Perturbações do Desenvolvimento - Anorexia
Por: Júlia Mello • 23/6/2019 • Trabalho acadêmico • 4.806 Palavras (20 Páginas) • 134 Visualizações
Resumo
O relatório aqui representado tem por objetivo fazer uma breve análise sobre o filme “To The Bone’’ ou o ‘’Mínimo para viver’’, tendo em consideração uma abordagem sistémica dentro do contexto da terapia familiar.
O filme analisado conta a história de Ellen, uma jovem de 20 anos, diagnosticada com anorexia nervosa, e de sua família. Juntos procuram encontrar a cura deste transtorno enquanto também lidam com as crises normativas dentro do próprio ciclo vital familiar.
Em suma, tendo em vista a multiplicidade de tratamentos e abordagens na psicologia e psiquiatria em relação a anorexia nervosa, surgiu na literatura a importância da inclusão da família e da terapia família o mais precocemente possível no tratamento, ponto que pretendemos abordar neste relatório.
Palavras chave: Anorexia nervosa, transtornos alimentares, terapia familiar.
Índice
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . |
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I - Enquadramento conceptual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . |
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II- Apresentação e discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . |
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III- Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . | |
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . |
Introdução
I- Enquadramento Conceptual
Um dos grandes transtornos da sociedade atual é a anorexia nervosa, assim como outros transtornos alimentares. [a]É possível pensar que a cultura contemporânea, que preza pela magreza, pode ser um dos grandes fatores para o aparecimento dessa doença, [b]entretanto[c] é possível encontrar casos registrados desde o século XVII, o que demonstra a complexidade e multifatoriedade deste transtorno, uma vez que o corpo magro não era valorizado em todas as épocas [d]em que a anorexia nervosa está presente.
“Os transtornos alimentares são caracterizados por uma perturbação persistente na alimentação ou no comportamento relacionado à alimentação que resulta no consumo ou na absorção alterada de alimentos e que compromete significativamente a saúde física ou o funcionamento psicossocial.” ( American Psychiatric Association, 2013, p.369)
A Anorexia Nervosa é um dos tipos de transtornos alimentares existentes [e]e, segundo o DSM V (APA, 2013), possui três características essenciais: continua restrição na alimentação; medo intenso de ganhar peso; e perturbação na percepção do próprio peso ou da própria forma. [f]Por causa desses sintomas o indivíduo tem o seu peso muito abaixo do que é considerável saudável para sua idade, gênero, trajetória do desenvolvimento e saúde física. Há dois subtipos dentro dessa classificação: o tipo restritivo e o compulsão alimentar purgativa. O primeiro tipo é caracterizado como: durante os últimos três meses, a perda de peso foi conseguida por meio de dieta, jejum e/ou exercício excessivo, entretanto não recorre regularmente a ingestão compulsiva de alimentos nem a purgantes, por exemplo, vómito ou mistura de laxantes, diuréticos e enemas. O subtipo de compulsão alimentar purgativa, o indivíduo teve episódios recorrentes de compulsão, nos quais come em demasia, seguido por utilização de purgativos, junto a isso há períodos de compensação no qual faz jejum ou dieta muito restritiva.
O medo intenso que esses indivíduos têm de engordar não é aliviado pela perda de peso, é possível que a preocupação aumente com o emagrecimento.Esse medo intenso de engordar não costuma ser aliviado pela perda de peso. [g]Na verdade, a preocupação acerca do peso pode aumentar até mesmo se o peso diminuir, e muitas vezes esse medo pode não ser percebido pelo sujeito, principalmente em jovens, uma vez que a vivência e a significância da forma corporal e do peso são distorcidas- o que significa que alguns podem se sentir acima do peso, ou até perceber a sua magreza, mas ainda assim se preocupam com determinadas partes do corpo, como abdômen, glúteos e o quadril (APA, 2013).[h]
As características diagnósticas desta nosologia são conhecidas pelos médicos e profissionais da área, entretanto por ter múltiplas causas e ser muito complexa, não há um tratamento único ou uma cura por medicação. Andersen (1985) dividiu os múltiplos fatores influenciadores em: psicológicos, sociais, familiares, biológicos, comportamentais e de desenvolvimento (como citado em Gameiro, 1994, p. 126).
A psicologia faz uma leitura do transtorno em que é utilizado como uma defesa contra as ansiedades da adolescência, relacionado ao desenvolvimento psicossexual desta fase, assim como relaciona com uma dificuldade de individualização junto a família, pouca autonomia e um senso de valor deficiente. A teoria desenvolvimental se aproxima com a psicológica, uma vez que interpreta a anorexia como um bloqueio na adolescência, uma das fases maturacionais mais importantes do ciclo vital. Outras teorias, como as sociais, explicam os aspectos culturais presentes na doença, como as sociedades que privilegiam o corpo magro, assim como as profissões que o corpo tem muita importância (dançarinas, modelos, esportistas…); ao se pensar de uma perspectiva comportamental, o ato de se recusar a comer está relacionado com a aprendizagem em que o reforço está interligado a cultura contextual.
Enquanto a teoria biológica explica o déficit hipotalâmico que atrapalha o funcionamento hormonal de todo o corpo, gerando os sintomas, as teorias com uma perspectiva familiar, amplia o olhar para além do paciente identificado com o sintoma, pois ele faz parte de uma família perturbada.[i]
O foco deste relatório será na perspectiva da família [j]e como ela se relaciona com a anorexia nervosa[k]. A “família perturbada” foi descrita por Minuchin, utilizando uma concepção estrutural de família (1978, p.30-33), como famílias psicossomáticas, a sua observação desse tipo de família no contexto hospitalar e clínico, o permitiu classificar [l]suas quatro características principais: aglutinamento, os membros da família são demasiado próximos, quase não há limites; superproteção que se mostra em uma preocupação exacerbada do bem-estar dos outros membros (não só o sintomático); rigidez em manter o status quo, ou seja, tem grande dificuldade em mudar seus padrões mesmo em períodos do ciclo de vida que isso é esperado (por exemplo, a adolescência dos filhos); e, levando em conta os outros três aspectos, essa família evita conflitos entre os membros, podendo utilizar um código de ética muito rígido para assim o fazer, desta forma os problemas nunca são abordados, ficando sempre presentes e nunca resolvidos.
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