O psicólogo na Atuação Primária em Saude
Por: Fabian Lastra • 20/11/2015 • Trabalho acadêmico • 1.254 Palavras (6 Páginas) • 292 Visualizações
As principais características do profissional Psicólogo para atuar em Atenção Primária em Saúde.
O conceito de saúde tem sido discutido na tentativa de dar maior operacionalidade às políticas e à assistência às populações, fundamentalmente preocupando-se com as questões psicossociais envolvidas no processo saúde-doença. Com o objetivo de estimular uma reflexão a respeito do novo conceito e das estratégias de assistência à saúde, ocorreu na cidade de Alma-Ata, no ano de 1978, a Conferência Internacional sobre os Cuidados Primários em Saúde, que se tornou o marco na tentativa de se promover a saúde em uma perspectiva mais ampla e complexa (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1978). Nessa conferência, discutiram-se os parâmetros básicos da atenção primária à saúde (APS) como uma estratégia de assistência, baseando-se no conceito ampliado de saúde. (Ronzani; Rodrigues, 2006). A APS é um nível de suma importância, pois enfoca as práticas de promoção à saúde, permite o acesso da população não somente à reabilitação de doenças, mas também a ações sociais que valorizem o ser humano em sua interação com o meio e possibilita uma ação mais integrada das várias disciplinas.
Nesta perspectiva, cada vez mais se discute a relevância de ação de profissionais de várias formações no campo da saúde. Por isso, é preciso que haja um conhecimento, por parte dos profissionais, da possibilidade de um trabalho integrado. Para que possa haver tal relação, é necessária que haja a identificação de uma problemática comum através de uma articulação teórica e política com o esforço de se estabelecer uma linguagem compartilhada dos conceitos fundamentais (Almeida Filho; 1997; Faria, 1999). Portanto, a saúde coletiva não pode ser entendida como um conjunto de ações e saberes isolados. É preciso haver a produção de uma disciplina comum, sem a justaposição ou a nomeação de uma profissão ou campo de atuação com a detentora das rédeas do trabalho generalista (Ronzani; Ribeiro, 2003).
A importância do conhecimento e da utilização dos aspectos socioculturais e psicossociais seria não somente relevante para facilitar a relação médico-paciente ou programas institucionais em saúde, mas, principalmente, para possibilitar a integração da equipe de saúde junto à comunidade e a identificação de sujeitos importantes na multiplicação de conhecimento (Andrade; Araújo, 2003; Calatayud, 1999; Saforcada, 2002).
A Psicologia, como disciplina acentuada nas questões da saúde, necessita da reformulação de suas ações tradicionais, que, muitas vezes, implicam uma perspectiva isolada. Em virtude da formação tradicional na Psicologia, a prática profissional é predominantemente pautada por questões teórico-práticas limitadas às teorias terapêutico-curativas, com predominância da Psicologia clínica, o que leva a um reducionismo da compreensão do processo saúde-doença. Tal representação e perfil predominante dos profissionais levam, muitas vezes, à simplificação, e não ao reconhecimento da Psicologia como uma disciplina de relevância social e, principalmente, como uma área de conhecimento importante para a promoção da saúde coletiva (Benevides, 2005; Dimenstein, 2000; Dimenstein 2001; Duràn-Gonzales; Hernandez-Rincon; Becerra-Apontes, 1995; Spink, 2003). Inserindo o psicólogo na promoção não somente da saúde mental, mas também em outros setores da saúde, permitirá uma mudança no espaço definido por alguma praticas da psicologia clinica e da saúde tradicional.
Algumas tentativas de reformulação da prática dos psicólogos têm sido feitas por profissionais que procuram fazer, da Psicologia, uma disciplina de relevância social, voltada, principalmente, para a promoção não somente da saúde mental, mas também da saúde de forma ampla (Camargo-Borges; Cardoso, 2005; Calatayud, 2002; Dimenstein, 2000; Dimenstein, 2001; Saforcada, 2002; Spink, 2003). A Psicologia social, então, apresenta-se como campo teórico importante para o trabalho em saúde, uma vez que possibilita a discussão da dimensão social do fenômeno humano levando em conta a constituição de subjetividades sociais implicadas nesse processo (Benevides, 2005; Camargo-Borges; Cardoso, 2005; Dimenstein, 2001; Spink, 2003; Traverso-Yépez, 2001). A psicologia comunitária, especificamente, facilita uma maior aproximação das questões de relevância social das comunidades (Saforcada, 2002). A função mais adequada da psicologia na comunidade seria a de um trabalho educativo e conscientizador que possa levar a população, por seus próprios meios, a criar alternativas de melhoria das condições. Dentre as várias formas de ação do psicólogo, destacamos: a) a priorização de práticas que visem mais à prevenção e promoção do que à reabilitação; b) as intervenções, que devem visar muito mais ao desenvolvimento de competências sociais; c) trabalho que proporcione a parceria com a comunidade, e não o atendimento direto, realizando, inclusive, projetos com a população (Andery, 1984). O psicólogo, então se torna um recurso essencial na medida em que pode promover a participação da comunidade no autocuidado e ainda ser ponto de interseção entre a população e a equipe de saúde.
Duràn-Gonzales; Hernandez-Rincon e Becerra-Apontes (1995) apontam 4 funções do psicólogo no trabalho em APS: a) psicossocial (desenvolver diagnósticos das características psicossociais, procurando relacionar tais características aos principais problemas de saúde; desenvolver trabalho preventivo de doenças; proporcionar apoio psicológico a populações em risco); b) pedagógica (desenvolver programas educativos relacionados a problemas de saúde junto às comunidades) c) de investigação (constante avaliação dos resultados de seu trabalho); d) administrativa (identificar suas tarefas e as dos outros componentes da equipe, delegando responsabilidades e procurando maior integração do trabalho).
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