História Da Psiquiatria Brasileira: Momentos E Tendências (1850-1950)

O PODER PSIQUIÁTRICO: DO ASILO PARA OS HOSPÍCIOS

Principalmente, a partir do séc. XIX, tem-se o início de uma assistência psiquiátrica brasileira. Durante o período imperial, dá-se a passagem de uma psiquiatria leiga, que atuava nos asilos e instituições religiosas, para uma psiquiatria médica, que aos poucos, foi assumindo total responsabilidade do tratamento dado ao louco. Esta "nova psiquiatria" vai aparecer em dois níveis: o da relação médica(cura) e o da relação econômica( capital / trabalho).

Durante o período imperial, em que a economia era baseada no trabalho escravo e a cidade tinha alguns milhares de habitantes, a atenção, dada por parte do estado aos loucos, que mais tarde viriam a ser os" alienados" e posteriormente os" doentes mentais", foi inespressiva. Aqueles que pertenciam à classe privilegiada e que viessem a ser definidos como loucos, eram vigiados pela própria família. Aqueles que pertencessem a outras classes (não privilegiadas), eram aprisionados nos asilos ou hospícios, sem terem nenhum acompanhamento médico.

O estado começou a ser pressionado, tanto pela população, que não queria ver os loucos andando livremente, quanto pelos médicos e intelectuais, que não concordavam com a forma desumana com a qual eram tratados os loucos. As comunidades religiosas se encarregavam de colocar os loucos em porões, sem assistência médica, entregues a guardas e carcereiros. Eles conviviam com a fome, a sujeira, o frio e as correntes.

Atendendo às pressões que recebia, o estado imperial inaugurou, no dia 5 de dezembro de 1852, o primeiro hospício psiquiátrico: o hospício Pedro II, no Rio De Janeiro. Este é considerado, por vários autores, como sendo o marco institucional da assistência psiquiátrica brasileira. As instituições eram dirigidas pelas irmãs de caridade, e ainda não existia um saber psiquiátrico. A clientela era composta de pessoas pobres e marginalizadas, que iam para os hospícios, não para serem curadas, mas para ficarem isoladas do convívio social.

O número de hospícios foi crescendo e começaram a aparecer médicos e enfermeiros leigos em tais instituições.

Com a proclamação da república, e conseqüente separação entre igreja e estado, a direção dos hospícios foi passada para as mãos dos médicos, surgindo assim uma "psiquiatria médica". Seus precurssores foram: Teixeira Brandão, Juliano Moreira, Nina Rodrigues, Franco Da Rocha, Ulisses Pernambuco e Adauto Botelho. A partir daí ,os loucos começaram a ser vistos como doentes que precisavam ser tratados por especialistas. A função médica ampliou-se e ultrapassou a classificação e descrição das condições daqueles que a autoridade pública destinara aos hospícios.

No dia 12 de março de 1881, foi criada a primeira cadeira de clínica psiquiátrica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, sendo ministrada pelo professor Nuno De Andrade.

A abolição da escravatura, a imigração e o capitalismo serviram de suporte para o processo de formação de grandes núcleos urbanos. Nestes núcleos, era exigido o fortalecimento das exclusões, a recuperação dos excluídos e conhecimento para tal tratamento. Então, a psiquiatria se expande e se firma como o único conhecimento