Fenomenologia (Análise do filme Instinto)
Por: Gigig • 27/1/2019 • Trabalho acadêmico • 2.183 Palavras (9 Páginas) • 3.291 Visualizações
FMU
Análise do filme Instinto sob a luz da teoria fenomenológica
Ana Cristina Sampaio Cardoso (4723680)
Gisele Chiappim (433889)
Jacqueline Quaresma Cestari (5510311)
Raimunda Luiza Dias (4835238)
Vanessa Di Marco Ferreira (5455871)
São Paulo, Outubro de 2016
- Resumo e visão geral do filme
Dr.Ethan Powell (Anthony Hopkins) é um antropólogo que foi para Uganda / Africa, pesquisar a vida dos gorilas. Nos últimos dois anos, sendo considerado como desaparecido, passou a viver como “um integrante aceito” no grupo desses antropoides. Ele é encontrado em Ruanda, sendo acusado de matar três homens e ferir dois, é detido e levado a uma prisão. Após algum tempo o governo americano consegue sua custódia e o transfere para uma prisão famosa por abrigar criminosos psicopatas. O Dr. Theo Caulder (Cuba Gooding Jr.), é convidado para acompanhar o caso de Ethan e vê nisto um grande material para desenvolver uma pesquisa e se consagrar enquanto psiquiatra. No entanto, Ethan recusa-se a falar e há anos não profere uma só palavra. O psiquiatra, DrCaulder, que demonstra grande habilidade com pacientes, consegue fazer com que Ethan começe a falar. Nas demais sessões terapêuticas que se seguem, o Dr. Caulder precisa identificar, além da razão da violência, o que motivou Ethan a abandonar sua família para ir viver com os gorilas.
O filme ilustra a importância da formação do vínculo de aliança e confiança entre terapeuta e paciente, retrata a condição humana o seu livre arbítrio nas tomadas de decisões, quanto custa ao humano a liberdade de um encontro ou a liberdade de um abandono para uma nova caminhada. De uma forma muito acirrada, o filme nos mostra o quanto o sistema penitenciário e judicial está deteriorado os princípios e valores humanos, o quanto o ser humano se engana com um falso saber, um falso controle e domínio sobre a natureza e animais. O protagonista vive um personagem determinado, resistente à maldade humana, não se rende à coerção das autoridades, respondendo com fúria e agressão. O filme faz críticas severas ao comportamento do homem moderno que pensa manter o controle, mostra-nos que o homem não tem plena liberdade, não tem controle e nem o domínio de nada, se tornou, portanto, escravo de si mesmo de suas próprias ambições, rejeitando sua semelhança, construindo no dia a dia muralhas cada vez mais intransponíveis para viver a doce ilusão de que pode continuamente sobrepor-se ao outro. Ele nos leva a pensar que se o homem não romper as barreiras da ignorância sobre seu próprio viver poderá morrer de uma profunda solidão de espírito, e em meio a grandes multidões não conseguirá promover a abertura de perspectivas de si mesmo e de seu semelhante, impossibilitando assim o encontro do indivíduo com sua própria existência.
O filme transmite a mensagem de que o protagonista, após voltar a falar, nos incita a pensar que resgatando a vida selvagem ou primitiva estamos também resgatando essências humanas que, pouco a pouco, morrem pelo poder da ambição e ilusões que criamos e aceitamos neste sistema, nos impedindo assim de ser nosso próprio eu, e “apoderar”, ou sentir nossa própria existência.
- Análise com base fenomenológica
Segundo a psicologia fenomenológica a valorização da dignidade existencial opõe-se às classificações psiquiátricas (ERthal,1999), para a qual as perturbações mentais são vistas com aspectos integrados na totalidade da existência individual. Segundo Bisnwanger, a psicopatologia é o que se afasta da estrutura do ser, e se torna uma estrutura existencial modificada, pois há humanos vivendo com “rotas alteradas” porque se afastam se sua estrutura enquanto essência, e tornam-se estruturas modificadas e distantes de seu verdadeiro self, nos levando a pensar na dialética do homem com o mundo: a ausência de encontro com nós mesmos nos impedirá de viver uma relação saudável com o outro.
- O que é estar no mundo: dimensões da existência na história do personagem
A existência enquanto estar-no-mundo envolve a unidade entre o indivíduo e o meio em quatro dimensões, que são as dimensões da existência (Van Deurzen-Smith, 1996, 1998) e o processo terapêutico seria a exploração do mundo do cliente nas suas varias dimensões (Cohn, 1997).
No primeiro encontro entre psiquiatra-paciente, no filme, o médico e dois policiais da penitenciária acompanharam o atendimento entre, Theo e Ethan. Theo tentou se comunicar com seu paciente, pedindo-lhe que escrevesse seu nome em uma folha de papel, porém sua tentativa não teve sucesso. Ethan pegou o lápis e o enfiou na mesa agressivamente, logo os policiais reagiram com violência para contê-lo. Impressionado com o acontecimento Theo encerra o atendimento. Antes do próximo encontro, o psiquiatra vai à casa da filha de Ethan e, teve acesso a seu antigo local de trabalho, consegue algumas fotografias que poderiam contribuir em sua próxima tentativa de estimular seu paciente a falar. Aqui é possível notar que o psiquiatra abandonou o modo tradicional de abordar o paciente e procurou descobrir fatos da vida do paciente. Esse modo de relacionar com o paciente pode ser encarado na fenomenologia como uma abertura e interesse por parte do terapeuta em compreender os modos do paciente estar-no-mundo (envolve as quatro dimensões: física, social, psicológica, espiritual).
- Dimensão Física – Umwelt
Em relação à dimensão física, Ethan parece apresentar boa saúde, porém podemos observar que a procura de domínio sobre o meio natural, opondo-se a submissão e aceitação das limitações impostas pela idade e pelo ambiente, deu-se através da escolha de convivência com os gorilas, quando passou a imitar seus hábitos e comportamentos, considerando como possibilidade, suportar as ações do tempo, falta de abrigo, higiene e alterações em hábitos alimentares.
Dr.Ethan Powell observou os gorilas por meses e o primeiro contato foi assustador e maravilhoso. Aos poucos, misturou-se aos gorilas e tornou-se um deles. Parou de falar por opção: “ Não sou mais humano, não tenho nada a dizer”.
Na cadeia, antes da vinda do Dr. Theo Caulder, os direitos elementares não eram cumpridos e todos os presos eram altamente medicados e brutalizados. A diminuição na medicação, aliada ao genuíno interesse do psiquiatra pelo caso, fez com que Dr.Ethan Powell voltasse a falar e a relacionar-se.
- Dimensão social – Mitwelt
Ethan realizou ao longo de 12 anos, 21 viagens de pesquisas exploratórias, sempre sozinho. Em relação à dimensão social, o protagonista parece apresentar sentimentos de rejeição em relação aos outros, preferindo constantemente o isolamento. O relacionamento com as pessoas é extremamente agressivo, não permitindo que as pessoas o toquem e nem sequer se aproximem, reagindo violentamente quando o fazem, por sentir-se ameaçado. O sentimento por elas é de ódio intenso, as classifica como “dominadores”. Também reage violentamente em defesa daqueles que considera sua família, os gorilas e demais pessoas, que em sua concepção, são maltratadas pelos dominadores, por os considerarem indefesos e oprimidos.
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