O Sujeito Lacaniano
Por: Jaime Elias Neto • 16/4/2018 • Resenha • 2.384 Palavras (10 Páginas) • 715 Visualizações
I
Introdução
Lacan explora o significado do “tornar-se sujeito”, circundando noções centrais como: o Outro, objeto a, inconsciente estruturado como linguagem, alienação e separação, metáfora paterna e diferença sexual para explica-lo.No texto tentamos abordar a ideia de como se constrói esse sujeito lacaniano e suas fases de constituição utilizando o auxílio teórico de Bruce Fink, Ph.D. pela University of Paris em “Orientation lacanienne” e conhecido como o maior tradutor de Lacan.
Sujeito lacaniano
O sujeito Lacaniano não é o indivíduo das ciências sociais e também não é o que é chamado de sujeito consciente. Ele tão pouco se forma pela sua capacidade de usar o pronome “eu”. Ele surge com a cristalização ou sedimentação de imagens ideais, equivalente a um objeto fixo e reificado no qual a criança pode se identificar. Tais imagens podem ser constituídas por aquelas imagens que a criança vê no espelho. Elas são ideias, pois no momento em que se apresentam, com importância, a criança ainda é descoordenada, sendo na verdade apenas uma mistura desorganizada de sensações e impulsos. A imagem no espelho apresenta uma aparência superficial unificada, tal como a imagem dos pais muito mais capazes, coordenados e poderosos. ( Fink, 1998)
Essa imagens são investidas, catexizadas e internalizadas pela criança, pela atribuição de importância de seus pais a elas. Outras imagens são também assimiladas pela criança, estas imagens a refletem por meio do Outro (um bom menino, uma mau menino). Sendo assim é a ordem simbólica que realiza a internalização das imagens. (Barroso, 2012)
Uma vez já ocorrida a internalização estas imagens se fundem em uma imagem global, que a criança vem a considerar como seu self. Obviamente esta imagem global pode receber incrementos ao longo da vida. Esta cristalização das imagens é o que possibilita o sentido do eu coerente, ou ,em alguns casos, impossibilita esse sentido quando as imagens são demasiadamente contraditórias para se fundirem. Grande parte das tentativas de compreender o mundo envolve a justaposição do visto e ouvido com essa auto-imagem.(Fink,1998)
Esse self é uma construção, um objeto mental. Na perspectiva lacaniana o eu não é um agente ativo, sendo o inconsciente o agente de interesse. O eu é um lugar de fixação e de ligação narcísica. Além disso o eu inevitavelmente contém imagens falsas, no sentido que as imagens no espelho são sempre invertidas, na medida que a comunicação que internaliza as imagens ideais, esta comunicação está sujeita a mal-entendidos. (Fink, 1998)
Segundo Bruce Fink (1998), um dos fundamentos para compreender o sujeito de Lacan é encontrado ao pensar sobre o discurso. O discurso não se apresenta de forma unidirecional. São dois os tipos de discurso, o intencional e um outro. Um discurso intencional diz respeito ao que o sujeito queria dizer,o que ele pretendia comunicar. O outro discurso é o sem intenção. Esses discursos evidenciam a existência de duas formas de fala: a fala do eu, fala corriqueira sobre o que conscientemente se pensa e acredita ao seu respeito. e um outro tipo de fala. Neste último tipo o Outro está se relacionando, de forma mais básica. Estas falas surgem de dois lugares diferentes do eu e do Outro.
O Outro
O Outro penetra o sujeito desde seu nascimento. Qualquer um nasce em um mundo de discursos. Uma criança já nasce dentro do universo linguístico dos pais, eles falam sobre ela, imaginam a vida com ela e esta linguagem continuará mesmo depois de sua morte. A criança é obrigada a ultrapassar o estágio de choro e aprender a língua de seus cuidadores a fim de expressar o que quer. No entanto seus desejos são moldados no mesmo processo, já que as palavras aprendidas não são suas e não correspondem a suas demandas necessariamente.Seus desejos são assim moldados na forma da língua que aprendem. Assim sendo, não se pode dizer o que uma criança quer antes da apreensão da linguagem. Quando um bebê chora são os pais que nomeiam o desconforto, um desconforto geral (frio, sede, sono) pode ser chamado de fome e resolvido com comida, este desconforto será retroativamente significado de fome. (Fink, 1998)
O Outro é assimilado pela criança na tentativa de preencher o vácuo entre o desejo inarticulado e a articulação do desejo em termos socialmente compreensíveis, senão aceitáveis. Assim o Outro transforma o desejo, mas ao mesmo tempo é o que permite que os desejos sejam revelados a outrem, e que a comunicação ocorra. (Fink, 1998)
Alienação e separação
Nessa apreensão da linguagem Lacan conceitua a alienação do homem na linguagem. Todo ser humano que aprende a falar é um ser alienado. A linguagem permite a realização do desejo, mas ela dá um nó neste ponto, fazendo que homem possa desejar e não desejar a mesma coisa, e nunca se satisfazer quando consegue o que pensava desejar. (Fink, 1998)
Na alienação a criança e o Outro têm pesos muito desiguais, a criança quase que inevitavelmente perde este confronto. Mas ao se sujeitar ao Outro ela se torna um sujeito da linguagem. Advindo na forma de um sujeito barrado. Nesta luta a criança pode vencer, a psicose é o resultado dessa vitória. Na escolha pela sujeição da linguagem, a criança decide se expressar por meio desse meio distorcido. (Bruder e Brauder, 2007)
O conceito de alienação envolve um ou\ou, um escolha exclusiva entre duas partes a ser decidida pela luta até a morte. O célebre exemplo dado por Lacan é que assim que um sujeito ouve de um assaltante “a bolsa ou a vida”, o dinheiro já se foi. Caso o sujeito seja imprudente de tal forma que lute para manter a bolsa, o assaltante cumprindo o que havia dito tirará sua vida e logo após tirará sua bolsa com seu dinheiro. Portante é melhor que o sujeito aja com prudência é entregue sua bolsa, mesmo que isso traga restrição do prazer que poderia ser alcançado pelo dinheiro. Se ele decidir lutar é uma luta até a morte. (Fink, 1998 )
Na confrontação o sujeito sai de cena. A alienação é o primeiro passo para acender a subjetividade, esse passo envolve escolher o próprio desaparecimento. O sujeito fracassa em se desenvolver como um ser específico, sendo um não-ser. O sujeito existe no sentido de que a palavra o moldou do nada, e é possível falar sobre ele. Antes da alienação não existe nenhuma possibilidade de ser: é o próprio sujeito que não está lá no começo. Posteriormente seu ser é apenas potencial. A alienação dá origem a uma possibilidade pura de ser, um lugar onde espera-se encontrar um sujeito, mas que permanece vazio. O primeiro vislumbre do sujeito é justamente essa falta. (Bruder e Brauder,2007, )
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