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O conceito de humilhação social e invisibilidade social

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Por:   •  2/9/2014  •  Projeto de pesquisa  •  4.351 Palavras (18 Páginas)  •  562 Visualizações

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INTRODUÇÃO

Dois pensamentos que se encontram, apesar de falarem uma linguagem diferente, marxismo e psicanálise.

São duas visões de mundo que aborda a organização de uma sociedade e a formação do homem na sociedade. A consideração do individuo com outro individuo se torna a partir de onde ele habita e as condições econômicas. A humilhação crônica, longamente sofrida pelos pobres e pelos seus ancestrais.

No mundo em que vivemos não é difícil perceber a grandeza da desigualdade, pois por todos os lados em que olhamos nos deparamos com a pobreza e a humilhação social, principalmente nas grandes cidades onde pessoas de cidades do interior migram para as grandes cidades á procura de oportunidades. Quem migra leva consigo sonhos de uma vida melhor para si e suas famílias, de obter sucesso econômico rápido e de regressar vitorioso, o quanto antes, à sua terra natal. Mas quando chegam percebem que a realidade é bem outra, nas grandes cidades tudo é mais difícil, nada vem de graça, tudo tem seu preço. Alguns têm sorte, conseguem comprar a tão sonhada casa própria, já outros não conseguem nem o dinheiro de volta para a cidade natal.

A desigualdade econômica e a falta de orientação educacional dificultam a visão de um mundo melhor, não há memória para aqueles a quem nada pertence. Infelizmente nosso país é capitalista não tem vez para quem não tem dinheiro.

Neste texto buscamos ressaltar e analisar a experiência individual da desigualdade social, com suas implicações psicológicas, considerando o ponto de vista de quem é oprimido por essa desigualdade, por meio de relato de pessoas que viveram e vivem essa experiência no seu dia a dia.

Conceito de Humilhação Social e invisiabilidade publica.

Os temas da Psicologia Social, justamente, incidem sobre problemas intermediários, difíceis de considerar apenas pelo lado do indivíduo ou apenas pelo lado da sociedade. É este o caso para o problema da humilhação social. Sem dúvida, trata-se de um fenômeno histórico. A humilhação crônica, longamente sofrida pelos pobres e seus ancestrais, é efeito da desigualdade política, indica a exclusão recorrente de uma classe inteira de homens para fora do âmbito intersubjetivo da iniciativa e da palavra. Mas é também de dentro que, no humilhado, a humilhação vem atacar. A humilhação vale como uma modalidade de angústia e, nesta medida, assume internamente – como um impulso mórbido – o corpo, o gesto, a imaginação e a voz do humilhado. A humilhação social conhece, em seu mecanismo, determinações econômicas e inconscientes.

O humilhado atravessa uma situação de impedimento para sua humanidade, uma situação reconhecível nele mesmo – em seu corpo e gestos, em sua imaginação e em sua voz – e também reconhecível em seu mundo – em seu trabalho e em seu bairro.

Eis o que ouvimos de Ecléa Bosi (1994, p.443): a mobilidade extrema e insegura das famílias pobres, migrantes ou nômade-urbanas, impede a sedimentação do passado. Os retratos, o retrato de casamento, os panos e peças do enxoval, os objetos herdados, toda esta coleção de bens biográficos não logra acompanhar a odisséia dos miseráveis. São transferidos, são abandonados ou são vendidos a preços irrisórios. A espoliação econômica manifesta-se ao mesmo tempo como espoliação do passado.

Não há memória para aqueles a quem nada pertence. Tudo o que se trabalhou, criou, lutou, a crônica da família ou do indivíduo vão cair no anonimato ao fim de seu percurso errante. A violência que separou suas articulações desconjuntou seus esforços, esbofeteou sua esperança, espoliou também a lembrança de seus feitos. (Bosi, E, 1981, p.23).

Para os Sudaneses e Bantos, brutalmente arrastados para o Brasil, o despojamento começou pela escravidão nos engenhos, nas minas e nos cafezais (Queiroz, 1987). No trabalho escravo, a vida dos africanos era reduzida para a média dos sete a dez anos (Moura, 1989, p.14, 54). Quando não a morte física, era a morte cultural que os espreitava: o banzo, a saudade da África, a saudade letal (Freire, 1975, p.464). Houve negros que se suicidaram comendo terra, enforcando-se, envenenando-se com ervas e protege. Houve os que caíram no estupor melancólico e vagavam ausentes, assombrando as fazendas com seu rosto fantasmatizado. Houve os que definharam recusando comida, a comida insossa, a comida estranha, a comida que vinha pela mão que açoitava seus pais e seus filhos.

O escravo é aquele a quem não se propõe nenhum bem como finalidade dos seus cansaços, a não ser a simples existência.

Num país em que os serviços públicos são tidos como estorvo econômico e em que a organização popular não cobre a multidão dos migrantes, a esperança dos pobres concentra-se cada vez mais no dinheiro, cada vez menos na cidade e no outro.

A visão dos bairros pobres parece, às vezes, ainda mais impiedosa do que a visão de ambientes arruinados: não são bairros que o tempo veio corroer ou as guerras vieram abalar, são bairros que mal puderam nascer para o tempo e para a história. Um bairro proletário não é feito de ruínas. Ocorre que ali o trabalho humano sobre a natureza e sobre a cidade parece interceptado. As formas de um bairro pobre não figuram como destroços ou como edifícios decaídos – realidades fúnebres, mas em que podem restar impressionantes qualidades arqueológicas: em suas linhas corroídas e em suas formas parcialmente quebradas pode persistir a memória de uma gente.

O trabalho faz experimentar de uma forma extenuante o fenômeno da finalidade devolvida como uma bola; trabalhar para comer, comer para trabalhar. Se consideramos um dos dois como um fim, ou ambos separadamente, estamos perdidos. O ciclo contém a verdade.

A grande dor do trabalho manual é que somos obrigados a nos esforçar por longas horas seguidas, simplesmente para existir.

Em seu depoimento o frentista migrante, vindo de Arapiraca no sertão de Alagoas, Gerônimo, afirma:

Aqui você tem que trabalhar porque tudo depende do trabalho aqui em São Paulo. Você não tem da onde adquirir nada. Nem pra comer. Nem pra nada. Tudo aqui tem que ser com dinheiro aqui em São Paulo. Se você não tiver o dinheiro se acabou o mundo. Porque aqui você não tem colega, aqui você não, só o se for da família, um irmão pra dar

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