PSICOLOGIA APLICADA PROPAGANDA E CONSUMISMO INFANTIL
Por: bea.mont • 21/6/2020 • Artigo • 3.291 Palavras (14 Páginas) • 152 Visualizações
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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
PSICOLOGIA APLICADA
PROPAGANDA E CONSUMISMO INFANTIL
Beatriz Monteiro (20161104142)
Débora Neves (20161104164)
Gabriella Benazzi (20161108511)
Kelly Lopes (20161107200)
Rio de Janeiro
2020.1
a.1. Descrever o tema de investigação: importância/justificativa do problema, políticas públicas associadas, dados estatísticos que mostrem a dimensão do tema etc. (até 3 pontos)
Levando-se em consideração a análise das circunstâncias atuais do consumismo infantil, podemos constatar um crescimento acelerado do mesmo, visto que as crianças estão cada vez mais expostas a uma cultura hegemônica do consumismo, tornando-as grandes consumidoras desde muito cedo, produzindo uma ânsia de ter, consumir, acumular e, então, descartar, com toda fluidez e instabilidade que Bauman (2001) propõe a “Modernidade Líquida”. Bauman (2008, p.28-40) também salienta a importância de diferenciarmos consumo e consumismo, uma vez que o consumo sempre esteve presente na humanidade com a finalidade de suprir as necessidades básicas, já o consumismo se refere à aquisição de um produto, normalmente supérfluo, não essencial. O sujeito apenas compra para satisfazer a sua vontade momentânea.
Enquanto isso ocorre, a exploração de recursos naturais está cada vez mais elevada, não sendo vista com seriedade pela humanidade, e podemos dizer, inclusive, que há uma passividade humana perante os acontecimentos que degradam a sociedade e o meio ambiente. Mantém-se a necessidade de se comprar e consumir cada vez mais, em contraste com o tempo de utilização e funcionalidade de um produto, que vem diminuindo radicalmente para que se conserve o grande fluxo de consumo desenfreado.
Pode-se afirmar que houve uma mudança na forma da construção e criação da subjetividade dos nossos valores, visto que até então estes eram majoritariamente transmitidos pela família e pela escola. No entanto, na época atual, a mídia tem apresentado forte influência na propagação de mensagens que contribuem no aumento de bens de consumo para crianças, principalmente através de anúncios introduzidos no universo midiático infantil, onde a criança, atraída pelo conteúdo publicitário, desenvolve um desejo real e legítimo que foi implantado pela mídia. Podemos observar essa situação através de uma pesquisa realizada pelo SPC Brasil (2015) com coleta de dados via web com mães que moram com os filhos com idade entre 2 e 18 anos. Alguns resultados mostram que 64,4% das mães entrevistadas adquirem produtos não necessários solicitados pelos filhos, como brinquedos, roupas e doces, entre outros. Ao mesmo tempo, 59,6% compram coisas sem que os filhos peçam, pelo simples prazer de vê-los usar coisas que gostam. O estudo também mostrou que os maiores influenciadores na hora da compra são os itens licenciados que apresentam personagens, em brinquedos, produtos de material escolar e as roupas e calçados. Além disso, cerca de 36,7% das mães já ficaram endividadas pelas compras que fazem para os filhos.
Em virtude desse contexto, podemos relacionar a perda de subjetividade e autonomia do ser humano, que apenas segue o que o capitalismo decreta, em uma busca competitiva de a todo o momento possuir mais bens do que o outro, tornando o ser humano cada vez mais individualista, sem pensar na preservação da natureza e no bem de seu próximo.
Partindo disso, é necessária uma análise rigorosa das informações expostas que, frequentemente, quebram diversas normas que estão estabelecidas no Código de Defesa do Consumidor e no Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), que abordam questões relacionadas a restrições de conteúdos com apelo imperativo de consumo às crianças, ao não abuso da confiança do consumidor e a não exploração de sua falta de experiência. Tentando dessa forma amenizar os danos causados por determinadas propagandas.
Fiori (2016) traz algumas perspectivas relacionadas à Bakhtin, um filósofo e linguista russo, que conduz a noção de uma realidade em que um indivíduo não existe fora da sociedade, fora de uma língua. Para que se possa emergir como sujeito é necessário que haja um algo a mais para além de sua composição biológica abstrata. Bakhtin destaca o papel das relações intersubjetivas entre o falante e o ‘outro’ como instaurador de uma concepção adequada de linguagem, privilegiando o curso único da história de cada sujeito, em uma sociedade.
Segundo Bakhtin, os sujeitos não adquirem a língua materna; é nela e por meio dela que ocorre o primeiro despertar da consciência, marcada pelo fenômeno social da interação verbal. Para ele o indivíduo não existe fora da sociedade. Além de nascer biologicamente, ele necessita de um nascer social. Ou seja, podemos compreender então que o consumismo não nasce no indivíduo, mas é colocado pela publicidade e pela cultura consumista, e isso acaba sendo absorvido como algo necessário para ele.
Com base nessa seleção de ideias é possível apontar que a construção da língua é processual, assim como os significados que vamos dando às palavras e enunciados, pois é justamente na relação social que estes são construídos, mesmo porque o próprio “ser humano é um signo” (SILVESTRI, 2013, p. 87). No glossário elaborado pelo Grupo de Estudos dos Gêneros do Discurso o signo “não se constitui fora de uma realidade material, mas reflete e refrata outras realidades” (p. 93). Podemos assim, relacionar o signo aos sentidos construídos na interação entre os seres.
Nesse sentido, segundo Bakhtin e Vygotsky (2009, p. 32) apud Rabello (2010, p. 217) “qualquer produto de consumo pode, da mesma forma, ser transformado em signo ideológico”. É importante fazer identificação desses signos, os quais foram infiltrados nas propagandas direcionadas ao público infantil, pelo motivo de que com eles além de conseguir detalhar o mundo, a interpretação também é possibilitada.
Vygotsky e Bakhtin contribuíram ativamente no campo da linguagem e da educação. Ambos os autores entendem a relevância da interação do indivíduo com o meio ambiente e da cultura, que é histórico-social para a construção de significados. De acordo com Rabello (2010, p. 03)
“Vygotsky foi o primeiro psicólogo moderno a sugerir os mecanismos pelos quais a cultura torna-se parte da natureza de cada pessoa ao insistir que as funções psicológicas são um produto de atividade cerebral. Ele enfatizava o processo histórico-social e o papel da linguagem no desenvolvimento do indivíduo. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. Para o teórico, o sujeito é interativo, pois adquire conhecimentos a partir de relações intra e interpessoais e de troca com o meio, a partir de um processo denominado mediação.” (RABELLO, 2010, p 03)
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