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O TRABALHO E SUBJETIVIDADE

Por:   •  30/4/2022  •  Resenha  •  567 Palavras (3 Páginas)  •  84 Visualizações

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APS Trabalho e Subjetividade

Documentário Take Your Pills

O documentário “Take Your Pills”, produzido pela NETFLIX, relata  o problema do abuso  de medicamentos  utilizados no tratamento de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividades) por pessoas saudáveis  e  como os mesmos medicamentos agem em indivíduos portadores do transtorno.

Medicamentos como Concerta, Ritalin e Aderrall vêm sendo utilizados de forma descontrolada e banalizada nos meios esportivo, acadêmico e empresarial com o intuito de aumentar o rendimento, o foco e a produtividade.  Em um mundo onde a competição é constantemente estimulada, em todas as áreas, não é de se espantar que as pessoas busquem suporte nesses medicamentos cuja composição é a mesma de drogas como anfetaminas e metanfetaminas.

É assustador saber como a subjetividade dos sujeitos é constantemente atravessada por discursos  que afirmam que  só é feliz quem é bem sucedido, quem se esforça muito, quem dorme menos, quem trabalha mais, levando essas pessoas  a mergulharem nesses medicamentos sem ao menos avaliarem os malefícios  à saúde e as questões éticas envolvidas.

A indústria farmacêutica percebendo que essa demanda  pelo sucesso só aumenta, já investe em remédios que prometem o aprimoramento cognitivo, são os chamados  “potencializadores cognitivos”. Através de sedutoras propagandas essas pílulas são apresentadas como o futuro da espécie humana.

O documentário deixa bem claro que vivemos em um momento de exacerbação do individualismo competitivo, onde o sujeito é visto como  empresarial, como aquele que quer conquistar tudo, que deseja alcançar a perfeição e a admiração de todos.

Talvez possamos encarar o uso abusivo desses medicamentos como uma estratégia  de defesa, como um mecanismo para suportar a pressão e as angústias causadas tanto  no âmbito profissional quanto no  acadêmico.

Jonathan Crary, em seu livro 24/7: Capitalismo Tardio e os Fins do Sono, nos alerta que “estamos vivendo em um mundo onde a fragilidade da vida humana é inadequada, o sono não é mais necessário e a idéia de trabalhar sem pausas nem limites é normal”.

Na busca pela perfeição, competência e sucesso os sujeitos mergulham cada vez mais fundo no universo dos chamados “potencializadores cognitivos”,  abrindo mão de experiências naturais como fracasso, tristeza e  conquistas , elementos que moldam a essência humana.    Todo esse foco em super eficiência, essa necessidade de adequação e reconhecimento está modificando nosso pertencimento no mundo e  atingindo a forma como nossa subjetividade vem sendo modelada.

 Guatarri, em seu texto  Cartografias do Desejo, no destaque a produção de subjetividade e individualidade, nos fala sobre o modo de subjetivação e explosão dessa subjetividade que é social,  assumida e vivida por indivíduos em suas existências particulares: “ A política da individuação da subjetividade é correlativa de sistemas de identificação que são modelizantes” (Guatarri).

 Ao final do documentário,  uma frase da  Drª Wendy Brown sintetiza o quão preocupante e cruel é esse ambiente competitivo em que estamos inseridos e  que faz com que as pessoas se sintam obrigadas a ir além de seus limites e capacidades na busca pelo sucesso : “Para que tudo isso?”

Sabemos que, hoje, que as pressôes sociais que levam ao abuso de fármacos é um problema  real e inquietante.  Entretanto, nos resta  ter esperança que, com esclarecimentos e  orientações corretas, a nova geração  terá uma consciência maior quanto ao uso e cuidados na administração desses recursos medicamentosos.

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