Narcóticos Anônimos: uma perspectiva educativa nos grupos de ajuda mútua.
Por: AnaCarolinaGO • 6/6/2015 • Artigo • 2.958 Palavras (12 Páginas) • 502 Visualizações
Narcóticos Anônimos: uma perspectiva educativa nos grupos de ajuda mútua.
Ana Carolina Gonçalves de Oliveira*
Universidade São Francisco (USF)
RESUMO
Este trabalho tem por finalidade identificar e apontar algumas características de intersecção entre a proposta terapêutica dos grupos de ajuda mútua, neste caso o N.A- Narcóticos Anônimos e a perspectiva educativa transmitida de forma tácita entre os membros da Irmandade. O trabalho tem como função a obtenção da aprovação de Estágio Supervisionado em Psicologia Institucional, em detrimento das vinte (20) horas de Estágio realizado na Instituições.
1. Introdução
Não é segredo que na sociedade moderna em que vivemos a questão do uso de drogas, principalmente as ilícitas, são vistas como uma das piores doenças que afligem os homens. O aberto “combate às drogas” apresenta-se como a única maneira capaz de enfrentar e erradicar o fenômeno da adição. De forma condenatória, os discursos antidrogas distinguem-se pela veemência de uma argumentação mais emotiva e alarmista, do que serena e objetiva mais sensacionalista do que científica, mais moralista do que isenta de juízos valorativos (Bucher & Oliveira, 1994).
Desta forma, o presente artigo expõe minha visão em trabalho de campo em uma Instituição construída pelos próprios ex-usuários de drogas, no objetivo de ajudar-se mutualmente quanto as suas próprias dificuldades na abstenção do uso de substâncias e estigmas impregnados pela sociedade: O N.A ou Narcóticos Anônimos é um lugar onde seus próprios frequentadores intitulam-se como Irmandade e são para aqueles que se dão conta que o uso de drogas se tornou um problema maior e precisa de ajuda para recuperar-se.
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*Aluna do 5º semestre do curso de Psicologia da Universidade São Francisco ( USF)
RA 004201301723
1.1 História dos Narcóticos Anônimos
As fontes históricas de N.A são raras de serem encontradas, e a maioria de seus documentos estão em mãos privadas, desta forma, de acordo com Cardoso (2006), parte de sua origem se encontra abstrusa. Sabe-se que na década de 40, no estado de Kentucky nos Estados Unidos, por influência do grupo de A. A (Alcóolicos Anônimos) ocorreram tentativas de formar uma associação de ajuda mútua a dependentes de substâncias ilícitas, mas estas fracassaram logo no começo, devido ao fato de não poderem divulgar suas reuniões, pois os usuários eram considerados criminosos e poderiam ser presos se alguma autoridade soubesse destas reuniões. O que aconteceu foi que muitos adictos a drogas ilegais passaram a frequentar o grupo de A.A., o que gerou um problema nesta irmandade, por conta da identificação que ocorria entre os membros dependentes de álcool; então por conselho e apoio dos próprios membros do A.A. os dependentes de narcóticos continuaram a tentar montar grupos específicos para eles (Cardoso, 2006).
Ainda de acordo com Cardoso (2006), dentre vários grupos que se formaram e se desfizeram, o grupo do qual se desenvolveu a irmandade de N.A. que conhecemos hoje foi formado em 1953, no sul da Califórnia, onde foi concedido do A.A. o direito de utilizar a ideologia dos Doze Passos ( que será esmiuçado mais a frente neste artigo). O início da irmandade no Brasil, data da segunda metade da década de 70, entre os primeiros grupos que surgiram estava o Dependentes Químicos Anônimos (D.Q.A), que mais tarde se juntou ao grupo Toxicômanos Anônimos ( T.A), onde apenas em 1990 incorporou-se a Narcóticos Anônimos definitivamente ( Cardoso, 2006).
1.2 Os doze Passos
De acordo com Mota (2004), o programa dos Doze Passos é o início de um processo de recuperação por meio da qual a pessoa toma outo rumo em sua vida, outra direção, e assume outra visão de mundo, onde propicia aos membros a liberalidade que não possuíam anteriormente. Ainda para o autor, os Doze Passos não são contestados abertamente, e também não há coerção quanto a sua aceitação, na verdade são apresentados como uma sugestão, retirando assim a possibilidade de serem tratadas como dogmas.
Mota (2004) afirma que o conjunto dos doze passos devem ser seguidos individualmente pelos participantes; esses passos funcionam como uma espécie de guia para manter o vício sob controle, esta gama de diretrizes e orientações é a própria terapia em ato.
É o que chamam de “vivenciar a recuperação”, um tipo de processo que nunca está finalizado, que é uma constante atualização da condição de ‘não estar mais doente’ (Mota, 2004). O autor aponta que na prática, a vivência dos doze passos é algo de difícil adesão total, como o autor conclui em sua pesquisa. Dos membros entrevistados por ele, nenhum confirmou viver integralmente todos os passos, por isso ele os compreende como sugestões a serem vividas de acordo com as possibilidades, neste ponto ainda Mota (2004) enfatiza que há o risco de uma vivência superficial e, em momentos de instabilidade emocional ou de qualquer outra ordem, de ficar mais exposto a recaídas.
Os doze passos seguidos pelos Narcóticos Anônimos são:
1. Admitimos que éramos imponentes perante a nossa adicção, que nossas vidas tinham se tornado incontroláveis.
2. Viemos a acreditar que um Poder maior do que nós poderia devolve-nos à sanidade.
3. Decidimos entregar nossa vontade e nossas vidas aos cuidados de Deus, da maneira como nós O compreendíamos.
4. Fizemos um profundo e destemido inventário moral de nós mesmos.
5. Admitimos a Deus, a nós mesmos e a outro ser humano a natureza exata das nossas falhas.
6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.
7. Humildemente pedimos a Ele que removesse nossos defeitos.
8. Fizemos uma lista de todas as pessoas que tínhamos prejudicado, e dispusemo-nos a fazer reparações a todas elas.
9. Fizemos reparações diretas a tais pessoas, sempre que possível, exceto quando fazê-lo pudesse prejudica-las ou a outras.
10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.
11. Procuramos, através de prece e meditação, melhorar o nosso contato consciente com Deus, da maneira como nós O compreendíamos, rogando apenas o conhecimento da Sua Vontade em relação a nós, e o poder de realizar essa vontade.
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