Perspectivas de Gênero еm Saúde
Trabalho acadêmico: Perspectivas de Gênero еm Saúde. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: andrecsald • 29/11/2014 • Trabalho acadêmico • 6.897 Palavras (28 Páginas) • 273 Visualizações
Resumo
O autor discute as novas perspectivas sobre gênero que agora se concentram no sexo masculino, já que o sexo feminino foi objeto de discussão nas últimas décadas. O conceito de masculinidade tradicional tem ocasionado mal estar e sofrimento a muitos homens, inclusive nas dificuldades relacionadas com a saúde. Urge portanto uma redefinição.
Conceitua gênero e discorre sobre as perspectivas de gênero em saúde. Descreve a masculinidade hegemônica e como se faz a construção social do homem, o aprendizado de masculinidade e suas relações com a saúde. Considera a família e o gênero e as novas perspectivas de envolvimento paterno. Delineia as ações para o futuro e define os novos paradigmas.
Unitermos: Adolesc Latinoam 2 (2); Adolescência e gênero; sexo masculino; novos conceitos de masculinidade.
Introdução
Vivemos num período de tumulto e transformação, no qual, em todo o mundo, as pessoas se definem, questionam e redefinem seu sentido de identidade – nacional, étnica, religiosa/espiritual, política, familiar, sexual e pessoal. Por muito tempo, mudanças radicais em conceitos foram idealizadas e concebidas, levando-se em conta barreiras muito específicas. Assim, muitas pessoas também estão se liberando de velhas tiranias que vão desde governos repressores até estereótipos, segregação.
Entre as conclusões e recomendações da Conferência Internacional de População e Desenvolvimento (O Cairo, 1994), ratificada na Quarta Conferência Mundial da Mulher (Beijing, 1995), assinalou-se que "os homens desempenham um papel importante para que seja obtida a igualdade de gênero, pois, na maioria das sociedades êles exercem um poder preponderante em quase todos os aspectos da vida, desde as decisões em relação ao tamanho da família a todo o tipo de decisão política e programática".
Até há pouco, considerava-se que as discussões sobre gênero referiam-se exclusivamente a assuntos relacionados com as mulheres, ou seja, ao questionamento das definições fixas e restritivas da feminilidade. As últimas décadas deste século foram testemunhas da intensa atividade dos movimentos das mulheres, que ocasionaram grandes mudanças em diversos campos, inclusive no da Saúde. O movimento feminista deu importante contribuição, pondo em discussão a questão dos gêneros, especialmente a desigualdade entre os mesmos.
Não houve, entretanto, um desenvolvimento paralelo entre os homens. Um muro de silêncio e invisibilidade (Kimmel & Messner, 1989; Korin, 1996) impediu que se enxergassem as conseqüências da masculinidade tradicional e se notasse a existência de mal-estar e sofrimentos nos homens, inclusive os que implicam na sua saúde. Entretanto, diversos grupos de homens nas Américas, Europa, Austrália e Nova Zelândia estão trabalhando, há algum tempo, na tarefa de romper este silêncio e dirigirem-se a um exercício saudável da masculinidade. Organizações como CANTERA (Nicarágua), CORIAC (Coletivo de Homens por Relações Igualitárias, México, DF), FLACSO (Chile), COVIMA (Contra a Violência Masculina (Madri), os Homens de Sevilha, entre outras, estão envolvidas nos desafios da identidade masculina e ao alcance da igualdade de gêneros (ver Referências e Recursos).
O tema deve interessar-nos como pediatras, em virtude da habitual atenção dirigida ao desenvolvimento das crianças e adolescentes e nas ações destinadas a obter o máximo potencial humano, incluindo fazer com que atinjam a vida adulta e a idade avançada no melhor estado de saúde física e mental possível. Isto nos dá oportunidade de facilitar o desenvolvimento saudável de nossos pacientes e prevenir os efeitos nocivos de modelos estereotipados. Compartilhamos um conceito ecológico da Saúde na abordagem dos problemas da Saúde comunitária e, historicamente, lutamos por causas (nem sempre muito populares ou com ausência de resistência) que promovam esse potencial humano e de saúde no indivíduo, na família e na comunidade.
Conceito
Erroneamente, usa-se sexo e gênero como sinônimos. Sexo refere-se à distinção biológica entre homem e mulher. No entanto, gênero compreende a série de significados culturais atribuídos a essas diferenças biológicas. Refere-se aos atributos, funções e relações que transcendem o biológico/reprodutivo e que, construídos social e culturalmente, são atribuídos aos sexos para justificar diferenças e relações de poder/opressão entre os mesmos. É importante assinalar que o gênero varia espacialmente (de uma cultura a outra), temporalmente (em uma mesma cultura há diferentes tempos históricos) e longitudinalmente ( ao longo da vida de um indivíduo).
Bonito Mendez (1998) explica, sucintamente, as diferenças que existem entre os diversos movimentos dos homens. Diferentemente do que ocorreu no movimento da saúde das mulheres, que surgiu a partir da experiência de opressão e da diferença de gêneros, o dos homens foi mais focalizado na genitalidade e na vida sexual. É verdade que existem homens oprimidos, porém, a opressão não está determinada pela qualidade dos homens e sim por outros fatores, tais como a desigualdade econômica, a discriminação e o racismo, a orientação sexual, etc. Na realidade, foram principalmente homens que criaram e mantiveram o sistema de saúde.
Kimmel (1996) destaca a importância de abrir o espaço, examinar as masculinidades e ver o contexto pelo prisma do gênero. Observar, assim, a vida dos homens nos permite considerar o impacto que diversos eventos econômicos, políticos, sociais, culturais e literários tem sobre os homens e sobre as masculinidades. Da mesma forma, isto possibilita explorar o milagre de uma visão unitária da masculinidade sob a forma de um arco íris de distintas cores, texturas e sombras.
Gênero e saúde
Perspectiva de gênero
A perspectiva ecológica de Bronfenbrenner (1986, 1987) reconhece o grau em que as condutas e os valores são influenciados diretamente, ou não, por aspectos dos diversos contextos onde estão incluídas as pessoas, suas famílias e suas comunidades. Neste sentido, para compreender os processos de desenvolvimento humano, é necessário entender a interação entre os fatores biológicos e as influências socioculturais que determinam as diferenças entre os sexos.
Gênero é um aspecto raramente mencionado na medicina e em outras disciplinas da Saúde. Em função das mudanças anteriormente mencionadas (em particular
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