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O Normal e o patológico

Por:   •  17/4/2018  •  Resenha  •  757 Palavras (4 Páginas)  •  783 Visualizações

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Texto escrito por Ana Paula Azevedo Pereira – Estudante de Psicologia

O normal e o patológico

O presente trabalho visa estabelecer uma correlação entre o livro “O Alienista” de Machado de Assis e o texto “Doença, cura, saúde” de Georges Canguilhem (2014), apresentando o normal e o patológico sob a ótica de ambas as referências. Ademais, propõe-se através de uma perspectiva crítica, suscitar algumas considerações relevantes à compreensão desses dois conceitos.

Na obra “O Alienista”, Machado de Assis traz como personagem central o Dr. Simão Bacamarte, um renomado médico (cientista) que se dedicou incansavelmente ao estudo da loucura. A Casa Verde, asilo dos loucos instituído por ele em Itaguaí, foi onde pôde analisar seus pacientes, criar e comprovar suas “teorias científicas”. Separar nitidamente a loucura da sanidade tornou-se uma das principais obstinações do médico, senão a principal. No entanto, tal tarefa mostrou-se um tanto complexa, o fazendo incorrer em tentativas frustradas.

Inicialmente, Dr. Bacamarte recolhia à Casa Verde os considerados tradicionalmente loucos (furiosos, mansos, monomaníacos), porém com o passar do tempo percebia-se que o recolhimento abrangia pessoas tidas como normais pela população, apesar de revelarem hábitos e atitudes questionáveis. Para ele, essas pessoas não se encontravam no gozo do perfeito equilíbrio das faculdades mentais. Nesse momento formava-se então, sua primeira teoria, que logo caiu por terra.

O médico chegou a patologizar três quintos da população, o que causou estranhamento até a si mesmo. Acreditava haver falhas em suas concepções anteriores, portanto, criou sua segunda teoria, inverso da primeira. O que antes era apontado como loucura por ele, passou a ser sanidade, ou seja, o desequilíbrio das faculdades mentais não era mais patológico e sim normal. Em razão disso, todas as pessoas consideradas em perfeito juízo foram internadas, porém não mantidas por muito tempo, tendo em vista a eficácia do tratamento a que eram submetidas. Por fim, não restando nem mais uma só pessoa na Casa Verde, Dr. Bacamarte lá se internou, julgando ser o único louco irremediável.

        Observa-se em “O Alienista”, que Dr. Simão Bacamarte exerce a ciência de um modo extremamente rígido, simbolizando uma ciência fria. Evidencia-se uma postura positivista imbuída de autoritarismo. O médico ao tentar traçar com clareza uma linha divisória entre loucura e sanidade, demonstra objetividade excessiva e radicalidade. Na busca incessante pela identificação dos padrões de normalidade e anormalidade, os indivíduos eram tratados por categorias, sendo assim abrangidos por uma norma coletiva.

        Com base no texto “Doença, cura, saúde” de Georges Canguilhem (2014) compreende-se que o termo normal está relacionado à norma, que por sua vez significa enquadramento, o centro. A média estabelecida estatisticamente é o que se entende por referência. Portanto, não se confundem e deve-se ter o cuidado para não transformar a referência em norma.

        Sob o ponto de vista de Canguilhem (2014), o normal e o patológico devem ser definidos por meio do indivíduo, ou seja, mediante uma norma individual. O autor afirma que “a fronteira entre o normal e o patológico é imprecisa para diversos indivíduos considerados simultaneamente, mas é perfeitamente precisa para um único e mesmo indivíduo considerado sucessivamente”. Diante disso, pode-se concluir que considerar os indivíduos “simultaneamente” é o mesmo que valer-se da média (referência) e torná-la norma para todos esses sujeitos.

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