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Experimente entrevista fenomenológica com prostitutas

Relatório de pesquisa: Experimente entrevista fenomenológica com prostitutas. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  25/11/2013  •  Relatório de pesquisa  •  2.417 Palavras (10 Páginas)  •  302 Visualizações

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Revista

Brasileira

de Enfermagem

REBEn

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Vivência da entrevista fenomenológica com prostitutas: relato de experiência

Dealing with the phenomenological interview with prostitutes: experience report

Vivencia de la entrevista fenomonológica con prostitutas: relato de experiencia

Isabel Cristina Cavalcante Carvalho MoreiraI, Claudete Ferreira de Souza MonteiroI

IUniversidade Federal do Piauí. Grupo de Estudos sobre Enfermagem, Violência e Saúde Mental. Teresina, PI

Submissão: 15/12/2008 Aprovação: 31/08/2009

RESUMO

Este artigo tem por objetivo descrever minha vivência na obtenção dos depoimentos utilizando a entrevista fenomenológica. Foram entrevistadas onze prostitutas em Teresina, PI. No caminhar dessa etapa vários momentos foram marcantes como: a estratégia de aproximação com as depoentes, o local das entrevistas e o próprio relato emocionante das prostitutas. Esse meu caminhar possibilitou- me identificar que é necessário familiarização e empatia com os sujeitos da pesquisa, que não existe formula para a condução da entrevista, mas cabe ao pesquisador identificar as dificuldades e propor estratégias para a obtenção dos relatos. Assim é que a relação empática vivenciada por mim na obtenção dos relatos das mulheres-depoentes no seu mundo-vida por meio da entrevista fenomenológica foi fundamental para compreensão do vivido da violência no cotidiano da prostituição.

Descritores: Prostituição; Violência; Enfermagem.

INTRODUÇÃO

A prostituição feminina é uma prática que acompanha a história da humanidade de tal modo que nenhuma civilização escapou da sua convivência. Esta atividade constitui-se em uma troca de satisfação sexual versus remuneração e hoje, apesar da liberação sexual ainda se mantém como forma de iniciação sexual de jovens.

As mulheres que oferecem satisfação sexual em troca de remuneração vão perdendo seu corpo e destino, pois passam a desconstruir as relações de proteção e direito individual e coletivo, surgindo neste cenário os fatores de risco(1).

Um dos fatores de risco está relacionado às agressões, pois, nesta atividade as mulheres, não escolhem os clientes e a violência neste cenário é constante. Não se trata apenas de violência física, mas, sobretudo são comuns os abusos sexuais, trafico, estupros, roubos e a violência psicológica manifestada por humilhações, ofensas verbais e morais.

Outro risco, por qual passa a prostituta, diz respeito às questões de saúde publica pela vulnerabilidade frente a vulnerabilidade da exposição às DST/AIDS. Além desses fatores pode também ser incluída a ‘quebra do segredo’, da prática da prostituição, em que muitas prostitutas escondem de seus familiares. A descoberta pode gerar conflitos, preconceito e mesmo dificuldade de permanecer nesta atividade(2).

Na esteira desse caminho de risco, as prostitutas são alvo da violência quer pelos clientes que entendem que o pagamento lhes confere poder para o abuso físico, sexual e psicológico, como também pela interpretação da imagem da prostituta, ainda considerada “vagabunda”e sem moral.

Essa constatação pode ser considerada quando, recentemente no Brasil, jovens da classe média, na cidade do Rio de Janeiro, espancaram uma doméstica num ponto de ônibus e ao serem presos relataram em seus depoimentos que esse fato se deu porque pensaram que se tratava de uma prostituta. Fatos como este tem levantado a voz da presidente da Rede Brasileira de Prostitutas, Gabriela Leite, quando coloca que o preconceito existente ainda é grande, de tal forma que os jovens acham que as prostitutas são “sacos de pancada”. Para ela a violência sempre existiu, porém nem sempre denunciada, pois, quando se faz a denúncia, a própria polícia condiciona a agressão ao fato da vítima ser prostituta(3).

Diante do exposto o interesse em trabalhar com o grupo de prostitutas quando atuava na Estratégia Saúde da Família foi despertado e um trabalho de Educação em Saúde sobre prevenção de câncer de colo de útero e de mamas com prostitutas de bordéis na região de um bairro da periferia de Teresina foi iniciado.

Em seguida surgiu à oportunidade de trabalhar no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), onde as ocorrências que envolviam prostitutas de rua vítimas de violência de seus clientes foi constatada. Os depoimentos em relação às agressões sofridas trouzeram sensibilização. Também chamou a atenção o fato de que atendimento prestado nos serviços de saúde se resumia apenas em tratar a lesão, tornando ocultas as graves conseqüências que a violência traz a mulher nesse contexto.

Outro momento importante nessa minha caminhada diz respeito à seleção entre os profissionais do SAMU para participar do Curso Impactos da Violência na Saúde, promovido pela Fundação Oswaldo Cruz, nesse curso me apropriei de leituras que me motivaram a

trabalhar com a violência feminina no cenário da prostituição.

Assim, ao ingressar no mestrado em enfermagem pela Universidade Federal do Piauí, vislumbrando a possibilidade de pesquisar o tema da violência, optou-se por buscar conhecer esse fenômeno no universo feminino da atividade prostituinte. Como método de investigação escolhi a abordagem qualitativa, por ser adequada ao objeto do meu estudo: o vivido da violência no cotidiano da prostituição, e, por esta abordagem permitir esclarecer o objeto como um fenômeno que parte da subjetividade e da experiência vivida, que geralmente escapa à observação.

Este tipo de pesquisa se propõe a dar respostas quando se quer analisar fenômenos atribuindo significados que são descritos por grupos ou pelos sujeitos que vivem ou experienciam situações próprias. Nesse tipo de abordagem, busca-se a compreensão do todo e exige do pesquisador estar envolvido e sensível para compreender e interpretar os relatos que o sujeito do estudo dá aos fenômenos em foco(4).

A fenomenologia possibilita um retorno às coisas nelas mesmas, conhecer o fenômeno tal como se mostra a consciência e através do discurso permite desvelar o cotidiano do mundo

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