Intervencao No Luto Infantil
Trabalho Escolar: Intervencao No Luto Infantil. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: ALGIMATE • 7/2/2015 • 4.375 Palavras (18 Páginas) • 582 Visualizações
Base generativa
“Sinto-me como a última pétala que ficou numa flor e as outras pétalas estão a voar para longe...”
Victoria Evans (6 anos)
A morte de uma pessoa importante é, porventura, a mais delicada situação que temos de enfrentar na vida. O luto (mourning) que se segue à morte de uma pessoa que nos estava próxima, independentemente da sua forma, não é uma doença, mas sim um processo de adaptação que tem de seguir o seu curso. Ao longo do tempo o conceito de luto assumiu dois significados diferentes. O primeiro derivou da teoria psicanalitica e refere-se a uma predisposição ampla ou um processo inter-psiquico, consciente e inconsciente que nos prepara para perda (Bowlby, 1980 in Rando, T., 1984). O segundo significado diz respeito à resposta cultural à dor, sendo a reacção à dor influenciada quer social quer culturalmente e como tal variável de pessoa para pessoa. Distingue-se de grief (pesar) que diz respeito às experiências pessoais, pensamentos e sentimentos associados com a morte (Worden, J., 1996).
O sofrimento da perda na infância é uma dor crua e penetrante que pode ser devastadora. Os adultos tem o benefício da experiência e de conhecimentos passados, podem perspectivar a perda mas não é esse o caso das crianças que não possuem este tipo de estratégias para a ultrapassar esta situação. A grande tensão que os pais sentem reflecte-se frequentemente na família e estes, apanhados como estão no turbilhão das suas próprias emoções, tem dificuldade em lidar simultaneamente com as necessidades crescentes de crianças alquebradas e com a sua própria perda (Mallon, B., 1998). Ao longo do processo de luto a criança precisa de saber que não está só e que os seus sentimentos são normais e fazem parte da vida; por isso um adulto que se preocupa com ela deverá ser identificado como uma ancora, seja este um membro da família, um amigo, um professor ou um trabalhador social.
As reacções à morte são muito parecidas com as que ocorrem em outros momentos de perda e embora possam ser mais intensas, o que é crítico é a importância dessa perda para o indivíduo-criança. Cada criança reage à perda com base no seu relacionamento com a pessoa ou coisa que foi perdida, dependendo das suas predisposições, personalidade, sensibilidade e todos os outros factores que contribuem para criar um indivíduo único.
Um estudo realizado em Boston por J. Worden com 125 crianças em situação de luto mostrou que durante os dois primeiros anos após a morte, somente uma minoria significativa de crianças (33%) registou algum risco de desenvolver problemas emocionais ou comportamentais. Tal, indica que as crianças tem diferentes recursos de suporte e força e diferentes áreas de vulnerabilidade sendo a adaptação à perda multideterminada. Embora a interacção entre estes determinantes seja complexa e ocorra de diferentes formas, é possível identificar seis categorias de mediadores que influenciam o curso da adaptação à perda, sendo eles: a morte e os rituais subjacentes; as relações da criança com os familiares mais próximos antes e depois da morte; o funcionamento dos familiares sobreviventes e a sua capacidade para apoiar a criança; influências familiares como o tamanho, a solvência, a estrutura, os estilos de coping, suporte e comunicação bem como stressores familiares e mudanças/disrupções no dia a dia da criança; suporte dos pares e outros fora da família; e as características da criança, incluindo a idade, o género, a auto-estima e a compreensão da morte. Variações nestes factores mediadores significam variações no processo de luto de cada criança e determinam a forma como a criança experencia a dor a seguir à perda de uma pessoa significativa.
A literatura indica três estádios principais do luto (Mallon, B., 2001):
Fase I – Primeiro estádio: A fase do protesto
Nesta fase as sensações de choque, alarme, torpor e recusa são comuns. O choque inicial da separação e da perda revela-se tanto física como emocionalmente.
Fase II – Estádio Agudo: A fase da desorganização
A raiva vem à superfície neste estado agudo do luto em que a realidade da perda se abate sobre o indivíduo. As crianças podem procurar outra pessoa- o médico, um dos pais ou até o defunto. Pode ser muito difícil aguentar esses sentimentos tão fortes, em especial se a criança utilizar os membros imediatos da família como objecto da sua intensa raiva.
Fase III- Estádio da cedência: A fase da reorganização
Neta fase final do luto, existe um conflito entre a necessidade de “deixar andar” num sentido emocional, e o desejo de “se manter firme”. Esta tracção entre o passado conhecido e o futuro desconhecido é a tónica dominante para a resolução do luto. Este é um momento muito importante onde se confirma que o luto não é o esquecimento da pessoa amada mas uma nova maneira de se ligar a ela.
Estes estádios não são rígidos – cada pessoa vive a dor à sua maneira única -, mas servem de guia para as reacções que podermos encontrar. Contudo uma criança pode parecer encontrar-se um dia num estádio e no dia seguinte passar para outro; por isso não podemos esperar observar uma progressão facilmente reconhecível. O luto é um processo e não um caminho linear e não há um padrão fixo.
Ao longo destes estádios que caracterizam o processo de luto a resposta de grief normalmente é experienciada de 12 diferentes formas (Haasl & Marnocha, 1990):
Resposta “grief” Descrição
Choque / Recusa / Estupor A perda pode parecer irreal ou impossível. A duração do choque pode ocorrer só por breves momentos ou arrastar-se por muitos meses (a norma aponta para 6 a 8 semanas).
Indiferença Por vezes as crianças mostram-se indiferentes à perda como forma de se defenderem. Contudo isto não revela ausência de sofrimento ou sentimentos em relação à morte.
Mudanças fisiológicas Fadiga; dificuldade em dormir; perda ou aumento do apetite; dor de garganta; respiração lenta; tensão muscular; dores de cabeça e estômago; perda de energia; inépcia; precipitação ou impulsividade.
Estes sintomas podem levar as crianças a pensar que elas também vão morrer.
Regressão A criança pode-se tornar mais dependente, dos adultos, exibir desejo de ser abraçada, acarinhada e/ou dormir com os pais. Pode apresentar comportamentos próprios do estádio de desenvolvimento
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