Intervenções em Crise em Desabamentos
Por: Deyarocha • 28/11/2018 • Trabalho acadêmico • 1.565 Palavras (7 Páginas) • 206 Visualizações
Introdução
O mundo de hoje é marcado por eventos que trazem ameaças a vida e a integridade física e psicológica das pessoas, contribuindo para o aumento de sentimentos de impotência e insegurança. A violência nas cidades, os acidentes de grandes proporções e as catástrofes decorrentes de fenômenos socioambientais revelam a fragilidade dos indivíduos e da sociedade às condições consideradas traumáticas. As situações de emergências e desastres produzem sofrimentos, mobilizam a população e causam impactos sociais que tem requisitado ações da Psicologia.
Desastres e situações emergenciais são eventos que normalmente ultrapassam a capacidade da população de prever, prevenir ou controlar; ocasionando prejuízos para a sociedade afetada, como mortes e desestruturação social, além do potencial desencadeamento de alterações físicas e emocionais nos indivíduos envolvidos. Por serem inevitáveis as consequências psicológicas de um desastre, é caracterizado sempre como uma fonte acelerada de estresse e representa sempre uma ameaça à vida e fonte de destruição. As contribuições da psicologia são muito importantes na prevenção e redução de desastres, bem como no tratamento das reações psicológicas oriundas de um evento adverso vivido por um indivíduo, por uma comunidade ou cidades inteiras.
Neste trabalho tentaremos apresentar os possíveis meios de atuação do psicologo nas situações específicas de desabamentos de prédios.
Casos de Desabamentos e as intervenções do psicólogo
As situações de desabamentos consistem em uma grave interrupção do modo de funcionamento de uma sociedade, excedendo a capacidade que a comunidade afetada possui de lidar com tal condição utilizando seus próprios recursos (WHO, 2015). Frequentemente resultam em um grande número de vítimas e em comoção popular, devido a sua abrangência (Melo & Santos, 2011), podendo estar relacionados a eventos de urgência, ou seja, ocorrências súbitas que exigem ação imediata, ocasionando outros prejuízos para a sociedade afetada, como mortes e desestruturação social, além do possível desencadeamento de alterações físicas e emocionais nos indivíduos envolvidos (WHO, 2015).
O aspecto psicossocial durante situações emergenciais e de catástrofes foi ignorado até o final da década de 1970. As equipes de gestão de desastres direcionavam as atividades apenas em curar e medicar as vítimas feridas e em reconstruir as áreas danificadas. Com certo tempo, através da identificação de sintomas nas vítimas, como medo e estresse, foi identificado impacto prejudicial na saúde mental dos envolvidos. A partir daí, começou uma mudança no modo de gestão de emergências, tendo em vista a importância do auxílio psicológico como um meio na recuperação do impacto gerado pelo evento estressor (Carvalho et al, 2013)
Em Pernambuco, o histórico de desabamento de prédios nos leva ao primeiro caso em 1977, onde o Edif. Gisele na cidade de Jaboatão dos Guararapes desabou deixando 22 vítimas fatais, fato que o número de vítima não foi maior devido ao mesmo estar em fase de conclusão, ao qual era utilizado apenas o pavimento térreo. Em 1999 na cidade de Olinda foi a vez do Edifício Ericka ruir; após 45 dias também em Olinda ruiu o Edifício Enseada de Serrambi, ambos deixando vítimas fatais. De acordo com levantamentos realizados após os acidentes de 1999, Olinda possuia 52 edifícios residenciais interditados onde viviam cerca de 700 famílias. A maioria deles está abandonado e sem qualquer tipo de vigilância sobre o patrimônio. Muitos foram saqueados e outros servem de abrigo para moradores de rua e sem-teto. No ano de 2004 veio abaixo o Edifício Areia Branca, localizado na beira mar do bairro de Piedade. O caso mais recente no Brasil foi em maio de 2018 na cidade de São Paulo, onde o Edifício Wilton Paes de Almeida sofreu um incêndio de grandes proporções resultando em seu colapso total, também com vítimas.
O atendimento psicológico mostra-se como uma ação preventiva frente a situações emergenciais, abrangendo a crise desde a sua ocorrência até o acompanhamento dos envolvidos no período pós-desastre. Com isso, o apoio imediato se propõe a acionar a parte saudável desses indivíduos, facilitando as condições para que enfrentem o período crítico. Os primeiros auxílios psicológicos diferenciam-se das demais abordagens por ter um tempo mais curto de duração e por trabalhar focos e objetivos limitados e pré- estabelecidos. Buscam solucionar problemas que exercem maior pressão em um período reduzido, proporcionando, assim, alívio imediato da ansiedade, bem como auxílio para compreender e lidar com a realidade que se apresenta. Um dos principais objetivos da abordagem psicológica é reconstruir a capacidade dessas pessoas de se recuperarem, ajudando-as a identificar necessidades imediatas, tais como contato com familiares, bem como suas próprias forças e habilidades para atender a prioridades (WHO, 2015).
Após o contato inicial com a situação de crise, é de extrema importância que o profissional tenha conhecimento para utilizar as Diretrizes de Primeiros Cuidados Psicológicos em situações de emergência da Organização Pan-Americana de Saúde as quais são caracterizadas por seis intervenções: 1) Contato: saber a hora de abordar e respeitar o momento do outro; 2) Segurança: verificar se aquela pessoa está em local seguro, lone de possíveis ameaças que esteja sofrendo no momento; 3) Estabilidade: disponibilizar com clareza informações referentes ao desabamento e procurar ouvi-los sem forçá-los a falar o que no momento não é o que ele deseja; 4) Coleta de informações: verificar com sobreviventes e envolvidos se suas reais necessidades e preocupações estão sendo atendidas, para que se possa te uma efetiva assistência; 5) Conexão do indivíduo com a rede social: buscar suporte identificando familiares e amigos que tenham mais recursos para auxiliá-los num primeiro momento; 6) Informar: trazer ao indivíduo a real situação de crise, trazendo-lhe dados sobre os serviços de apoio como os de saúde mental, que irão se disponibilizar para dar continuidade ao processo psicológico no futuro caso ele precise (WHO, 2011).
No período de urgência, o psicólogo pode atuar direta ou indiretamente nos sinistros, pois nos desabamentos sempre há perdas materiais e sociais, e sempre causam impactos sobre as vidas dos seres humanos. Ele pode dedicar-se a averiguar as consequências desse episódio sobre a vida das vítimas, da comunidade e dos profissionais. Na ação direta está o atendimento às vítimas que sofreram a emergência, se dá por meio da escuta atenta, entrevistas de apoio, ou mesmo sendo o mensageiro de informações básicas e precisas que possam ajudar a pessoa a se situar e se orientar diante da situação de caos (Dubugras et al, 2008).
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