Foucault e o Hospital
Por: Rafaella Pontes • 10/7/2016 • Trabalho acadêmico • 904 Palavras (4 Páginas) • 538 Visualizações
O primeiro ponto que podemos relacionar do texto com o nosso trabalho, é o fato do ambiente "hospital militar". Foucault fala sobre a importância que se viu em medicalizar o hospital militar por razões econômicas, tanto por conta do contrabando que ocorria, quanto por conta do quão custoso se tornou a formação dos militares, dando assim um valor a cada indivíduo que não deveria ser desperdiçado. No hospital analisado, vemos alguma perpetuação disso, já que os militares da ativa tem prioridade nos atendimentos e tratamentos do que aqueles que estão na reserva ou mesmo os dependentes. O indivíduo permanece como um recurso humano muito precioso para o organização por conta de seu custo.
Podemos ver também a questão da hierarquia do hospital, ainda mais dentro do ambiente militar, onde essa hierarquia já é bastante presente. Foucault fala sobre o médico passar a ser a figura principal dentro do hospital para que se atenue os efeitos nocivos deste. Assim, a figura do médico se torna a mais importante e isso se mostra inclusive nos ritos de passagem pelos leitos, onde o médico sempre deveria ir à frente. No hospital analisado, podemos observar que isso se perpetua, existindo uma hierarquia não apenas militar, como também hospitalar. Os militares devem obedecer a hierarquia existente no modelo militar, que é explícita a todos, bem como a hierarquia hospitalar, às vezes um tanto mascarada, mas que sempre aparece com a figura do médico como soberano. Podemos ver que muitos médicos não são muito acessíveis, vemos pacientes e acompanhantes queixando-se sobre a postura de alguns médicos e muitas vezes com medo de procurá-los ou perguntar algo, vemos médicos usando algumas expressões de diagnóstico nos pareceres que não são as mais adequadas, enfim, vemos que a hierarquia se faz presente de uma maneira quase natural.
Foucault vai dizer sobre a importância da disciplina, que aparece com relação ao vigiar. Era importante que os pacientes dos hospitais pudessem ser constantemente observados e, para isso, se muda o espaço hospitalar, tornando-se um espaço individualizado. O hospital torna-se um espaço de vigilância, de esquadrinhamento do indivíduo, através da vigilância, do exame, das anotações exaustivas sobre cada paciente. Começa-se a ver a doença não no doente, mas no meio, e assim se faz necessária a regulação sobre este meio, sobre o ar, a água e tudo que circula o doente, fazendo assim surgir leitos individuais ou com poucas pessoas. Assim, o hospital torna-se medicalizado tanto por essas ações disciplinares, quanto pela transformação do saber médico, que se torna tão essencial no hospital que a formação de todo médico deve passar pelo hospital, que é o lugar principal do médico agora. No hospital analisado, podemos ver toda essa disciplinarização. Vemos quartos com poucos leitos; as prevenções de contato quando necessárias; os quartos dispostos de maneira com que seja fácil e rápido se locomover por todos eles, possibilitando ao médico a observação de todos os pacientes; os residentes aprendendo dentro do hospital; as anotações de todas as equipes nos prontuários; os horários especificados. Enfim, podemos ver o controle que se exerce dentro do ambiente hospitalar.
O texto fala também sobre a mudança do hospital, passando de um lugar de assistência aos pobres, onde as pessoas estavam para morrer e onde a figura principal eram os religiosos, para um lugar de cura, medicalizado e onde a figura principal é o médico. Hoje, podemos ver que o hospital é um local elitizado. Ao pobre, resta o atendimento nos hospitais públicos, que se encontram totalmente precários. Os pobres eram os principais atendidos na idade média por conta do interesse dos religiosos na própria salvação. Hoje, com o objetivo de cura que há nos hospitais, não há lugar para o pobre, já que não há interesse em curá-lo. Voltamos aí, ao ponto do indivíduo como recurso humano para a sociedade. Vemos também que, ao passo que o hospital torna-se um local de cura, a morte vira um problema. Por conta do objetivo do médico ser a cura de cada paciente, se algum deles vem a óbito, isso marca um fracasso, e a morte torna-se um assunto difícil de lidar no ambiente hospitalar, não só para os médicos, como para os parentes do indivíduo internado, que querem a todo custo que o médico consiga curar o paciente e que este saia do hospital, pelo menos da mesma maneira como entrou; pior nunca. Além disso, vemos que os papéis de médicos e religiosos se inverteram. Ao passo que o médico tornou-se a figura principal nos hospitais, o religioso passa a ter um papel bem menor, estando ali para confortar os pacientes, orar, oferecer os sacramentos. Assim como, na idade média, era mandado o pior médico aos hospitais, hoje, muitos religiosos não gostam da tarefa de ir aos hospitais, vendo como algo menor ou um "trabalho sujo", sendo esse trabalho muitas vezes dado a padres mais jovens ou aos vigários, que estão em uma relação de subordinação ao pároco de uma igreja.
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