Observação em Uma Escola Pública
Por: crissusana • 19/11/2019 • Trabalho acadêmico • 677 Palavras (3 Páginas) • 239 Visualizações
Durante o processo de observação na Escola Alberto Torres, foi possível ter contato com um mundo estranho, me possibilitando produzir imagens poéticas, que instigavam a percorrer concomitantemente o meu território interno. Através desse movimento mútuo de agenciamentos, contemplei transformações, pois a imagem poética impulsiona o protagonista-observador a formular uma estratégia metodológica de pesquisa, a partir dos atravessamentos que os territórios inevitavelmente produziam.
Neste cenário escolar tivemos contato com os professores que gentilmente nos recepcionaram e nos deram a liberdade de observar a atuação dos mesmos em sala de aula. Ficou combinado que eu observaria a aula de português com a professora Mirian do 2º ano. O grupo de estudantes que frequentavam aquela aula tinham a faixa etária de 17 a 21 anos de idade. Ao adentrar naquele ambiente pude sentir a euforia que advinha daqueles jovens, confesso que este transpassar me fez reexperimentar momentos que estavam guardados em um álbum empoeirado na memória.
Para identificar a demanda que emergia naquele espaço em um coletivo, era preciso que a observação permeasse o campo de transferência, ou seja, era necessário me inserir, me afetar e me modificar. Consequentemente fui instigada a me questionar: o que aquele coletivo desejava?
Perguntei para a Professora Mirian se ela permitiria eu me apresentar e ter um momento de interação com os estudantes. Com a permissão, tive a oportunidade de conversar com cada um, perguntei sobre seus objetivos e sonhos, e dei a liberdade para que eles também me perguntassem caso sentissem vontade.
No transcorrer das falas, procurei exercitar em mim um esvaziar do eu, para alcançar a capacidade de ouvir e sentir o que não estava sendo dito, esta escuta sensível me possibilitou identificar a demanda que emergia daquele coletivo, pois fui envolvida por sentimentos que transbordavam e me traspassavam advindos daqueles jovens. Percebi que o desejo deles era de um dia terem a oportunidade de estarem inseridos em uma Universidade.
Ao mesmo tempo que esse desejo era vivo e real, constatei que entorno desse sentimento existia uma força contrária que incitava negativamente aquele desejo. Essa força contrária causava sentimentos de desempoderamento, como se aquele desejo fosse apenas uma quimera.
Logo, reconheci a necessidade em nutrir aquele desejo vivo e real, pois um desejo que perde potência vira frustração e acaba sendo de fato uma ilusão.
Ao finalizar este primeiro contato em devir com aqueles jovens, a professora me agradeceu e começou a dar andamento na aula. Ao término me despedi do grupo, e fui surpreendida por eles ao me perguntarem se eu voltaria a vê-los, respondi que em breve estaríamos novamente os visitando.
Foi um curto período de contato com este ambiente, porém fora de grande valia, pois fui tocada e envolvida por vários sentires.
Finalizo este relato com uma citação de Nietzsche em Assim falou Zaratustra:
“’Eu sou corpo e alma’ – assim fala a criança. E por que não se deveria falar como as crianças? Mas o homem já desperto, o sabedor, diz: ‘Eu sou todo corpo e nada além disso; e alma é somente uma palavra para alguma coisa no corpo’. O corpo é uma grande razão, uma multiplicidade com um único sentido, uma guerra e uma paz, um rebanho e um pastor. Instrumento de teu corpo é, também, a tua pequena razão, meu irmão, à qual chamas ‘espírito’, pequeno instrumento e brinquedo da tua grande razão. ‘Eu’ – dizes; e ufanas-te desta palavra. Mas ainda maior – no que não queres acreditar – é o teu corpo e a sua grande razão: esta não diz eu, mas faz o eu. Aquilo que teus sentidos experimentam, aquilo que o espírito conhece, nunca tem seu fim em si mesmo. [...] Instrumentos e brinquedos, são os sentidos e o espírito; atrás deles acha-se, ainda , o ser próprio. O ser próprio procura também com os olhos dos sentidos, escuta também com os ouvidos do espírito. [...] Atrás de teus pensamentos e sentimentos, meu irmão, acha-se um soberano poderoso, um sábio desconhecido — e chama-se o ser próprio. Mora no teu corpo, é o teu corpo.” (Nietzsche, 1977, p. 51).
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