Serviços de Saúde, de Educação ou da Assistência Social), realizamos uma entrevista de triagem, para avaliarmos quais são suas demandas e a dos familiares, se é ou não usuário de substâncias psicoativas, além de verificarmos se nossos recursos vão de encontro às necessidades do adolescente ou se ele seria melhor acolhido em outro serviço.

Após essa primeira entrevista, o adolescente e seus familiares são convidados para participarem das atividades e atendimentos da instituição e após um mês, é agendado um horário de retorno, onde será realizada uma entrevista mais completa, para melhor compreensão do caso e para firmar os vínculos já iniciados com o serviço.

A partir dessa população que comparece ao Capsi, escolhemos trabalhar nessa micro intervenção com a reaproximação familiar de um adolescente de 17 anos que, além de fazer uso de substâncias psicoativas, possui vivência de rua de maneira esporádica. Vivia com a avó e posteriormente foi morar com sua mãe e com o seu padrasto, porém envolveu-se em conflitos com a comunidade (vários roubos) e o padrasto expulsou-o de casa. A mãe não conseguiu lidar

com essa situação e o adolescente passou a ficar na rua. Ela também nos relatou a maneira agressiva do marido com ela.

Houve tentativas de o adolescente morar com familiares (avó, irmã e tia), mas devidos aos conflitos causados por ele nesses locais, em função de roubos não foi possível sua permanência.

O adolescente iniciou atendimento no Capsi num primeiro momento, mas não deu continuidade aos atendimentos, não comparecendo às atividades propostas. Nesta época estava com 16 anos. Fora trazido pela avó materna, que sempre cuidou dele e com quem ele morava. A tia e a avó compareceram a algumas reuniões do Grupo de Família. Lucas iniciou atendimento psicológico e demonstrou interesse em parar de usar maconha e cocaína. Avó e tia pararam de vir para o atendimento alegando dificuldade com o transporte. Lucas também deixou de vir.

Lucas voltou ao Capsi, desta vez acompanhado pela mãe, quando os conflitos se intensificaram. Compareceu ao Grupo de adolescentes com a cabeça, orelhas e outras partes do corpo machucadas na ocasião de um roubo (sofreu agressão física por alguns moradores do bairro). Passou a vir no Capsi com maior frequência e nos possibilitou pensar e planejar uma intervenção para reinserção do mesmo no contexto familiar e social.

Dada a sua situação de vulnerabilidade, planejamos com Lucas a possibilidade dele permanecer um tempo maior no Capsi e também oferecemos as atividades diárias da Unidade de Acolhimento Transitório (UAI). O adolescente aceitou participar das atividades e afinando o vinculo com a equipe do CAPSi.

Ao mesmo tempo, intensificamos a abordagem da família, por intermédio de telefonemas, visitas domiciliares, grupo de família, entrevistas individuais, com o objetivo de conhecer o modo de funcionamento do relacionamento familiar e agregar apoio para o plano terapêutico de Lucas. Num primeiro momento, escolhemos intervir com a mãe e posteriormente, poderíamos nos aproximar do irmão mais novo e da irmã, da avó e da tia.

No contato com a mãe, foi possível observar que ela também se encontrava numa situação de fragilidade, sentindo-se ameaçada pelo marido em função da permanência de Lucas no local. Embora não aceitasse a atitude dele, que excluiu o garoto da residência e o “entregou” para traficantes, ela não sabia como resolver o problema. Estava planejando mudar de casa.

Lucas passou a frequentar a Unidade de Acolhimento Transitório (UAI) no período noturno. Mas sua permanência era instável e quando o garoto tinha que voltar para casa nos finais de semana, ele acabava ficando na rua, pois estava sob ameaça de terceiros que residem nas mesmas comunidades onde morou: casa da avó, da irmã e da mãe.

Numa discussão com a Rede de Serviços, a coordenadora da casa de acolhimento transitório, falou da sua dificuldade em lidar com a mãe do garoto e solicitou que a enfermeira do Capsi a orientasse. Além disso, o menino estava sofrendo ameaças contra a vida e a irmã de Lucas já havia recebido telefonemas dizendo que “sabiam onde o Lucas estava”. Em função dessas questões, foi acionado o poder judiciário pela UAI e decidiu-se que o adolescente deveria ser incluído no Programa de Proteção às Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) sendo transferido para uma Unidade de Acolhimento Institucional (abrigo), sob cuidados do Judiciário. Dado o comportamento apresentado nessa segunda instituição, em função da necessidade de usar substâncias psicoativas, ele foi encaminhado para o Hospital Psiquiátrico, para desintoxicação, onde permanece há cerca de um mês.

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