Poema - Atividade

Não conseguia manter meus olhos abertos enquanto tentava acordar. Minha visão estava embaçada, como se houvesse uma membrana suja colada em minha retina. Sentia-me enjoado. Estava deitado de barriga para baixo em… Areia? O calor estava insuportável. Virei meu corpo para cima e senti uma ardência cortante em minhas costas, queimando. Não sabia há quanto tempo estava li, nem que lugar era aquele. A areia fervia como brasa. O Sol havia atingido seu ponto máximo no céu e era devastador. Meu corpo doía e eu não conseguia levantar, meus braços esticados para os lados e pernas abertas e imóveis. Apenas um corpo coberto de areia no meio daquele deserto.

O cansaço parecia me vencer e meus olhos começavam a se fechar. Foi quando começou. Em um instante o dia virou noite, o Sol virou Lua, a areia quente tornou-se fria e o calor virou um vento forte, gélido e cortante. Cada membro do meu corpo -- músculos e ossos -- amoleceram como se tivessem virado uma espécie de líquido viscoso. Nessa forma eu me retorcia de maneira surreal, mas com agilidade. A sensação era nauseante e intolerável. Mas acabou tão de repente quanto começou. Em menos de um segundo -- como se alguém tivesse simplesmente apertado um interruptor -- havia sol, areia quente e calor outra vez e eu estava de pé, cambaleando, com areia arranhando minha garganta, a sola do pé fervendo dentro da bota enquanto o sol rachante erodia minha cabeça. Eu era um zumbi naquele deserto. Meus olhos ainda tentavam se livrar daquela visão confusa quando percebi que eu não tinha controle sobre nada. Meu corpo caminhava, não eu.

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