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O normal e o patológico

Por:   •  15/2/2016  •  Ensaio  •  1.167 Palavras (5 Páginas)  •  437 Visualizações

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As delimitações entre o que é normal e patológico são bastante discutidas conceitualmente e há diversas divergências quando se trata desse assunto. Pensando pelo viés de que o patológico é aquilo que não está dentro do que é considerado normalidade, já temos vários pontos de vistas diferentes, visto que, o normal não é algo rígido e varia de acordo com o contexto individual e cultural.  Para Foucault (1994) “a doença só tem realidade e valor de doença no interior de uma cultura que a reconhece como tal”. Isso significa dizer que cada povo ou cultura cria e elabora os seus próprios critérios do que vem a ser considerado patológico ou não.

Dentro disso, é possível pensar nos diferentes grupos sociais que são formados e que criam diferentes regras de funcionamento, que ao se voltar para aqueles que não se adequaram a essas regras, o taxa como "doente", categoriza-se esse comportamento considerado desviado como patológico. E, isso funciona não só para uma dimensão local de cultura, mas, de uma dimensão temporal de cultura também. Por exemplo, em um passado não tão distante, tínhamos como obrigação as mulheres ficarem em casa, obedecendo ao marido e cuidando dos filhos, e aquelas que discordavam e fugiam disso eram tidas como loucas e vulgares, logo, “no cotidiano, normal é considerado aquele que se submete à pressão das normas, que age como se espera; "anormal" é quem foge às regras” (AIUBI, Monica, 2003).

Canguilhem, em seu livro "O normal e o patológico", 1943, defende que o patológico não deve ser reduzido a ausência de uma norma, justamente porque essa norma é bastante subjetiva e varia de acordo com o tempo, cultura e indivíduo. Como pensar que “há 10 anos eu era considerado doente e hoje não sou mais?”. Logo, ao falar de patologia, não se pode dissocia-la da realidade e história de vida daquele indivíduo, pois não há nenhuma patologia que "seja" antes da queixa do doente, e por isso mesmo ele deve ser escutado, segundo o autor, “não há nada na ciência que antes não tenha aparecido na consciência e que especialmente no caso que nos interessa, é o ponto de vista do doente que, no fundo, é verdadeiro" (Canguilhem, 1966, p.68).

Ele ainda considera que, o doente é aquele que não consegue ser capaz de ser normativo, e não que o faz por outros motivos e é tido como louco pela sociedade, assim o doente o é por ser incapaz de ser normativo. A saúde seria, portanto, mais do que ser normal, é ser capaz de estar adaptado às exigências do meio, e ser capaz de criar e seguir novas normas de vida,isso representaria dizer que qualquer que seja o conteúdo cultural da loucura, o dito “louco” seria aquele que demonstra “inadaptação” ou “desvio”, dentro de determinado grupo.Em outras palavras, a loucura só poderá ser reconhecida se, dentro daquela cultura exista um modelo de doença que justifique e circunscreva o comportamento “desviante”.

No sentido dessa discussão, o conto de Machado de Assis " O Alienista", traz uma  série de contribuições e de críticas. O personagem principal, o Doutor Simão Bacamarte é um disseminador da "patologização", e usa de uma pequena população de uma pequena cidade interiorana para comprovar seus "experimentos". A criação da Casa Verde, é um grande exemplo do movimento de criação das "casas de internamento", em que a medicina encontra um campo propício para reter a loucura como um objeto de conhecimento. E, é este o objetivo de Simão Bacamarte no conto, manter as pessoas em um ambiente em que ele tivesse liberdade para estudá-las.

Seguindo ainda na discussão do patológico enquanto aquilo que se desvia da norma, do padrão, é possível verificar esse elemento no conto. Bacamarte tinha como referência normas sociais e morais da época, e aqueles que não se enquadravam, deveriam ser encaminhados à Casa Verde. Porém, esse é o primeiro momento do conto: o momento em que o médico Bacamarte afirmara que eram loucos aqueles que apresentavam um desvirtuamento moral e transgrediam os padrões sociais. E é assim, que Bacamarte praticamente esvazia a cidade interiorana, e superlota a Casa Verde.

Em um segundo momento do conto, tudo parece ficar as "avessas", e tudo aquilo que o médico acreditara ser verdade é posto em questão. “[...] se devia admitir como normal e exemplar odesequilíbrio das faculdades, e como hipóteses patológicas todos os casos em que aquele equilíbrio fosse ininterrupto [...]” (ASSIS, 2005, p. 46). Ou seja, Bacamarte passa a acreditar que, oras, se praticamente todos apresentam algum tipo de desvirtuamento, ou em algum momento transgridem os padrões, os anormais seriam aqueles que nunca haviam passado por isso. E, dessa forma, atenta-se para a questão dos defeitos dos seres humanos, as falhas que esses seres apresentam, como algo normal. Ou seja, o anteriormente anormal, na verdade era o normal, e aquilo considerado normal anteriormente, seria a loucura.

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